30.7.10

PLANO B

No verão aqui na França os lançamentos de novos filmes são raros e a programação na tv é ainda pior. Séries horríveis ou filminhos leves tipo sessão da tarde com Elvis Presley ou coisa parecida. Mais ou menos como no Brasil quando nos aproximamos do fim do ano e das férias escolares. São poucos os bons filmes em cartaz, a maioria tem por objetivo conquistar o público infantil, as óperas e bons concertos tiram férias e teatro agora nem pensar. Vacances, vacances, vacances, só se pensa nisso, férias de verão, praia e sol. Mas alguns atrevidos não pensam assim e lançam seus filmes mesmo com o sol a pino. É o caso de “Plan B” um filme do jovem diretor argentino chamado Marco Berger que entrou em cartaz essa semana. Sessão das 15:55, sala lotada. Um filme intimista, ou melhor, que trata do universo particular dos personagens, característica dos filmes argentinos que na maioria dos casos é sinônimo de qualidade. O filme conta a história de Bruno, que para recuperar Laura sua namorada, que está tendo um caso paralelo com Paolo desenvolve um plano maquiavélico. Os dois atores são excelentes, o que não mais me surpreende no cinema argentino, a quantidade de bons atores que eles revelam em cada novo filme tornou-se natural e evidente. Tecnicamente o filme tem essa cara de alternativo, feito em casa com poucos recursos, iluminação quase sempre estourada, planos seqüência fixos, ou muito fechados ou muito abertos e algumas cenas belíssimas de erotismo. Mas o grande mérito do filme está no roteiro bem escrito, mesmo quando por vezes durante a sessão eu pensei que algumas passagens não teriam sido necessárias e prejudicaram o andamento da história. O filme poderia ser mais ágil, não fossem algumas cenas supérfluas e excessivamente lentas, no limite, o que provoca uma certa impaciência e vontade de ter um controle remoto na mão para apressar a coisa. Também não entendi os planos seqüências fixos em que os topos dos prédios são mostrados por alguns minutos tendo como fundo sonoro o barulho abafado de aviões entre as cenas, não sei o que o diretor quis nos dizer com essas cenas. Mas voltando ao mérito do filme que é o bom roteiro, você tem que esperar até o final para entender toda a história. Sai do filme gostando dele principalmente por que ele te leva a refletir sobre as ciladas da vida, e porque valeu não ter tido um controle remoto na mão.

28.7.10

OS CAUCASIANOS

O supra sumo do politicamente correto: na França não pega bem chamar os ciganos de ciganos, aqui eles são oficialmente chamados de “gens de voyage”, que poderia ser traduzido para viajantes ou gente que viaja. Hipocrisia à parte, os gipsys franceses e seus familiaes estão sendo deslocados de um estacionamento onde fincaram seus trailers nos arredores de Paris. Os vizinhos não ficaram nada felizes e chamaram a polícia. Por sua vez os ciganos chamaram a imprensa que botou a boca no trombone, mas ninguém quis saber. Virou joguete político. O ministro do interior justificou-se publicamente: lei é lei e ela vale para todo mundo. Vão ter que seguir viagem. Vivenciei a mesma situação quando morava na Áustria na década de 90. O governo austríaco teve a mesma reação e argumento, mas ao contrário daqui foi chamado de nazista por um jornal húngaro e outras entidades. O passado condena.

Para continuar no “zeitgeist”: os catalães decidiram proibir as touradas na região. Vi a reação de alguns entrevistados em Barcelona, a que mais me chamou a atenção saiu da boca de um jovem que disse que já estava na hora do país se civilizar. Está bem. Mas aquele pega-pega de touros contra o populacho que acontece todo ano nas ruas, onde os touros têm a chance de descontar sua raiva chifrando ou pisando em cima do primeiro idiota que cruzar a sua frente, continua valendo. Ah, aquela outra festa onde eles promovem uma guerra de tomates também continua valendo.

26.7.10

CHAPEAU!

O homem viveu quase cem anos, morreu há apenas um e deixou um imenso registro fotográfico. Das exposições de fotografia que tenho visto aqui em Paris essa foi uma das que mais me tocou. O nome dele: Willy Ronis. Quatro salas repletas de fotografias expostas no Monnais de Paris, o museu da moeda que fica no quai de Conti nas bordas da rive gauche. O que me fascina em seu trabalho, além do olhar refinado diante do cotidiano, é a capacidade de fazer da observação uma obra de arte. Essa seria minha profissão ideal, passar horas do dia observando e salvando imagens na memória. De alguma forma faço isso como escritor, uma remuneração seria ideal. Ronis era Judeu, filho de pai também fotógrafo e mãe musicista, fotografou para várias revistas como Regards, Vogue, Life e Time Magazine, foi amigo de Capa, Brassaï, Sartre e por último e mais importante, foi um grande contador de histórias. Essa faceta fica evidente em seus registros, fotos que tem esse poder da narrativa. Algumas dessas fotos são tão bem enquadradas que você chega a duvidar da espontaneidade delas. Obras de arte em negativos, mesmo naquelas em que registra greves em fábricas ou trabalhadores em ação, o olhar apurado transparece. Repare nas fotos abaixo, e na primeira em especial na qual um grupo de pessoas observa um quadro no Louvre, ele as fotografou de tal maneira que as incluiu no próprio quadro. Suas posições políticas também ficam explícitas nesses registros silenciosos. Um humanista, comme il faut.






25.7.10

VANITÉ


No metrô sento-me vis a vis uma senhora bochechuda, de rosto corado e sereno, olhos verdes e cabelos loiros acinzentados displicentemente trançados. Trocamos olhares rápidos e eu imediatamente penso conhecer essa mulher de algum lugar. Tento buscar nos meus arquivos pessoais a imagem dessa senhora com cara de quem está de bem com a vida, e que poderia muito bem figurar em alguma revista de receitas ensinando a gente a fazer uma suculenta apfelstrudel. Demora um pouquinho e pronto, eu a encontro dentro de um filme do Fassbinder, muito mais jovem e audaciosa. Sim, sim, sim, é ela, Hanna Schygulla, mas no segundo seguinte começo a duvidar. Porque jamais pensei que pudesse encontrá-la sentada num dos bancos da linha 1 do metrô carregando uma sacola de compras de supermercado. Para mim, ela sempre existiu dentro das salas de cinema. De qualquer forma dou mais uma olhadinha dos pés a cabeça, não tenho a menor intenção de interpelá-la fazendo perguntas ou pedir um autógrafo, quero apenas admirá-la de perto. Levantamos e saímos juntos do trem. Empurro a porta pesada de ferro que nos levará para a escada rolante e a espero passar, recebo um merci e segundos depois somos cuspidos para fora da estação St Paul. Frau Schygulla, livre leve e solta toma a direção da rue de rivoli, e eu entro numa boulangerie para comprar pão e saciar minha fome.

Anna Netrebko, a bela mezzo soprano russa de voz impecável, é protagonista de uma publicidade de tintura para cabelos exibida na tv, dessas do tipo eu-também-uso-e-você está-esperando-o-que-para-os-seus-cabelos-ficarem-tão-lindos-como-os-meus. Bobagem, mas eu me decepcionei. Não esperava vê-la nesse papel. Teria preferido vê-la apenas nos palcos dos grandes teatros soltando a voz. E me pergunto qual é o público alvo pretendido pela empresa de tintura de cabelos. Netrebko não é Madona, não é um rosto conhecido. Lógico que o problema é dela e não meu, mas se eu tivesse uma voz como a dela e cabelos como os dela, não teria me vendido como garota propaganda de produtos para cabelos. Teria sido preferível ter descoberto que ela dormiu com algum maestro influente para ganhar um papel título numa ópera do que vê-la vendendo colorantes. Tem algo fora do lugar. Cantora de ópera fazendo propaganda de tintura de cabelos na televisão não é natural Imagine Maria Callas fazendo propaganda de absorvente higiênico. Então. Não deu para imaginar, não é? Mas Netrebko não é Maria Callas, nem Sutherland, nem Anne Sofie von Otter, nem Leontine Price, nem Jessie Norman, e agora vai despontar para o lado mais menosprezado pelos fãs de ópera que não perdoam cantoras ou cantores que querem o sucesso a qualquer preço. É assim. O universo da Ópera é diferente, tem todos os pressupostos do universo pop, mas não admite o comportamento pop. Vai ter que fazer noites de gala, cds the best of e quem sabe até comercial de sabonete. Elitista? Imagina!

23.7.10

ACEITE A SUA


“Ninguém pode obrigar uma pessoa a aceitar sua sorte”. Voltei para Paris pensando nessa frase “spruch”, que um amigo austríaco costuma repetir sempre que faz algum comentário sobre pessoas que apesar de todos os indícios de que deveriam seguir um caminho, escolhem outros rumos. Conheço esse “spruch” há décadas, mas só agora a frase iluminou-se e ficou evidente. Preciso de tempo. Mesmo que aparentemente eu as compreenda, e as incorpore em meu cotidiano, preciso de muito tempo para entender seus desdobramentos e significados. Como saber que esse ou aquele é o caminho a seguir? Não sei. Não tenho respostas práticas como num manual universal de instruções. A vida de cada um de nós parece vir com uma receita que só funciona individualmente. O que é bom para mim pode não ser bom para o outro e assim por diante. Sei que esse post está com cara de trechos retirados de livros de auto ajuda, mas juro que não é essa a minha intenção. Não tenho essa pretensão, só vontade de escrever sobre o que venho pensando e observando nos últimos dias. A gente passa a vida tendo que fazer escolhas, mesmo que elas não se apresentem como tal, mas raramente tem certeza de qual escolha fazer. Particularmente tento ouvir uma voz que de uns tempos para cá passei a acreditar viver e existir dentro da minha cabeça. Dialogo com ela e tento ouvir o que ela me diz. No começo achava que era a minha própria voz dizendo apenas o que me era conveniente ouvir, mas com o tempo percebi que essa voz é meio geniosa, só me permite escutá-la quando realmente tem algo a me dizer. Então espero. Durmo. Dou mais tempo a ela, e depois volto a puxar conversa. Se o silêncio continua, desisto, não insisto, espero até que ela se manifeste.

Numa conversa descobri um autor austríaco, Walter Kappacher, que em 2009 ganhou o prêmio Georg Buchner de literatura, talvez o mais importante dos prêmios para os autores que escrevem na língua alemã. Saí da conversa com um pequeno livro de capa dura chamado “Cerreto”, que o autor lançou em 1989. Um tesouro, que contém registros de viagens na Toscana, mistura de ficção e diário, me lembrou Ítalo Calvino, pela delicadeza, escolha de imagens e por vezes a melancolia. Não sei se ele já foi traduzido para o português, se ainda não foi, estamos perdendo muito. Antes de viver da escrita, Kappacher hoje com 70 anos fez de tudo um pouco, foi mecânico de automóveis, agente de viagens, e apenas após fazer 40 anos pôde se dedicar integralmente a literatura e viver como escritor. Li algumas entrevistas dele, pois é, da tal da escolha ele também não conseguiu escapar, ou será que ele não tinha escolha?

21.7.10

CIDADES

(ainda no notebook sem acentos)
Impossível nao fazer comparacoes quando estou em Viena. Sempre que estou aqui penso em Sao Paulo, cidade onde nasci e cresci e com a qual tenho uma relacao de amor e ódio. Os pensamentos sao sempre assim: se todos esses prefeitos e governadores que prometeram fazer alguma coisa pela cidade tivessem feito 10 por cento do que disseram que iam fazer Sao Paulo teria outra cara, seria mais generosa com seus cidadaos e etc... Viena deveria ser visitada e examinada pelos políticos que querem governar Sao Paulo. Aqui eles entrariam em contato com algumas nocoes sobre cidadania, ou como uma cidade pode ser construída para servir aos cidadaos. Os exemplos iriam desde como e onde fazer ciclovias, até quais os meios de transportes ideais para cada regiao ou bairro. E o que especialmente me fascina: os canais, feitos a partir do Danúbio rodeando toda a cidade, margeados por zonas mistas onde pedestres e ciclistas convivem pacificamente, trechos onde há restaurantes e voce pode comer e beber apreciando o rio, milhares de árvores que nos oferecem sombras, praias onde as pessoas podem nadar nas aguas limpas, ilhas, enfim, uma cidade como toda cidade deveria ser; feita para ser usada. Sem falar nos museus, cafés, salas de concertos, pracas, livrarias e etc... Imagine que a cidade ainda mantém seus bondes e os metrôs tem ar condicionado. Sao Paulo poderia ser tudo isso, mais limpa, mais generosa, mais fácil de se locomover, mais planejada, menos poluída, ter mais pracas (eu disse praca e nao coisas como a praca patriarca ou a nojenta praca da República, ou a da Sé onde voce torra em dias ensolarados. Nao entendo por que a gente vai sempre na contramao, nas raras vezes em que se discute alguma mudanca, é sempre para adaptar a cidade a interesses que nada tem a ver com o bem estar do cidadao, mas com vantagens economicas ou políticas. E o argumento que somos diferentes, que nao se pode comparar um país pequeno com as nossas dimensoes, é conversa para boi dormir, falta vontade, falta comprometimento com o cidadao, falta educacao e cultura aos próprios governantes. Que pena.








19.7.10

O QUE MUDA E O QUE NAO MUDA

(escrevo do notebook sem tio, sem cedilha e outros acentos da língua portuguesa)Justificar
Estou na Austria desde sexta feira. Vim para rever amigos, passar alguns dias, e tentar amenizar a angústia da espera da resposta que aguardo da Sorbonne. Vivi 12 anos aqui, uma vida provinciana, pacata, previsível, e hoje me pergunto como fui capaz de renunciar a vida urbana que me é tao valiosa. Na época todos esses registros da realidade local me eram evidentes, mas nao me perturbavam com agora. O contato com a natureza me proporciona um imenso prazer, mas a falta de alternativas culturais que preenchem o vazio das horas como salas de cinemas, livrarias, cafés, exposicoes, empobrece e muito a vida das pessoas. Fala-se muito, come-se muito, fofoca-se muito, uma eterna corrida em círculos na qual o rabo nunca é mordido. A lusitana gira, o mundo roda e eu também mudei bastante. Amanha vou para Viena, de onde na quinta parto para Paris novamente. Lá a natureza está confinada em parques, o cheiro do mato nao é tao frequente, por outro lado sou obrigado a me programar e até a fazer listas de prioridades do que quero ver tamanha a abundância de opcoes culturais, o que verdadeiramente me interessa.

Ontem antes de dormir assisti um pouco de televisao. O tema em 4 canais alemaes e um austríaco era o constante aumento do número de neonazistas nesses dois países nos últimos anos. Reportagens feitas por gente séria, e por isso mesmo assustadoras. Eles estao ainda mais organizados que na década passada, e com o descrédito da direita aparentemente menos xenófoba, muitos eleitores e simpatizantes passaram a engordar os partidos clandestinos e também as manifestacoes publicas dos partidos ultra direitistas. Antigos pudores e refroes conhecidos se transformaram em palavras de orgulho, expoe-se abertamente em qualquer bierhalle a vontade de se exterminar as impurezas da sociedade, tudo que vem de fora e é estranho a cultura alema. Esqueca a palavra minoria, nao nesse caso, o índice medidor de porcentagens aponta para cima. Tentar rastrear os motivos do crescimento do número de simpatizantes nas camadas mais pobres da sociedade ou justificar tal tendência ao aumento de desemprego também é jogar seu tempo fora. Comece por cima, nas camadas abastadas e formadoras de opiniao, por quem nao aparece e nem quer mostrar o rosto mas que manipula eficiente e silenciosamente o fermento que faz crescer a massa.

Hoje visitei um amigo que nao via há mais de dez anos. Até dois anos antes de minha partida nos víamos quase que diariamente e por uma série de motivos fomos nos afastando. Fui a casa dele sem antes avisar. Toquei a campainha e ele botou o rosto na janela da cozinha e gritou para que eu entrasse sem mesmo ver quem estava na porta. Quando me viu seus olhos umideceram, por alguns segundos ele conseguiu controlar as emocoes, depois me abracou e o choro escorreu desavergonhado sobre suas bochechas. Um homem que ano que vem fará 80 anos. Contou-me sobre sua vida nesses últimos dez anos em que estive ausente, o que fez e o que nao fez, seus medos, suas esperancas, seus sonhos, sua vontade de viver pelo menos até os cem anos. Um homem que antes nao conseguia demonstrar sentimentos nem expressá-los. Um homem que sufocava suas emocoes na terra fria, e as enterrava caprichosamente nos buracos que cavava para plantar legumes, verduras e flores. Alguma coisa dentro dele ficou explicitamente mais doce. A expressao facial está mais terna. O dedo verde se humanizou, é de carne e osso, e eu passei o resto do meu dia acreditando um pouco mais no ser humano, no poder de curandeiro do tempo, na vida, no amor, na palavra.

15.7.10

14 JUILLET E OUTROS REGISTROS


Ontem acordei com os aviões de caça franceses sobrevoando minha cabeça. Iam em direção a Champs Élysées onde Sarkozy e convidados mais uma multidão os aguardavam. Da janela podíamos vê-los em grupos sobrevoando baixo a cidade. Que medo! Deu para imaginar como seria um bombardeio. Comemora-se e muito o feriado nacional francês, todas escolas militares e civis que formam a elite do país estão presentes no desfile, e o orgulho nacional ferve nas veias (ah sim, a república não conseguiu acabar com as elites, bobinho). Na noite anterior os bailes populares gratuitos se espalham pela cidade. Fomos a um baile na caserna dos bombeiros do Marais. Não, não vi a Luma de Oliveira por lá, por outro lado uma multidão de gente muito jovem fez fila para entrar. Quando saímos da festa animadíssima a fila ainda dava volta no quarteirão. Jamais recuse um convite para ir a uma festa em qualquer caserna de bombeiros do mundo, você vai entender a comoção da comunidade gay/hetero e genéricos internacional quando estiver de corpo presente. Música pop para dançar, cerveja e champanhe nacional (não poderia ser diferente). A queda da bastilha e o fim da monarquia absoluta sequer foram lembrados pela turba que queria apenas se divertir. É isso, e não é que a Maria Antonieta errou por pouco! Cerveja e champanhe satisfazem muito mais que brioches, e além disso ainda alegram o espírito.

Vocês já repararam no tamanho do pé da madame Sarkozy, ela deve calçar pelo menos número 43.

Há quase duas semanas leio no site do uol o título da notícia sobre o crime que o goleiro do flamengo é acusado de ter cometido. Não me interessei em ler o conteúdo porque sabia que não teria fígado para saber dos detalhes. Pois hoje um amigo me ligou do Brasil e fez um resumo dos fatos. Não sei se é possível tentar localizar somente dentro de suas famílias as razões que levaram esses criminosos a cometerem seus crimes. Creio que o goleiro Bruno e seus comparsas, bem como os Nardonis, e Suzane Richthofen anônimos, e todos os outros que estamparam as páginas dos jornais nos últimos tempos chocando o país, não necessariamente não teriam cometido seus crimes se tivessem sido bem educados ou bem amados por seus familiares. Quando analiso as causas que os levaram a cometer os seus crimes, concluo que teria sido bem mais fácil tentar resolve-los sem violência. Tem que haver um desvio psicológico que os conduz a barbárie. Um grão de areia no caminho, aparentemente se torna um deserto inteiro, um problema de vida ou morte. Ainda bem que eles não representam a regra, mas a exceção, talvez não tenham os mecanismos de auto censura e controle que a maioria de nós tem. Porque às vezes penso que qualquer um de nós pode ser um assassino em potencial. Não sei se um conjunto de fatores e condições poderia ser suficiente para conduzir qualquer ser humano a optar pelo crime, mas de qualquer forma já vi muita gente que se considera normal escapando por pouco da linha limítrofe que separa a normalidade da anormalidade. As vezes pequenos desvios de conduta que se não tivessem sido reprimidos a tempo teriam causado grandes estragos. Por outro lado, acredito que dentro do complexo meio das famílias que priorizam o diálogo como tentativa de solução para seus problemas, a probabilidade de surgir desviado social é menor. Enfim, são apenas reflexões superficiais, nada científico, somente porque preciso refletir para tentar entender o que me choca.

13.7.10

SPAS MAIS BARATOS

Sem exageros. Já falei antes aqui que a arte dá sentido a minha vida. Sem o cinema, a literatura, a música e a pintura eu não saberia como lidar com a realidade. Poderia agora também dizer que sem ela não saberia lidar com o calor parisiense. Por sorte aprecio essas manifestações do espírito e me refugio dentro das salas de cinema ou de exposições. No domingo a tarde me escondi do calor de 39 graus dentro de uma pequena salinha aqui pertinho de casa logo ao lado da Bastille. Sob uma temperatura bem mais civilizada assisti a um filme argentino chamado “Rompecabezas” aqui chamado “Puzzle”, no Brasil acredito que será denominado Quebra cabeças. O filme conta a história de uma mãe de família que dedica sua vida a cuidar do marido e dos filhos. No dia de seu aniversário ela ganha um quebra cabeça e esse presente vai de alguma forma fazê-la descobrir um outro universo. Filme simples, com roteiro simples, mas não por isso incapaz de emocionar. A atriz Maria Onetto incorpora essa mulher quase a ponto de nos fazer acreditar que não está interpretando. Há algo de enfadonho em seu rosto e mesmo no olhar que pousa sobre o marido e filhos, mas contrapondo essa aparente ausência de curiosidade, ela dá sinais de convicção sem fazer alarde de suas vontades. Gosto bastante dessas histórias pouco grandiosas, que falam de universos domésticos aparentemente desinteressantes, e acho que o cinema argentino é talentosíssimo nesse tipo de filme e sabe contá-las como nenhum outro. Não há personagens caricatos, são verossímeis e envolventes. O filme não tem nenhum final surpreendente, e nem deveria ser diferente, uma história bem contada não precisa surpreender para ser boa, há muitos outros requisitos mais importantes, a coerência, por exemplo, é um requisito que dou muita importância. Recomendo.

Hoje novamente a arte me salvou a vida. Antes que o sol da tarde pudesse me fritar fui a Fondation Cartier Bresson ver a exposição Irving Penn “Les petits Métiers”. A exposição é pequena, mas valiosa. Um registro dos artesãos parisienses e londrinos feito na década de 50, quando Penn foi contratado para cobrir as primeiras coleções de alta costura para a Vogue de Paris. As fotos foram feitas em estúdio, os artesões posaram para ele vestidos e portando seus instrumentos de trabalho. Limpadores de chaminé, açougueiros, padeiros, sapateiros, costureiras, de A a Z lá estão eles com seus rostos peculiares sem fazer poses, orgulhosos e verdadeiramente colocados em posição de evidência. No terceiro andar algumas fotos de Cartier Bresson oferecidas como as últimas cerejas do bolo para a gente degustar. Valeu, valeu, valeu. Faça sol faça chuva, me refugio nesses templos onde me sinto protegido dos efeitos maléficos do cotidiano. Funcionam como spas para o espírito, arte é melhor que qualquer complexo multivitamínico, e acredite, bem mais barato.

11.7.10

NEM SURDO NEM MUDO


Tenho um amigo que diz não conhecer nenhum outro remédio melhor para esquecer uma decepção do que viver outra ainda maior. Eu completo afirmando que é porque a gente esquece muito rápido das decepções, com raras exceções (desculpe o excesso de ões, mas não deu para evitar e estou com preguiça para encontrar um sinônimo), qualquer segundo de felicidade é capaz de fazer esquecer horas de sofrimento. Outro amigo usa o mesmo raciocínio para o amor, outro ainda para seus horríveis porres, e eu que dificilmente sofro de decepções porque espero muito pouco do ser humano (a gente fala sobre isso num outro dia, agora não é o momento certo), adequo essa suposta verdade para a literatura. Na mesma tarde em que abandonei o premiado livro “O tigre branco” por tê-lo achado uma decepção e um porre, comprei o último do David Lodge que aqui na França teve o título traduzido para “La vie em sourdine”. Nao poderia ter tido idéia melhor.

No Brasil o livro se chama “Surdo Mudo”, Marcelino Freire fez uma resenha na Folha de São Paulo e eu compartilho de sua opinião, o livro é um imenso prazer. Do autor eu já conhecia “Terapia” e “Duras Verdades”, mas esse os supera em quase tudo, porque o humor está ainda mais refinado, e a sensibilidade para falar das relações humanas parece ter atingido uma maturidade não vista nos outros romances. Mesmo lendo o livro em francês, o que me leva muitas vezes a ter que parar e pensar sobre uma ou outra palavra, Lodge me emociona e me enche de esperança. É, eu disse esperança mesmo. O escritor que já ultrapassa os setenta anos, escreve cada dia melhor, e eu quero acreditar que para um escritor, envelhecer pode ser uma contribuição. Não necessariamente dever ser uma regra, mas acredito que o homem (ao menos aquele que amadureceu) abandona alguns vícios e também algumas vaidades. Orgulho e vaidade são sentimentos que eu desprezo nas pessoas, e quando eu os reconheço em mim, trato logo de começar a aniquilá-los. São sentimentos inúteis e bobos. Como o calor aqui ainda está insuportável, entre o meio dia e as seis da tarde fico em casa lendo, e “Surdo Mudo” tem me proporcionado horas de prazer. Já teria acabado de ler, não fossem as interrupções provocadas pelos meus vizinhos de andar. Um casal de árabes com um filho chamado Mohamed (inevitável) e outro de judeus com um bebê que ainda não sei como se chama. Sei que estou bem no meio, meu apartamento fica entre os dois e me considero a própria faixa de Gaza. Os dois casais são educados quando entram comigo no elevador, porém são barulhentos e falam muito alto, e Mohamed que já deve ter uns sete anos, deve se alimentar de pilhas duracel logo de manhã. Interessante observar (querendo ou não sou obrigado a ouvir os casais conversando, o calor nos obriga a deixar as janelas abertas, e essas janelas dão para um pátio interior que, acredito, reflete o som que sai dos apartamentos), os dois homens são fortes e pelo que percebi são eles os bambambans da casa. Já as mulheres são bem diferentes, a árabe quase não fala, passa o dia dentro de casa cuidando do Mohamed e dos afazeres do lar e esperando o Mohamed senior chegar para jantar, já a vizinha judia encara o marido por qualquer motivo, está sempre discutindo com ele, e entra e sai do apartamento praticamente o dia inteiro. As vezes dou de cara com ela na entrada do prédio, digo bom dia ou boa tarde e trato de me apressar. Ela adora fazer perguntas, quer saber tudo sobre a minha vida. Daria para fazer um roteiro de novela das sete, estou a disposição para co roteirizar e dar consultorias.

9.7.10

CANICULE

Matéria de destaque dos jornais parisienses, os preços dos aluguéis dos imóveis. Entre 7.000 euros (aprox. 18.000 reais) e 17.000 euros (aprox. 40mil reais) o metro quadrado, tanto para alugar quanto para comprar. Quando a maioria dos salários pagos na capital gira em torno de 1.800 euros (há muitos parisienses que nem chegam perto dessa cifra), então imagine como está caro viver aqui. E imagine ainda as dimensões do imóvel que você vai poder alugar ou comprar ganhando um salário desses. Porque além de pagar o aluguel você terá que comer, se vestir, pagar pelo transporte que usa (uma passagem de ônibus custa em torno de 1,50 euros, mais ou menos 3,45 reais). São os mais jovens que sofrem com esses valores, os mais velhos e aposentados, apesar de se queixarem pelos cantos, já garantiram seus rendimentos e moradia até o fim de suas vidas. Não pense que apesar dos altos preços há imóveis sobrando para alugar. Não. As imobiliárias anunciam de manhã e alugam ou vendem a tarde. Um chiqueirinho desses vende tão rápido quanto os faláfeis consumidos na rue des rosiers. Enquanto o mercado imobiliário ignora crise econômica e política do país, Sarkozy é cozinhado lentamente. Posso estar enganado, mas acho que no decorrer do próximo inverno ele estará pronto para ser comido. O partido socialista nem pensa em tirar férias. Dá sinais de que vai aproveitar as altas temperaturas do verão para botar mais lenha na fogueira.

“Canicule” é como os franceses denominam o calor infernal que está fazendo nesses dias, você pode traduzir como um calor do cão se quiser ou qualquer coisa parecida, o que sei é que mesmo de madrugada não há sequer uma brisa soprando, e a temperatura continua alta (duas horas da manhã o barômetro marcava 25 graus, durante o dia 38). Dormimos com todas as janelas do apartamento abertas, e a sensação é de estarmos dentro de uma estufa. Caminhar entre 13 e 18 horas é correr risco de vida. No meio da tarde as prateleiras dos supermercados onde estão expostas as bebidas geladas e sorvetes já estão vazias. A previsão é de que o canicule permaneça por tempo indeterminado. Teme-se por mortes em razão do forte calor, e eu particularmente temo pela visão dos franceses desmazelados com cara de loucos andando como zumbis pelas ruas da cidade aos bandos. Você tem que ver para crer.

Parei de ler o livro que comentei que havia ganhado outro dia. “O Tigre branco” me encheu o saco. Todo o livro é uma narrativa descritiva sobre as questões sociais e as razões pelas quais a Índia é um país como conhecemos. Sempre contado pelo viés do autor, e pelo médio conhecimento que tenho sobre o país, me parece verdadeiro. Mas me encheu o saco toda a ladainha sobre a pobreza derivada da colonização, as massas oprimidas e uns poucos que se rebelam teimosamente e apanham. Não é isso o que busco na literatura. Nos romances busco mais os perfis psicológicos dos personagens, suas vidas privadas, a forma como amam ou odeiam. Quando quero conhecer história compro um livro de história. Dei de presente o livro da Siri Hustvedt para o sujeito que me presenteou com este livro. De férias na riviera francesa ele me ligou para dizer que estava adorando o livro. Não pude dizer o mesmo. Je suis désolé.

7.7.10

JUNKBOX


Num desses sebos, não me lembro agora qual porque há tantos nessa cidade encantada, encontrei um livro de entrevistas com escritores da geração beat. Comecei a folheá-lo e fiquei com uma resposta de Jack Kerouac engasgada na garganta até esse momento em que escrevo este post. Marc Wallace do New York Post o indaga sobre a vida, diz que não o sente feliz apesar de pouco antes tê-lo ouvido afirmar que estamos/vivemos todos no paraíso. Kerouac confirma sua tristeza e responde mais ou menos assim: se eu pudesse me agarrar ao que eu sei... Acertou na mosca, e nesse caso eu sou a pobre mosca, porque durante quase todo o dia perambulei tonto com o peso dessas palavras, refletindo sobre elas. Pergunto-me se posso me agarrar ao que sei. Dar um fim à vida vivida, quero dizer, me agarrar as experiências e praticá-las no dia a dia. Evidente que nem tudo que vivemos tem uma função de aprendizado com objetivos definidos, experimentamos também o prazer pelo prazer, o saber pelo saber, o viver ao Deus dará, não somos máquinas armazenadoras de saber a serviço de alguma coisa. Eu que o diga com seis planetas na casa 5 e em aquário! Sobretudo gostaria de perceber essas experiências nos momentos em que elas se fazem necessárias, agir sem refletir sobre o que ou como lidar com algumas questões que me provocam desconforto. Sei que é possível. Faço esse exercício de vez em quando. Agora pouco enquanto voltava para casa, prometi a mim mesmo que me esforçarei para agrupar minhas experiências e dar um formato a elas. Quero ser a expressão desse formato, corpo, alma,voz. Ou será que de qualquer forma somos o resultado delas e só não conseguimos percebê-las em nós? Porque é freqüente identificar no outro o que ele mesmo não vê em sí. Bem como é freqüente servir de exemplo para um terceiro e ser reconhecido por adjetivos que não conseguimos identificar em nós. Não. Não bebi nada antes de começar a escrever esse post, o dia está lindo, o céu azul e a temperatura ultrapassa os 30 graus. Vesti uma bermuda e uma sandália e vou voltar para rua, agora firmemente disposto a fazer valer esse novo formato.

5.7.10

SORVETES E FRAPÊS

No coração do Marais tem uma sorveteria que vai me levar à falência. Ela se chama “My Berry” e só faz sorvetes a base de yogurte zero de gordura e zero de açúcar. Explico: você escolhe as frutas frescas e eles as misturam ao yogurte cremosíssimo. Lá eles também fazem na hora o Smooth, que é nada mais que todos esses ingredientes que eu falei passados num mixer e o resultado é uma espécie de milk shake que você não consegue parar de tomar. Por sorte não ficarei (mais) gordo. Meu preferido é um chamado “desir”, que é feito com toda a variedade de frutinhas vermelhas que existem aqui. Para quem quiser conferir, a sorveteria fica na rue Vielle du Temple, 25. Quando chego lá, a mocinha já nem me pergunta mais o que eu quero e nem de que tamanho, nosso diálogo se restringe a um bonjour e em seguida ela já começa a preparar meu desir no tamanho GGG.




Hoje entrou um novo estudante na sala de aula. Um alemãozinho berlinense inacreditavelmente belo. Infelizmente blasé até não poder mais. Um personagem mitológico saído de uma das óperas de Wagner. Atraente, mas complexo, denso e fácil de se desistir de conhecer pelas dificuldades impostas no primeiro contato. Que grande pena quando alguém sabe que é bonito e também se acha bonito. Pena para ele e para os outros. No intervalo veio conversar comigo. Soube que sou brasileiro e blá blá blá. Não é pretensioso, nem sedutor. Se esforça para ser simpático, mas acho que é da sua natureza ser assim meio frapé, nem duro nem mole, nem sorvete nem milk shake. Adora o Brasil e pensa em passar uns tempos nas terras onde tem palmeiras e cantam os sabiás. Quis se informar. Apesar da rigidez e uma certa dificuldade em se comunicar, gostei do moço. Fizemos o caminho de volta para casa juntos. Atravessamos o Jardim de Luxemburgo e ele, como bom alemão romântico, não pôde conter sua admiração pelas flores que decoram os canteiros. Que beleza. Naquele momento o homem do belo rosto sem expressão, mostrou-se humano. Falou de Berlin, da saudade que sente dos lagos onde nessa época, ao contrário de Paris que tem o Sena mas ninguém pode se refrescar nele, pode-se nadar e se refrescar. Conheço esse contato com a natureza dos tempos em que vivi na Áustria. No final da tarde, todo mundo corre para os lagos mais próximos e fica até anoitecer. É de lá que vem Beethoven, Brahms, Goethe, Schieller e todos os outros românticos. Se não se render aos encantos da natureza, não é alemão.


3.7.10

DEUSES

Fui assistir “Dioses”, filme do diretor peruano Josué Mendez. Não conheço o cinema feito no Peru, sei que ele também dirigiu “Dias de Santiago”, mas não tive oportunidade de ver. “Dioses”é bem feito, mas não impressiona, principalmente porque ele trata de temas que nós brasileiros conhecemos bem, e que o cinema brasileiro já explorou também muito bem. Sem querer comparar mas já comparando, basta ver “Quanto pesa ou é por quilo?” de Sergio Bianchi, ou “Cidade de Deus” de Fernando Meireles. Nessa caso, o filme conta a história de uma família rica peruana e retrata conseqüentemente o comportamento alienado de parte da sociedade privilegiada do país (sociedade privilegiada = comportamento alienado, já vi isso antes) . Dois irmãos, um rapaz sempre taciturno e deprimido que é tarado pela própria irmã, uma garota que não gosta de fazer nada além de varar a noite e consumir drogas, o pai, um rico empresário que quer que o filho assuma seus negócios, e sua namorada, uma modelo que vem dos bairros pobres da cidade e que se esforça para esquecer o passado e se integrar na sociedade burguesa peruana. Retratar parte privilegiada da sociedade peruana ou brasileira ou qualquer outra, sem um discurso politizado é uma tarefa bastante difícil. Querendo ou não o autor/diretor/roteirista não alcançará seus objetivos apenas expondo cenas ou caricaturando os personagens representativos do filme. Lógico, as imagens falam por si, mas acho que teria preferido um discurso político mais explícito. Sei que faz tempo que os artistas em geral perderam a coragem de se posicionar politicamente, há toda uma politicagem (de quinta ideologicamente falando, mas poderosa economicamente) que está por trás das produções cinematográficas. Na literatura não é muito diferente, o discurso político está fora de moda, pode tudo, escatologia e exposição da vida íntima na mídia, mas por favor não vá dizer o que pensa por aí porque isso não interessa a ninguém. Também não sei como fugir disso tudo, consigo perceber, e isso é tudo, bater sempre de frente acaba deixando a gente com cara de pastel. Talvez não há nada a se fazer, a não ser continuar a fazer aquilo que se acredita, sem dar ouvidos a terceiros. Talvez.

1.7.10

CURIOSIDADES E FOTOS

No final da manhã quando passava em frente à escola de belas artes vi o anúncio da exposição dos melhores trabalhos dos alunos. Entrei no prédio, um pouco por curiosidade, e outro pouco, confesso, em busca de temperatura mais amena (32 graus por volta das 11:30). Não precisei de muito tempo para me desinteressar pelas obras. Ainda bem que a exposição era gratuita, do contrário teria me arrependido por cada centavo pago para ver o que vi. Não pude fotografar, para sorte de vocês, seguidores deste blog. Ok, são estudantes, gente em formação. Assim espero.

Para hoje são esperados 37 graus por volta da hora do almoço. O jeito é ficar em casa se não quiser torrar sob o sol e só sair da toca depois que ele se pôr. Ganhei um livro ontem “Le tigre blanc” (O tigre branco), de Aravid Adiga um escritor que ainda não conhecia, um indiano, jornalista, que ganhou o Booker Prize com este romance. Comecei a ler ontem e me parece bom, estou gostando. Narra a história de um sujeito que envia uma carta para o primeiro ministro da China que está para fazer uma visita à Índia. Através da carta o sujeito vai revelar a Índia não oficial ao primeiro ministro (e a nós leitores).

Não importa onde estamos, a gente carrega nosso próprio mundo dentro de nós, não há como fugir das lembranças e histórias que marcaram nossas vidas. Quando fazia o percurso entre a Rive Gauche e a Droite cruzei com essa pedinte na rua e imediatamente me lembrei de uma velhinha imigrante armênia que morava no porão de uma casa vizinha a casa onde nasci e cresci. Ela se chamava Ãntaram e como meus avós, se refugiou no Brasil fugindo dos turcos no início do século passado. Eu e minhas irmãs tínhamos medo dela, que no final da tarde saía de seu quartinho para varrer a calçada da nossa rua. Penso nela com uma certa melancolia e tristeza, lembro-me que minha mãe a tratava com muito respeito e carinho enquanto nós preferíamos evitar a proximidade. Abaixo a foto dessa pedinte, que imagino também ser uma imigrante pobre, mas que nada tem a ver com a realidade da nossa vizinha. Alguns metros adiante encontrei mais uma, e já do outro lado da ponte encontrei outra também igualzinha. Acredito que elas fazem parte de uma rede organizada de velhas imigrantes pedintes ou qualquer coisa parecida.



Para não terminar o post com melancolia, abaixo algumas fotos da cidade para matar (ou ficar com) a saudade.

Place des Vosges


Place des Vosges



Pátio interior do Palais Royal