28.2.05

O POUCO QUE SABEMOS.









Sabemos muito pouco.
Eu, você...
Ignoramos o quanto.
E jamais saberemos as conseqüências e/ou
seqüelas resultantes deste não saber.
Para muitos preocupar-se com o que não
sabemos é estupidez.
Para mim angústia.
Para você, tanto faz.
Cada cabeça uma sentença, é o que se diz.
E eu penso: quero juntar essas sentenças,
montar uma estória, revelar segredos.
Fazer chegar ao outro, partículas de outros tantos.
Recolher as sobras. Preencher vazios.
Evitar desperdícios. Dividir excessos.
Você se espantaria com as descobertas.
Eu também.
Mesmo assim continuaríamos ignorantes, você diria.
Um pouco menos. Talvez.
E eu, certamente teria novas estórias para contar.


26.2.05

ORAÇÃO DO DESCRENTE.











Pai nosso,
dai-me a vontade para
querer acreditar,
na existência do senhor.
Dai-me a vontade,
para querer acreditar,
na existência da divindade.
Dai-me a vontade
para querer acreditar
na existência da vossa vontade.
Faça me crer
que ela seja
nada mais que a bondade.
Pai nosso,
dai-me a vontade para
aceitá-lo todo poderoso
e chamá-lo Deus.
Tanto na terra como no céu.
E por último
e derradeiro desejo,
a vontade,
apenas a vontade,
nada mais que a vontade
de livrar-me da tentação
de não querer tê-la.



25.2.05

PODE SER NADA.










Pode ser tudo.
O que você quiser.
Quadraturas.
Planetas retrógrados.
Restos de um pó astral
de efeito moral.
Não sei. Não quero saber.
Cansei de esperar.
os efeitos passarem.
Observo. O atraso.
Sem intenções de entender.
Compreender não é antídoto.
É compreender. Só isso.
E eu cansei. Por isso.
Pode ser tudo.
O que você quiser.
Ou nada.
Como eu quero agora.
Nada.
Porque não existe nada.
Que me prove o contrário.
Que não seja o atraso.
Por isso. Eu cansei.
Pode ser tudo.
O que você quiser.
Ou nada.
Como eu quero agora.

24.2.05

PESQUISA








Li matéria sobre pesquisa feita pelo IBGE
a respeito da desigualdade social no país.
O título dizia que a diferença entre as rendas
dos mais pobres e dos ricos caiu no último ano.
Antes de ler, já imaginava os motivos.
São claros e estão aí nas ruas e entre conhecidos
para atestar a veracidade. A pesquisa mostra
que a diferença caiu porque os mais ricos
estão ganhando menos e os mais pobres ainda
menos do que a miséria que ganhavam. Por isso
a diferença estreitou. Porquê todos estão
empobrecendo, e não como era de se desejar,
porque a renda dos mais pobres foi elevada.
Estamos empobrecendo no geral.
Independente do partido que está no poder.
O país empobrece dia a dia visivelmente.
Economicamente e por conseqüência, culturalmente,
socialmente, politicamente (com exceção dos políticos
cada vez mais ricos). Abra os jornais ou assista televisão,
tudo o que temos é uma alternância entre crimes-sequestros
falcatruas e corrupção. O resto é pura maquiagem.
Estória para boi dormir. Nada, em absoluto mudou para
melhor, exceto os dados numéricos fornecidos pelo IBGE.
Que são esses aí que eu acabo de contar a vocês.

22.2.05

QUERIDINHAS.










No caminho, entre o shopping e o apê,
Ela preferiu carregar Kika no colo.
Não queria que ela sujasse as patinhas.
Kika agradeceu lambendo-lhe o pescoço
e o rosto. As duas eram levinhas.
Kika, assim como Ela, comia muito pouco.
Exceto nas vezes em que Ela resolvia comer
chocolates. Aí sim Kika ultrapassava Ela na
quantidade. As duas se lambuzavam.
Dividiam bombons e, algumas horas depois,
também a dor de barriga. Ela corria ao banheiro.
Kika por sua vez, era obrigada a esperar.
Assim que Ela se sentia aliviada, era a vez de Kika.
As duas corriam para a rua e Kika se aliviava tão logo
botava as patinhas na calçada. Um ritual quase
catártico, no sentido psicanalítico da palavra.
Depois tanto uma como a outra
não queria ouvir falar de chocolates. Uma voltava
para suas folhas de alface, e a outra para sua ração.
Um horror dizia Ela para si mesma enquanto Kika
abanava o rabinho. Mantinham segredo sobre isso.
Ninguém deveria saber. Nem mesmo Janete, a cabeleireira.
Janete é boa profissional, mas fala demais, elas costumavam
comentar entre si. E hoje era dia dela vir no apê.
Cuidariam da aparência. E Janete era boa nisso.
Deixaria as duas prontas para a exposição pública.
Fariam cabelos e unhas. Uma esperaria pela outra.
Antes de começar o trabalho, serviriam biscoitos a Janete.
Ela os adorava. Dizia serem os mais crocantes que
já comera em toda a sua vida.
Kika abanava o rabinho de tão feliz.
Era verdade. Não havia no mundo
biscoitos tão saborosos como aqueles.
Ela, dizia serem importados. Um amigo trazia do
Duty Free. Janete ficava impressionada.
Mastigava-os ainda com mais prazer.
Kika por sua vez sabia que eles saíam de
dentro de seu saco de ração.
Mas tudo bem. Não se importava com pequenezas.

Afinal, Ela também dividia seus chocolates com ela.

21.2.05

ALECRIM.










Acendo um incenso de alecrim e uma vela.
Para a semana. Abrir caminhos e descarregar ambientes.
Essa é a intenção. O envio do “trabalho”
não tem endereço certo.
Eu sei. Eu sinto. Eu rezo.
Agradeço e peço por mais fé.
No que virá.
Eu, cidadão do novo mundo,
contemporâneo e seguidor de teorias da razão,
acredito que é preciso ter fé.
Não gosto da última frase. É preciso ter fé me
deixa inseguro. Sempre pensei que ela estaria aqui,
dentro de mim, a fé. Sem esforço. Assim, como o
ato da respiração.
Eu sei. Eu sinto. Eu rezo para não pensar
o tempo todo sobre ela.
É preciso ter fé me incomoda.
Mas mesmo assim. Tento.
Acendo um incenso de alecrim e uma vela.
Para a semana. Abrir caminhos e descarregar ambientes.
Essa é a intenção.


20.2.05

OS SEVERINOS.

É isso. Os Severinos. Nada é mais sintomático
e representa a atual(?) realidade do país do que
a eleição de um homem como Severino Cavalcanti
para a presidência da Câmara dos Deputados.
Sujeito que há mais de três décadas mama nas
tetas do estado e vive as custas do povo e nunca fez
nada para merecer tanta regalia. Foi eleito por maioria.
Maioria esta conivente com as manobras e conluios que
nada mais são do que tirar vantagens de situações para
enriquecer os próprios bolsos. Gente ruim, de péssimos
princípios (se é que é possível se falar em péssimos princípios),
que não conhecem ética e moral, apenas
vantagens. Um reacionário morto-vivo que prometeu
antes de ser eleito, aumentar ainda mais os salários
dos deputados em 50%. Enquanto que aposentados
e trabalhadores são obrigados a ouvir sobre os problemas
que um aumento de 30 reais causaria para a economia do
país. Bando de urubus a espera da carniça.
O próprio Severino, nordestino, deveria fazer um passeio
pelo país (desses tipo caravana que o Lula adora fazer)
para ver que as "bases" que ele pretende atender, não
estão na câmara dos deputados, mas sim nas ruas comendo,
morando, e vivendo abaixo dos limites da pobreza.
Sem falar de suas opiniões reacionárias e burras.
Todos perdemos. Não apenas o PT, que mais uma
vez indicou o homem errado para concorrer a presidência
da câmara. O Brasil perde mais uma vez. E perde sempre.
Como estamos cansados de ver e saber.
Nós, habitantes do "país do futuro" sabemos
que com esses representantes todos, incluidos
os excepcionais auto intitulados
militantes-políticos-teóricos-da-esquerda(?)
e-da-direita(?)-e-afins, que agora estão
no poder, continuaremos a denominar
o país onde vivemos realmente de
país do futuro. Quem sabe no próximo milênio...
.

19.2.05

BRASIS.




Ao ler matéria jornalística sobre o feudal
e brutal conflito pela posse de terra no Pará,
deparei com alguns nomes das pessoas envolvidas.
Sem faltar com o respeito a tragédia, vamos a eles:
Vitalmiro, Francimone, Melidete, Cleone.
Um outro Brasil realmente.

17.2.05

PEQUENA DIFERENÇA.

Se todos os dias fossem iguais
não poderiamos dizer todos os dias,
"amanhã serei ainda mais feliz".

16.2.05

REVISTA LITERÁRIA.









Estou feliz e gostaria de dividir
essa felicidade com todos os meus leitores.
Meu conto "BONEQUINHOS"
foi publicado na 13ª edição da
revista literária Bestiário.
Para ler o conto, basta clicar
em Contos Inéditos no meu
próprio blog, ou acessar a
revista no site http://www.bestiario.com.br

15.2.05

PENSEI NOS HOMENS.










Pensei nos homens
a perambularem,
pelas ruas, solitários,
em busca de amor.
Insatisfeitos. Solitários.
Em busca de amor,
ou do que se assemelhe a ele.
Pensei em nós solitários
que já nos temos e somos.
Satisfeitos.
Com o que acreditamos.
Insatisfeitos.
Com o que acreditamos
ainda possa ou venha a ser.
Pensei em nós,
homens solitários.
Acreditantes.
Insatisfeitos.
Em busca de sonhos
e metas, e formas ideais.
Pensei em nós,
homens, pobres coitados,
enganados e satisfeitos.
Pensei em nós,
ovelhas bípedes,

de óculos escuros,
a blindar a luz do sol.
Pensei em nós,
homens mísseis
em busca do alvo,
ignorantes da dor.
Pensei em nós,
homens,
insatisfeitos,
em busca do amor.




14.2.05

BEBÊ A BORDO.

Um novo blog só de fotografias da
cidade de São Paulo acaba de nascer.
As primeiras fotos são muito boas e me
surpreenderam. Ventania e Casa de Barro
por exemplo, são lindas e mostram
recortes desconhecidos da cidade.
De uma olhadinha nele:
www.sanpablo-sp.blogspot.com
Parabéns ao fotógrafo!

AVIADOR MIRIM.









Fui assistir ao Aviador. Não gostei.
Fora os efeitos especiais das cenas em que os
aviões parecem voar sobre nossas cabeças,
o filme é desinteressante. A começar pelo
protagonista principal. Leonardo Di Caprio não
tem physique-du-rôle. Voz de adolescente e americano
caipira, corpo de tísico, um horror. Deveria esperar
até envelhecer para filmar qualquer outra coisa.
Ou se preferir trabalhar com Spielberg até envelhecer.
Além do mais, a forma dada a biografia de Howard Hughes
não emociona. Filme feito por Hollywood para Hollywood.
Com certeza vai arrebatar alguns Oscars, mas se dependesse

de mim mereceria apenas o de melhor produção.

13.2.05

NOVO CONTO!!!

Tem novo conto no Empalavrado.
É só clicar em "SE EU TIVESSE UM PAU..."
ao lado, em CONTOS INÉDITOS.
Boa Leitura! Comentários são sempre
bem vindos.

12.2.05

EM EXTINÇÃO.









Vou começar devagar. Falo baixinho. Sussurro.
Sou uma porcelana. Uma peça raríssima. Biscuit.
Ao meu redor hipopótamos, rinocerontes, elefantes.
Eu. Solitária. Ilhada. E com medo. Muito medo.
Ciente da situação. Um esbarrão e pronto.
Deixo de existir.
Eles nem vão notar o estrago. Estrago? Que estrago?
Não represento nada. Nem sabem o que sou.
O que diriam de mim? E quem sou eu mesma?
Não sei. Estou perdida. No meio de tantos, ah tantos, tantos...
Animais pesados. Brutamontes enormes e barulhentos.
Perdi todas as minhas referências.
Sei que me consideravam sublime. Não faz muito tempo.
Elegantemente simples. Refinada.
Era admirada por todos. Tocada d-e-l-i-c-a-d-a-m-e-n-t-e.
Por todos. Mas isso é passado. E o que é o passado?
Para eles? O passado? O que é isso? Pode comer?
Sobrevivo. Pequenina. No meio deles. Ilhada.
Ouço o som de suas batucadas. Vejo o requebrado vulgar.
As risadas. Os arrotos e o ruído do palitar dos dentes.
Sou uma sobrevivente. Peça única. Exemplar.
Sobrevivo por um acaso. Por instinto.
E porquê são altos demais. Fortes demais. Grandes demais.
Não me notam. Não me vêem. Não me percebem.
Eu. Pequenina porcelana delicada quase nem respiro.
Paciente. Espero a manada passar. Vai passar.
Eu sei. Tudo passa. E a manada vai passar também.

11.2.05

TUDO-QUE-EU-QUERO-AGORA.










Acho que não vou suportar.
Acho que não.
Não vou conseguir me controlar.
Não vou.
Um beijo é tudo que eu quero agora.
Um beijo.
Enfiar minha língua dentro de sua boca e guerrear.
Simples e difícil.
E mentira.
Porque não é só isso. Tudo que eu quero agora.
É mais. É tudo. É agora.
Você sabe.
Depois do beijo o desejo se alastra pelo corpo e fica quase
impossível controlá-lo.
Quase.
E eu não suporto os quases.
Os quases não chegam aos fins.
E então eu me sinto no meio do caminho.
Entende?
No meio do caminho.
Você sabe.
Tudo que eu quero agora.
Não ficar no meio do caminho.
É tudo-que-eu-quero-agora.
E mais um pouco.
O que vem depois.
O excesso.
Que pra mim não é supérfluo.
Faz parte de tudo-que-eu-quero-agora.
Na mão.
No chão.
Nas coxas.
Sobre o ventre ou dentro de você.

8.2.05

IT NA HORIZONTAL.











Nem menina nem menino. Um ser. It.
Pedaço de vida. Bundinha pequena, durinha.
Cabelinho curto, soldadinho de chumbo.
Decidida(o), insinuou-se todo(a) pro velho.
Delícia. Meu nome é… O coroa desviou.
Fugiu. O piercing na ponta da língua.
Avançou. Pro batuque. Mais perto da roda.
Latinha na mão. Desliza o pagode.
Beleza. Beleza meírrmão, e aí?
Carinha ta pegando fogo. Pau na mão.
Vamo nessa. Me beija na boca.
Legal. Maneiro o metal. Arrepiô.
Fresquinho, fresquinho.
Vou te mostrar meu tatoo. No apê.
Maneiro.
Na vertical. Só.
Vai rolar.
Tu vem por cima do Mingau.
Maneiro.
Tu é gostosinha.
Gostosinho.
Só. Tu num viu nada ainda.
Posso imaginar.
Carinha vai incendiar. Vai ficar maluco.
Beleza. Na horizontal.
Só.
Na horizontal.






3.2.05

VENTO FORTE.










Vento forte
vem de longe,
leste-oeste,
norte-sul.
Traz avisos,
vida nova,
e a morte
de velhos tabus.

Vento forte
vem de longe,
leste-oeste,
norte-sul.
Faz notícias
e registros,
e o nascimento
de novos tabus.

Vento forte
va embora,
leva a morte
e deixa a vida,
Va embora
vento forte,
leva o azar
e deixa a sorte.


2.2.05

SENCHÁ.










Consultório psicanalítico.
Sala 3. Fim de tarde.
O doutor tem os olhos fixos sobre o paciente.
O paciente procura palavras para explicar o seu cansaço.
Diz que está cansado. De tudo.
De recomeçar tudo todos os dias. Explica que recomeçar
no seu caso quer dizer o mesmo que nada. Recomeçar
diz o paciente, não quer dizer coisas práticas, mas crenças.
E crenças não surgem assim do nada. É preciso ignorar
a razão. A lógica e a razão. E ele não consegue.
Não quer mais apenas acreditar, assim, fazer de conta, fingir.
Não quer mais. Não. Quer. Mais. Fingir. Acreditar.
O doutor ainda mantém o olhar sobre o paciente. Mas seu
pensamento está em outro lugar. Descruza as pernas e acende
um cigarro. Paris. Casa de chá, antiquário, rue du Bourg-Tibourg
numerrrro, numerrro, tenta se lembrar e não consegue,
numerrro, numerrro. La Grande Tradition, Les Meilleurs Crus.
O paciente já parou de falar e o doutor não percebeu.
Continua olhando fixamente para ele.
O paciente se levanta. Toca o ombro esquerdo do doutor
e pergunta se ele está bem. O doutor dá um sorriso e
imediatamente se lembra. Fondée em 1854, numerrro 30.
É isso meu caro diz o doutor ao mesmo tempo.
O paciente aguarda. O doutor se levanta e lhe dá um
abraço. Eu também, ele diz. Eu também cansei.
Estou cansado. Preciso de um chá. Você precisa de um chá.
Precisamos de um chá. O mundo precisa de um chá.
O doutor abre a porta. O paciente vai embora.
O céu escurece rapidamente. Chove forte.
O paciente se esconde sob a marquise de uma alfaiataria.
Olha os tecidos na vitrine, cumprimenta o artesão.
Príncipe inglês. Schotische karo. Salz und Pfeffer.
Seus pés estão encharcados. Um banho quente era
tudo que precisava agora. Um banho quente.
O doutor dá um gole em seu Sencha Midori. Respira fundo.
Graças a Deus, Graças a Deus.

O QUE VEM DEPOIS.









Ontem:
“Ser ou não ser, eis a questão.”

Hoje:
“Ter ou não ter, eis a questão.”

Amanhã:
“Nem sou nem tenho, me
resolve a questão.”

1.2.05

RODA VIVA.










“A bússola! A bússola!” Alguém gritou.

Deixaram de comer os canapés e apoiaram
as taças de champanhe sobre o elegante
piano de cauda.

“A bússola! A bússola!” Um por um, os presentes
começaram a gritar.

Teve gente que se jogou lá de cima.

PRA VER A BANDA PASSAR...










Acabo de voltar do desfile da Banda Redonda.
Pra quem ainda não sabe (existe há 31 anos), ela
sai sempre na segunda feira que antecede a semana de
carnaval.Talvez ainda seja a única realmente original
aqui em S.P. Tem banda ao vivo com puxadores de samba.
Ainda conserva o ar dos tempos saudáveis do carnaval de rua.
Tudo começou com uma reunião de artistas. Hoje ela é
Multi-tudo. Tem gente de tudo quanto é tipo, cor, dna e
preferência sexual. Uma grande fauna humana, digamos assim.
Não seria possível defini-la, por exemplo, como GLST ou qualquer
outra coisa. Seria preciso o abecedário inteiro. Ela atravessa a cidade.
Pacificamente. Apesar da miscelânea humana e dos foliões um
pouco mais ousados. Ainda é divertida. E antes de tudo, faz
as lembranças das pessoas que eu amo muito retornarem a um tempo
no qual ainda era possível se divertir sem medo. Lembranças que
vira e mexe surgem na superfície da memória dessas pessoas e
que eu não gostaria que sumissem para sempre. É sim manifestação
popular. É sim um pedaço de nós que ecoa da boca de cada um que
lá está a cantar as velhas marchinhas de carnaval. E elas são tão
melancólicas, essas marchinhas, cantadas assim, em coro pela
multidão que se diz alegre. “Oh quanto riso, oh quanta alegria,
mais de mil palhaços no salão, a alegria está chorando pelo amor

da colombina no meio da multidão”