25.9.11

O E-MAIL QUE RECEBI HOJE DE MANHÃ.

Hoje recebi um e-mail intitulado “Profecias do pai Simão”. O conteúdo do e-mail são “profecias” supostamente feitas pelo Zé Simão (na rede é difícil saber quem realmente é o autor do que nos enviam). A bem da verdade eu não leio o Zé Simão. Não gosto do seu humor apelativo e na maioria das vezes grosseiro e maldoso com as pessoas que ele pega como vítima. Não tem nada a ver com ser politicamente correto ou não, mas com limites e respeito, o que é escracho e o que é grosseria, um pouco do que penso desse tipo de humor feito pelo Pânico que tenho pânico só de pensar em assistir. Não consigo achar graça, acho forçado e burro. Por curiosidade passei a ler o e-mail, ainda era cedo, e quando percebi estava gargalhando e não conseguia parar de gargalhar com o festival de bobagens tão possíveis de se realizar no Brasil que não dá para deixar de se divertir com o ridículo das situações.
Abaixo o e-mail que recebi:

Rio 2016 - Profecias do Pai Zé Simão



Previsões de José Simão (Colunista Folha de São Paulo), para as Olímpíadas no Rio - 2016.


De 2010 a 2015

1. ONGs vão pipocar dizendo que apóiam o esporte, tiram crianças das ruas e as afastam das drogas. Após as olimpíadas estas ONGs desaparecerão e serão investigadas por desvio de dinheiro público. Ninguém será preso ou indiciado.

2. Um grupo de funk vai fazer sucesso com uma música que diz: vou pegar na tua tocha e você põe na minha pira.

3. Uma escola de samba vai homenagear os jogos, rimando “barão de coubertin” com “sol da manhã”. Gilberto Gil virá no último carro alegórico vestido de lamê dourado representando o “espírito olímpico do carioca visitando a corte do Olimpo num dia de sol ao raiar do fogo da vitoria”.

4. Haverá um concurso para nomear a mascote dos jogos que será um desenho misturando um índio, o sol do Rio, o Pão de Açúcar e o carnaval, criado por Hans Donner. Os finalistas terão nomes como: “Zé do Olimpo”, “Chico Tochinha” e “Kaíque Maratoninha”.

5. Luciano Huck vai eleger a Musa dos jogos, concurso que durará um ano e elegerá uma modelo chamada Kathy Mileine Suellen da Silva.

Abertura dos jogos

1. A tocha olímpica será roubada ao passar pela baixada fluminense. O COB vai encomendar outra com urgência para um carnavalesco da Beija flor.

2. Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e a bateria da Mangueira farão um show na praia de Copacabana para comemorar a chegada do fogo olímpico ao Rio. Por motivo de segurança, Zeca Pagodinho será impedido de ficar a menos de 500 metros da tocha.

3. Durante o percurso da tocha, os brasileiros vão invadir a rua e correr ao lado dela carregando cartolinas cor de rosa onde se lê "GALVÃO FILMA NÓIS", "100% FAVELA DO RATO MOLHADO".

4. Pelé vai errar o nome do presidente do COI, discursar em um inglês de merda elogiando o povo carioca e, ao final, vai tropeçar no carpete que foi colado 15 minutos antes do início da cerimônia.

5. Claudia Leite e Ivete Sangalo vão cantar o “Hino das Olimpíadas” composto por Latino e MC Medalha. As duas vão duelar durante a música para aparecer mais na TV.

6. O Hino Nacional Brasileiro será entoado a capella por uma arrependida Vanuza, que jura que "não bota uma gota de álcool na boca desde a última copa". A platéia vai errar a letra, em homenagem a ela, chorar como se entendesse o que está cantando, e aplaudir no final como se fosse um gol.

7. Uma brasileira vai ser filmada varias vezes com um top amarelo, um shortinho verde e a bandeira dos jogos pintada na cara. Ela posará para a Playboy sem o top e sem o shortinho e com a bandeira pintada na bunda.

8. Por falta de gás na última hora, já que a cerimônia só foi ensaiada durante a madrugada, a pira não vai funcionar. Zeca Pagodinho será o substituto temporário já que a Brahma é um dos patrocinadores. Em entrevista ao Fantástico ele dirá que não se lembra direito do fato.

9. Setenta e quatro passistas de fio-dental vão iniciar a cerimônia mostrando o legado cultural do Rio ao mundo: a bala perdida, o trafico, o funk, o sequestro-relâmpago e a favela.

10. Durante os jogos de tênis a platéia brasileira vai vaiar os jogadores argentinos obrigando o árbitro a pedir silencio 774 vezes. Como ele pedirá em inglês ninguém vai entender e vão continuar vaiando. Galvão Bueno vai dizer que vaiar é bom, mas vaiar os argentinos é melhor ainda. Oscar concordará e depois pedirá desculpas chorando no programa do Gugu.

11. Um simpático cachorro vira-lata furará o esquema de segurança invadindo o desfile da delegação jamaicana. Será carregado por um dos atletas e permanecerá no gramado do Maracanã durante toda a cerimônia. Será motivo de 200 reportagens, apelidado de Marley, e será adotado por uma modelo emergente que ficará com dó do pobre animalzinho e dirá que ele é gente como a gente.

12. Adriane Galisteu posará para a capa de CARAS ao lado do grande amor da sua vida, um executivo do COB.

13. Os pombos soltos durante a cerimônia serão alvejados por tiros disparados por uma favela próxima e vendidos assados na saída do maracanã por “dois real”.

Durante os jogos

1. Caetano Veloso dará entrevista dizendo que o Rio é lindo, a cerimônia de abertura foi linda e que aquele negão da camiseta 74 da seleção americana de basquete é mais lindo ainda.

2. Uma modelo-manequim-piranha-atriz-exBBB vai engravidar de um jogador de hóquei americano. Sua mãe vai dar entrevista na Luciana Gimenez dizendo que sua filha era virgem até ontem, apesar de ter namorado 74 homens nos últimos seis meses, e que o atleta americano a seduziu com falsas promessas de vida nos EUA. Após o nascimento do bebê ela posará nua e terá um programa de fofocas numa rede de TV.

3. No primeiro dia os EUA, a China e o Canadá já somarão 74 medalhas de ouro, 82 de prata e 4 de bronze. Os jornalistas brasileiros vão dizer a cada segundo que o Brasil é esperança de medalha em 200 modalidades e certeza de medalha em outras 64.

4. Faltando 3 dias para o fim dos jogos, o Brasil terá 3 medalhas de bronze e 1 de ouro, esta ganha por atletas desconhecidos no esporte “caiaque em dupla”. Eles vão ser idolatrados por 15 minutos (somando todas as emissoras abertas e a cabo) como exemplos de força e determinação. A Hebe vai dizer que eles são “uma gracinha” ao posarem mordendo a medalha, e nunca mais se ouvirá deles.

5. A seleção brasileira de futebol comandada por Ronaldo Fenômeno vai chegar como favorita. Passará fácil pela primeira fase e entrará de salto alto na fase final, perdendo para a seleção de Sumatra.

6. A seleção americana de vôlei visitará uma escola patrocinada pelo Criança Esperança. Três meninos vão ganhar uma bola e um uniforme completo dos jogadores, sendo roubados e deixados pelados no dia seguinte.

7. Os traficantes da Rocinha vão roubar aquele pó branco que os ginastas passam na mão. Um atleta cubano será encontrado morto numa boate do Baixo Leblon depois de cheirá-lo. O COB, a fim de não atrasar as competições de ginástica, vai substituir o tal pó pelo cimento estocado nos fundos do ginásio inacabado.

8. Um atleta brasileiro nunca visto antes terminará em 57º lugar na sua modalidade e roubará a cena ao levantar a camiseta mostrando outra onde se lê: JARDIM MATILDE NA VEIA.

9. Vários atletas brasileiros apontados como promessa de medalha serão eliminados logo no inicio da competição. Suas provas serão reprisadas em 'slow motion' e 400 horas de programas de debate esportivo vão analisar os motivos das suas falhas.

Após os jogos

1. Um boxeador brasileiro negro de 1,85m estrelará um filme pornô para pagar as despesas que teve para estar nos jogos e por não obter patrocínio.

2. Faustão entrevistará os atletas brasileiros que não ganharam medalhas. Não os deixará pronunciar uma palavra sequer, mas dirá que esses caras são exemplos no profissional tanto quanto no pessoal, amigos dos amigos, e outras besteiras.

3. No início do ano seguinte, vários bebês de olhos azuis virão ao mundo e as filas para embarque nos voos para a Itália, Portugal e Alemanha serão intermináveis, com mães "ofendidas", segurando seus rebentos...

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21.9.11

CERCADO

Reincidentes são os dois casos que vou contar. Já aconteceram de outras maneiras antes e no mesmo lugar. Estava no cinemark do Pátio Higienópolis ontem. No meio do filme um senhor sentado na minha frente atende o celular e responde em tom assustadoramente alto que não podia falar naquele momento porque estava dentro do cinema. Por que atendeu então? Tive vontade de jogá-lo para fora da sala, mas me contive. Por respeito a sua idade e porque sofro de constrangimento passivo. É. Uma doença que aparentemente algumas pessoas têm: elas se sentem constrangidas com a ignorância e falta de sensibilidade de terceiros. Minutos depois e quase no fim do filme, três meninas sentadas ao meu lado começaram a utilizar seus celulares para mandar mensagens ou sei lá o que. A luz da telinha do celular delas passou a imperar na sala e a me incomodar. Depois de vários acende/apaga/acende/apaga e meu nível de constrangimento atingir o grau do insuportável, pedi em voz incisiva que parassem com aquilo. Não me atenderam. A solução foi ameaçá-las, ou paravam ou eu arrancaria os aparelhos de suas mãos. Saíram da sala. De onde não deveriam ter entrado se não são capazes de ficar por aproximadamente duas horas apreciando o filme sem se comunicar com amigos ou sei lá quem. Em razão da imensa falta de respeito alheio e por se acharem o centro do universo, os cinemas daqui deveriam fazer o que fazem outros por aí. Há um sistema que bloqueia a conexão dos celulares dentro dos cinemas e teatros e outros estabelecimentos que são ativados para que essa gentalha insuportável aprenda a se comportar em público. Ninguém deveria ser obrigado a ouvir conversa alheia. Eu não consigo compreender a cabeça dessas pessoas. Não consigo entender essa ausência total de respeito pelo outro, seja dentro dos lugares ou nas ruas, constantemente flagro pessoas gritando com o celular grudado na orelha, ou com esses aparelhinhos gesticulando numa clara demonstração de egoísmo e não estou nem aí para você. Não tem a ver com idade. A falta de educação é geral. E gritante.

Aliás, gritante também é o volume do som das salas do cinemark enquanto eles anunciam os filmes antes da sessão iniciar. Devem achar que porque nos bombardeiam os tímpanos a mensagem ficará gravada na nossa cabeça. A única mensagem que fica gravada na minha é de que estou ilhado, cada vez mais idiotas invadem a minha praia.

17.9.11

GÁSES

Muito cedo prestei atenção no significado das palavras. Sempre procurei coerência na literalidade delas, quero dizer, se no momento em que elas estão sendo pronunciadas elas querem dizer exatamente o que quem as falou ou escreveu queria dizer. Porque pode haver descompasso. Despojada da emoção, listada numa folha de dicionário de sinônimos e antônimos, ela significa muito menos do que quando carregada da emoção de quem a escolheu para dizer isso ou aquilo. A escolha, a forma, a carga emocional e a tonalidade podem alterar seu significado. O outro, o ouvinte, o receptor, ao ouvi-la também a sujeita e a condiciona aos limites de sua compreensão. O inferno, Sartre já disse de outra forma, só passa a arder quando nos vemos confrontados com os outros. Enquanto elas estão dentro do universo particular de cada um de nós, elas significam uma coisa, a partir do momento que penetram os ouvidos do outro ganham significados diferentes e vida própria.

Algumas noites acordo no meio da madrugada como se tivesse dormido além da conta e não consigo mais pegar no sono. Então me levanto e observo as luzes dos apartamentos dos prédios ao redor do meu. Não tenho pensamentos profundos. Observo e penso em múltiplas coisas, como por exemplo, o que aquele sujeito do prédio da frente está assistindo na televisão de sua sala ou o que amigos que moram em outros continentes poderiam estar fazendo naquele exato momento, ou ainda se devo ou não comer um pedaço do bolo de laranja que está dormindo quietinho na cozinha. As vezes ligo para algum amigo do outro lado do mundo e como um pedaço do bolo, só não consigo acessar o vizinho insone. Será que ele me vê e tem pensamentos parecidos? Outra noite, vi quando ele levantou do sofá e foi até a janela. De lá, ele olhou em minha direção. Constrangido eu preferi sair do terraço e voltar para dentro do apartamento. Gosto de observar, mas não de ser observado.

Ontem tive que atravessar a cidade. Fui até o bairro do Morumbi pela avenida nove de julho e voltei pela 23 de maio. São Paulo é decididamente uma cidade feia, sem atrativos no quesito paisagem urbana. Está bem, nenhuma novidade no que acabo de afirmar. O agravante é o cheiro que está impregnando a cidade. O gás carbônico das ruas e avenidas só perde para o fedor de urina e fezes humanas que penetra nossas narinas quando caminhamos pelas ruas do centro. Você já tentou chegar a Sala São Paulo a pé? Ouvi de um amigo outro dia, ah mas isso é covardia, quem mandou você ir a pé para lá, a cracolândia é conhecidamente um lixo. Como assim, quem mandou ir a pé? O que é então uma cidade para você? Um espaço urbano recortado por ruas e avenidas por onde passam automóveis, e o pedestre que se dane? Ver beleza na cidade onde nasci está cada vez ficando mais difícil.

11.9.11

É TUDO VERDADE


Hoje, 11 de setembro de 2011, acordei um pouco mais tarde. Fiz um café e fui para frente do computador sedento pela resposta de um e-mail enviado há alguns dias. Nada ainda. Passei então a ler a Folha de São Paulo na tela do computador. Não perco mais tempo lendo o jornal de ponta a ponta, desenvolvi um sistema próprio de leitura, bato o olho no título da matéria e vejo quem a escreveu e não reflito muito, ou abro o artigo e leio, ou passo batido sem nenhuma culpa porque a maioria das notícias é desinteressante, elas apenas confirmam o que já sabemos ou não trazem nenhuma nova discussão. Foi quando me deparei com uma matéria sobre o Padre Marcelo no caderno Mercado. Estranhei, o que um padre estaria fazendo num caderno de conteúdo econômico? Ao mesmo tempo que lia a matéria chamada “Padre Marcelo S.A.”, um dos moradores de uma das casinhas da vila localizada atrás do meu prédio, começou a escutar música num volume que todo o bairro poderia escutar. Imagino que sua intenção era propiciar um imenso prazer aos ouvidos de seus vizinhos, mas ler a matéria sobre o tal padre acompanhado por refrões de “eu sou pobre pobre pobre de marré marré de si, mas sou rico rico rico e cheio de mulhé” foi o suficiente para me provocar ânsias de vômito. Para mim gosto se discute e, bem, dentro do espírito democrático que acredito ter assimilado no decorrer da minha vida, aceito que ele escute o que quiser, mas por favor não quero ser obrigado a escutar a mesma coisa. Tentei acreditar que logo ele abaixaria o som e continuei a ler as matérias do jornal. Fiquei então sabendo que o padre Marcelo está construindo uma imensa igreja, um templo para milhões de pessoas, com sei lá quantas mil vagas de estacionamento e uma cripta onde ele futuramente será enterrado. Enquanto isso meu vizinho de baixo continuava a nos presentear com canções de altíssimo padrão, recheando meus ouvidos com refrões que jamais esquecerei. E o padre Marcelo ainda deu uma pequena entrevista onde fala coisas interessantíssimas como, por exemplo, que ele produziu um “cd contemplativo”. Veja bem, quando li isso, imaginei que seus fãs devem comprar o “cd contemplativo” para colocar em algum lugar da estante e ficarem horas olhando para ele até alcançarem o nirvana. Mas não. Segundo o padre Marcelo “você o coloca para tocar e ele leva você ao ágape, que em grego antigo significa amor divino". Que beleza! Um cd contemplativo que emite som! Nessa matéria fiquei sabendo ainda que o padre Marcelo cultuava o corpo quando jovem, e que já caiu duas vezes da esteira onde costuma correr. Tudo bem, por que um padre não poderia se preocupar com a saúde do seu corpo? Mas ele chegou a pensar que seus tombos eram resultado da inveja alheia. Não falou em olho gordo, mas inveja, o que é diferente. E está na bíblia. Decididamente a data 11 de setembro deve ter algo que transcende outras datas. Porque desse trecho em diante meu vizinho de cima passou a gritar para o da vila para que o mesmo abaixasse o som. Sai no terraço para ver quem estava gritando e um ovo endereçado ao vizinho de baixo passou bem rente a minha cabeça. Voltei para terminar de ler a entrevista e descobri que o padre Marcelo usou medicamentos que misturam finasterida com menoxidil para conter a calvície, remédios esses que podem afetar a potência sexual, mas que ele não se preocupa com isso porque é celibatário. Por algum milagre, o vizinho desligou o som e eu pude continuar a ler o jornal tranquilamente. Foi quando descobri que o padre Marcelo também acredita em milagres e já viu alguns. E que ele ainda não crê que possa provocá-los. Mas contou que só de por a mão na barriga de uma de suas fiéis que desejava ter filhos e perguntar a ela se ela tinha fé, a moça engravidou, que aquilo é um dom, o dom de tocar. É verdade. Pense na história que acabei de contar, do ovo que tocou a cabeça do meu vizinho, no bem estar que esse milagre provocou a todos os moradores que moram na redondeza, aquilo foi um milagre, provocado pelo dom de tocar, vindo diretamente do céu.

8.9.11

APERITIVO

DISSONANTES
Sergio Keuchgerian

Dissonantes é o terceiro livro do escritor Sergio Keuchgerian e o segundo dele lançado pelo selo Mundo Editorial. O título, que nos leva a pensar em sons desarmônicos, reflete o universo dos personagens que compõem um romance moderno e sintonizado com o espírito do tempo em que estamos vivendo. Mas é quando a clareza de um título nos dá a impressão de que não é preciso nenhum subtexto para compreendê-lo, que inúmeras nuances e interpretações surgem para confundi-lo. É bem provável que Mário, o personagem principal de Dissonantes desconfie do tempo como medidor de conhecimento entre as relações humanas. Certo é que hoje ele desconfia tanto das histórias de amor que parecem fadadas ao final feliz como dos sons harmoniosos de qualquer música capaz de nos fazer chorar. Por outro lado ele foi obrigado a confiar em seus temores. Afinal foram eles que o obrigaram a seguir em frente desde o princípio e que serviram de alerta face às armadilhas que ele encontrou pelo caminho. Dissonantes é apenas um dos sinônimos que vem a sua cabeça quando ele escuta sons em desacordo.

Se Mário precisasse responder à pergunta “quanto tempo é preciso para se conhecer uma pessoa?”, ele provavelmente não conseguiria respondê-la. Seus pensamentos o levariam inevitavelmente a Viena, cidade onde viveu e conheceu Anna e Renato, Uli e Yumiko e tantas outras pessoas que fizeram parte da história de sua vida. O mundo, quando ele os conheceu, ainda tinha de um lado os países capitalistas e do outro os comunistas. O surpreendente triângulo amoroso vivido no período vienense, o retorno ao seu país de origem e as descobertas que fez sobre si mesmo e sobre o grande amor de sua vida fazem parte de um contexto que apenas aparentemente não tem conexão com os eventos que alteraram o mapa político e social de sua época. O amor, a arte e a morte são os temas desta história narrada de maneira simples e objetiva, nem por isso sem o rigor da reflexão intelectual, por vezes dolorosa, da realidade de um homem em busca do conhecimento de si mesmo.

Sobre O Autor

Sergio Keuchgerian nasceu em São Paulo, em 25 de janeiro de 1962, e é formado em Direito. Atualmente vivendo em Paris. De 1988 a 2000, morou na Áustria, onde trabalhou com moda e fotografia. De volta ao Brasil, se especializou em fotografar espetáculos teatrais e advogou. Diário da busca e Contos indiscretos são seus livros publicados.












Foto Ricardo K.

Serviço:

Dissonantes
Páginas: 168
Preço: R$ 35,00
Formato: 14cm x 21cm
ISBN: 9788599802144
Acabamento: Brochura

Contatos:

Jamille Pinheiro Dias
Tel: (11) 82218199
jamillepinheiro@gmail.com

Mundo Editorial
Tel: (11) 41258767
Falar com Haydêe
mundo@mundoeditorial.com.br

5.9.11

PARA FACILITAR A DIGESTÃO

Ontem assisti um filme na tv chamado “Bom Apetite”, um filme espanhol que conta a história de três jovens cozinheiros (um espanhol, um italiano e uma alemã) que trabalham num restaurante conceituado em Zurique. Uma historinha bem contada, com bons atores, mas com desenrolar e final previsível. O que ficou do filme foi um pensamento que me acompanhou hoje o dia inteiro. A velha obsessão de tentar reconhecer o que é real e o que é ficção dentro de uma cabeça apaixonada. No filme, a alemã que trabalha no restaurante como sommelier, tem um relacionamento com o chefe. Ela acaba se abrindo com os dois amigos, mas não consegue se convencer dos seus argumentos sobre as verdadeiras intenções do chefe. Bom, ela está apaixonada por ele, e isso é o suficiente para cegá-la. Já estive em situações parecidas, e me lembro de ter tido consciência do que realmente estava acontecendo, mesmo que essa consciência não fosse de toda clara. Preferi deixar rolar, investi na história para ver o que aconteceria depois. Não teria adiantado em nada se algum amigo tivesse querido me preservar do futuro desastre que só ele conseguia ver naquele momento. Porque você está totalmente infectado com o vírus da paixão. Ele se mistura ao sangue e impede que qualquer argumento racional seja mais forte do que aquilo que está sentindo. Você se torna viciado em seus próprios sentimentos, você gosta de estar sentindo o que sente, a sensação é muito parecida com os efeitos de qualquer uma dessas drogas que proporciona bem estar. Na condição de apaixonado você é impelido a acreditar naquilo que quer e não na razão ou no que outros dizem. Vi o filme até o fim porque queria ter certeza de que o roteiro terminaria do jeito que imaginei. E ele terminou exatamente como pensei. Mas de volta a realidade e as minhas reflexões. Se eu tivesse esse poder de prever e interromper o andamento das situações antes que elas pudessem me machucar, acho que eu não ia ser mais feliz ou satisfeito. Distinguir a ficção da realidade não ajuda a gente a ser mais feliz ou sofrer menos. E a vida seria simplesmente horrível se não criássemos situações fictícias para suportá-la. Ou você vê algum sentido nela?

4.9.11

METRÔ

Fui recarregar meu cartão de embarque do metrô, o Cartão Fidelidade. Havia uma fila imensa e eu não tinha certeza de que eles aceitariam cartão de débito ou crédito. Fiquei na fila e quando fui atendido a atendente me disse que não aceitava cartões como forma de pagamento, só dinheiro. Reclamei. Ela me apontou as máquinas automáticas ao lado do guichê de venda de tickets que aceitavam cartões. Eu não estava sabendo da implantação dessas máquinas. Foram instaladas esta semana e são muito simples. Então recarreguei meu cartão ao lado de uma atendente que estava lá para explicar a novidade aos usuários. As máquinas aceitam apenas os cartões de débito. O que já é um avanço. Mas não entendo porque não é possível passar o cartão nos guichês de venda. Por que quando implantam um sistema não o fazem de maneira eficaz? De qualquer forma, as instalações dessas máquinas automáticas nas estações facilitam a vida do usuário e talvez representem a morte das plaquinhas com as inscrições "sem sistema" que estamos cansados de ler quando precisamos recarregar os cartões. Até que enfim!

À propos metrô, nesse meu último sejour em Paris conheci algumas pessoas que não utilizavam o metrô e preferiam pegar táxi para se locomover de um lugar ao outro. Todas elas eram brasileiras. Nunca ouvi de nenhum amigo de origem estrangeira qualquer coisa parecida, ao contrário, todos utilizam o metrô sem problemas, quando há críticas elas não têm cunho preconceituoso, mas a necessidade de trens mais novos ou ligações não existentes entre estações e etc. Quando eu perguntava a esses brasileiros por que não utilizavam o transporte público, as respostas eram burras e preconceitusas, ou era “o tipo de gente” ou “está sempre cheio”, ou eu sei lá qual bobagem usavam como argumento para não utilizá-lo. Quando eu dizia que táxis são muito mais caros ou que elas perderiam muito mais tempo nos congestionamentos, ou ainda que a estação do metrô ficava a 50 metros do hotel onde estavam hospedadas e que elas sairiam em frente ao destino desejado, elas olhavam para minha cara como se eu tivesse chutado a imagem da Nossa Senhora Aparecida. São as mesmas pessoas que não fazem uso do metrô no Brasil e que provavelmente só se locomovem pela cidade utilizando carros blindados. São as mesmas que se consideram diferentes das outras e por isso não querem se misturar com os outros. No começo ficava indignado com a ignorância e prepotência dessas pessoas, com o tempo a indignação deu lugar a um misto de pena e desprezo.

Sim, o metrô de Paris, assim como o de Viena ou o de Londres está sempre lotado como o daqui. E todo mundo tem umbigo. Alguns mais bonitinhos que os outros, mas a gente só consegue ver o umbigo dos outros quando olha para outras barrigas, se ficar olhando apenas para a própria, nunca vai descobrir diferenças. Mas do que é que eu estou falando? De autocrítica. E de meio de transporte. E de diferenças. E da educação que pode interferir na cultura de um povo e etc...

1.9.11

REFLEXÕES

Quando saía de casa hoje de manhã deparei com um sujeito gritando no meio da calçada com uma garrafa de plástico grudada no ouvido. Ele falava e gesticulava como se tivesse um interlocutor do outro lado da linha de seu suposto telefone celular. Lembrei imediatamente da crônica de hoje do Contardo Calligaris na Folha de São Paulo, em que ele comenta os recentes saques nas ruas de Londres e faz um pequeno paralelo com a Revolução Francesa. Calligares fala um pouco sobre a idéia que temos do que são produtos de primeira necessidade hoje e na época. Fala também da mutação dos códigos de valores da sociedade contemporânea, que hoje muito mais têm a ver com os objetos que possui do que com sua origem social. Uma reflexão clara e objetiva, apesar do pouco espaço em sua coluna. Não dá para discordar de seus argumentos, basta observar as pessoas nas ruas. Talvez sem seu “telefone celular” eu também não teria notado o sujeito que passou por mim na calçada.

Um quarteirão acima, a caminho do supermercado deparei com uma família inteira dormindo a céu aberto. Caixotes, restos de comida, cobertores, uma tv, dois cães, um casal e duas crianças ocupavam parte da calçada. Sempre que sou confrontado com uma situação dessas penso em como essas pessoas chegaram ali, a ponto de perderem tudo e ir parar no olho da rua. Penso de onde vieram e o que vai acontecer com elas, para onde vão e se um dia terão uma vida digna. Não vou entrar na discussão do papel do estado porque tenho muitas dúvidas a respeito da eficácia do braço estatal para resolver essas questões depois que ela chegam a esse ponto. Acredito que os investimentos deveriam ter sido feitos muito antes, preventivamente. Não consigo acreditar no crescimento de nenhum país que não invista na educação de seus cidadãos. Você pode me dizer o que quiser sobre o crescimento econômico do Brasil nos últimos dez anos e da suposta inclusão de sei lá quantos milhões de pessoas no mercado, mas eu não consigo ver nada disso na prática e no cotidiano. A pobreza impera. E não falo apenas da pobreza material, falo da pobreza intelectual, das péssimas condições de ensino do país e no atraso que isso representa num mundo cada vez mais competitivo e globalizado. Se você sair do seu meio de “gente diferenciada” e ir conversar com aqueles que imagina menos diferenciados, vai perceber que não tem muita diferença entre esses mundos, uns podem ter mais condições econômicas que os outros, mas no geral o bem estar para eles está diretamente ligado a sua força consumidora e posses. Acredito que o diferencial entre sociedades que são mais ou menos evoluídas (não venha me dizer que o conceito de sociedades evoluídas é relativo) esteja na força intelectual de seus integrantes. Pode-se aprender a pensar. O poder de reflexão do indivíduo é também sua força, é ele que vai proporcionar uma visão mais crítica sobre si mesmo e sobre seu entorno, e isso vai refletir coletivamente.