13.2.10

ATEMPORAL

Ontem o canal de televisao Arte (um canal franco alemao) transmitiu ao vivo a apresentacao do filme Metropolis do Fritz Lang. O filme foi transmitido na íntegra pela primeira vez depois da descoberta de uma cópia sem cortes em Buenos Aires, e a trilha sonora foi tocada ao vivo pela orquestra da radio Berlinense. Eu conhecia Metropolis colorido e com trilha sonora feita por Fred Mercuri entre outros. O filme em preto e branco é infinitamente mais rico que o que conhecia e nao da para deixar de pensar em como muitos outros filmes, como por exemplo Blade Runner, se alimentaram de suas ideias. Depois da exibicao, ainda pudemos assistir a entrevistas com os descobridores da fita do Museu do cinema em Buenos Aires e com o próprio Fritz Lang. O filme havia sido mutilado em 1927 por distribuidores alemaes e americanos e foi descoberto por acaso na Argentina depois de 81 anos. Uma preciosidade bem como a entrevista com Fritz Lang, elegantésimo, vestido com um terno risca de giz, falando alemao com seu sotaque vienense e afirmando que foi desencorajado muitas vezes enquanto tentava captar recursos e tambem quando fazia o filme. Ainda bem que insistiu e acreditou em suas ideias, alias uma sucessao de previsoes do que ocorreria no mundo nas decadas seguintes. (escrevo de um pequeno notebook cujo teclado nao corresponde ao da lingua portuguesa, portanto, ignorem a falta de acentos e etc)

Segunda (dia 15) a noite assistirei Daniel Barenboin na Sala Pleyel. Por acaso, passava por ela quando vi uma fila enorme que imaginei seria para a apresentacao da Boston Symphony com regencia de James Levine. Mas vejam só, a crise pegou a orquestra de frente, ela perdeu seus principais patrocinadores e teve que cancelar a tourné europeia. Quel domage! Mas para minha sorte, parei, entrei, e consegui um ingresso para ver Barenboin na segunda a noite. Uma querida amiga insiste em dizer que nasci com o bumbum para a lua, as vezes (mas so as vezes, porque trabalho muito para que a sorte fique do meu lado) sou obrigado a aceitar. No programa somente Chopin e o mocinho no piano. Por outro lado, nao consegui ingressos para a Filarmonica de Berlin dirigida por Simon Ratle, queria muito ouvir Brahms tocado pela berliner, mas vou insistir, o bilheteiro disse que é possivel encontrar ingressos de ultima hora, para tanto, se quiser, terei que estar lá na noite de apresentacao, se tiver saco irei, senao, fica para a proxima.

Hoje há uma materia no Le Monde sobre o iPad. O autor escreve com ironia sobre o novo meio de leitura e suas possibilidades, e sobre a disputa entre Amazon, Google e Apple. Como controlar essas empresas e os editores que irao depender deles e etc... Sinceramente me sinto um pouco retrô em relacao ao livro eletrônico e outras mídias. Nao tenho vontade de trocar meus livros de papel por uma caixinha com uma biblioteca dentro. Gosto do livro, do papel, dos varios formatos, do cheiro, das bibliotecas entupidas de livros e de folheá-los. Ainda ontem havia pensado sobre como o livro eletrônico vai mudar a paisagem nos metrôs. Fiquei tentando imaginar todas essas pessoas que hoje carregam seus livros e concentradas os lêem enquanto viajam de um lugar a outro, carregando seus livros eletrônicos de plástico, uma coisa antiséptica, que deverá ser limpada com um paninho umidecido em alcool. Sei que as novas tecnologias acabam sendo integradas na vida cotidiana e a gente acaba nem se lembrando do que ficou para trás, mas eu nao gostaria de viver sem o livro de papel, acho que muito do mundo sensorial se perde. Em alguns momentos me pareco com um desses velhos que nao quer ver seu universo alterado, o velho sofá deve continuar no mesmo lugar, nem pensar em mudar o estofado, frequentar o mesmo restaurante por décadas, fazer as refeicoes na hora certa, enfim, sinto que também estou sendo atropelado por novas tecnologias. Envelheco, mas nao quero que o mundo comece a me agredir com suas invencoes pouco romanticas. Sorry.

Um comentário:

Lícia disse...

Amadureço querido. Mais pertinente.
Mórrrrr apoio!!!
Lícia