30.5.05

A VIAGEM DE LUCI.










Tem um novo conto na
coluna CONTOS INÉDITOS.
Leia e comente!
"LUCI IN THE SKY"

OCO.









Não há perguntas.
Não há respostas.
Há o tempo,
que atravessa lento
e pesado como um rio,
a transbordar os dias
e as noites claras.

27.5.05

DECOMPOSIÇÃO.










Penso na soma de todos os meus anos.
Penso em assimilação, aquisição, e
rejeição de valores.
Penso na composição entre fatos e atos.
Penso em maturidade.
Penso em decomposição,
consciente,
indesejada,
necessária.
E também na que restará ainda para
ajudar a decompor o futuro.
Decompondo me recomponho.

24.5.05

UNA FURTIVA LÁGRIMA.









Uma pequena gota espremida entre
a palma das nossas mãos resistiu
horas sobre as linhas de nossos
destinos teimosos e ricos em baixos
e altos mais baixos do que altos.

Nossos dedos entrelaçados apertaram-se
ainda mais em razão do caminho traçado
pela gota salgada e furtiva seqüestradora
de nossos segredos.

Na altura dos pulsos ela desistiu e rompeu
em direção contrária inesperadamente
correndo em sentido inverso alcançando um
dos nossos dedos e vazando por entre nossas
alianças a minha ou a sua eu não me lembro
agora.

Espatifou-se no chão a coitada aliviada e
claustrofóbica gota levando consigo um pedaço
de nossas vidas e um pouco do tempero
que até então sustentava nosso amor.

23.5.05

UM PENSAMENTO.









Pensei em começar assim:
“exceto as verdades universais, todas
as outras são um misto de crença e vontade”.
Um pensamento surgido repentinamente
do nada, para o nada, para me perturbar.
A razão, desconfio, foi a caminhada, ida e volta,
que fiz do meu apartamento até o centro de São Paulo.
Caminhar faz bem, dizem as pessoas.
Talvez em outras cidades. Outros lugares
que não sejam aqui onde moro.
É difícil acreditar em qualquer coisa,
quando se tem o privilégio e antagonicamente
o azar de enxergar.
Caminhar por esta cidade é estar permanentemente
em conflito com suas próprias crenças e verdades.
É se sentir privilegiado por muito pouco.
É se sentir injusto por querer ser justo.
É não querer ver o que se está vendo.
É fatalmente indignar-se com a própria indignação,
teimosa, burra, e antiquada.
Caminhar pela cidade de São Paulo
é voltar para casa com a cabeça vazia
de crenças e vontades.
É voltar para casa apenas com as verdades universais.
Nasci há quarenta e três anos,
e morrerei um dia.

21.5.05

CONTO INÉDITO.











Acaba de ser postado.
Logo ao lado na coluna
dos contos inéditos.
"A QUESTÃO DO DESPERDÍCIO"
Faça seu comentário!

PALAVRAS QUE NOS LEVAM A PENSAMENTOS QUE...









"As vezes nos colocamos em situações
rídiculas quando queremos ocultar
quem realmente somos."
Do escritor José Ovejero.

18.5.05

FIM DE TARDE NO EDIFÍCIO "VIS-À-VIS".










Fim de tarde.
O sol, vestido de rosa choque, se despede da cidade.
No terraço do décimo andar do edifício “Vis-à-Vis” um jovem
louro-califórnia, e um senhor de cabelos grisalhos conversam.
Aparentemente como dois bons amigos.
O velho acaricia o braço musculoso do rapaz.
Este se afasta abruptamente.
O velho insiste. O rapaz não quer ser tocado.
È possível ler palavras no abre-fecha dos lábios dos dois homens.
Há uma discussão.
Há, visivelmente, uma tensão no ar.
Depois de alguns minutos o velho faz uma nova tentativa.
É possível ouvir o nãããããão do rapaz.
O velho gesticula muito e repentinamente começa a estapeá-lo.
O jovem, muito mais forte, agarra firme em seu pescoço.
O velho cai de joelhos. Vê-se apenas sua cabeça grisalha
alguns centímetros acima do batente do terraço. Inclinada.
Para esquerda. Para direita.
O jovem continua com as mãos grudadas em seu pescoço.
Por alguns minutos não é possível perceber o que está acontecendo.
Segundos depois o velho parece reagir.
É possível perceber movimentos.
A cabeça grisalha volta a se mover.
Para frente e para trás, para frente e para trás.
Ininterruptamente, para frente e para trás, para frente e para trás.
O jovem levanta os olhos para cima.
Vê-se sua língua deslizar por todo o contorno dos seus lábios.
Um sorriso largo e brilhante se desenha em seu rosto.
Seus cabelos dançam a canção dos ventos.
Agora a cabeça grisalha não se move mais.
O jovem sorri. Nitidamente.
Sorri enquanto enxuga o suor do rosto.
Depois, por alguns segundos, desaparece atrás do batente do terraço,
e logo em seguida reaparece levantando o corpo do velho.
A cabeça grisalha pende para um lado e para o outro.
Ergue-se de uma só vez, impulsionada pela força do jovem que
parece lhe sorrir.
Há um silêncio no ar.
O jovem louro-califórnia ajeita os cabelos grisalhos do velho.
Carinhosamente lhe beija as duas maçãs do rosto.
Como dois bons amigos.

Permite que o velho lhe acaricie o braço.

17.5.05

GO AWAY.









Espero.

Sobre a faixa de pedestres.

Acompanho teus movimentos.

Passos largos,
masculino exibido,
mão no bolso/ajeita saco,
olhar fixo aqui no outro lado da rua.

Lá onde estou,
um pé sobre a calçada,
outro sobre a zebra,
vou-não-vou,
devo-não-devo.


Espero.

Sobre a faixa da terra,
eu invisível.

Você,
wild/lemon/brut.

A sola dos seus sapatos
size 41,
deixaram pegadas
na minha testa.



11.5.05

TESTEMUNHO.








Recebi um questionário do www.amalgamar.com.br/blog.
Demorei um pouco para responder por falta de tempo.
Mas aí está. Vamos ao que interessa.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Muitos. Mas um em especial me vem a cabeça.

Pelas belas imagens e vontade de degustar o conteúdo,
“Em busca do tempo Perdido” do Proust.

Já alguma vez ficaste perturbado(a) por um personagem de ficção?
Várias vezes. Com alguns personagens de Nelson Rodrigues por exemplo.
E quase todos que fazem parte do excelente e quase esquecido romance
“Crônica da Casa Assassinada” de Lucio Cardoso.
Também com o Ulrich, o “Homem sem qualidades” de Robert Musil.

O último livro que compraste?

Foi o “Como me tornei estúpido” de Martin Page.
Muita fumaça para pouquíssimo fogo. Uma decepção.

Qual o último livro que leste?
Foram dois:
“Angu de Sangue” de Marcelino Freire
e “Melhores Contos”
de Lygia Fagundes Telles.

Que livro estás a ler?
Novamente são dois: “Política” de Adam Thurnwell, jovem inglês
considerado revelação por lá, e releio “Crime e Castigo” do Dostoiéviski.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Não gosto da idéia de estar numa ilha deserta.

Mas se fosse inevitável, todos os do Fernando Pessoa
e um Laptop cuja bateria fosse recarregável por energia solar.

A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?
Por razões diversas, secretas e que envolvem muito carinho e respeito:
Felipe Greco, Alcides Nogueira e Moacyr San.

10.5.05

HENRY MOORE PARA TODOS.











Hoje fui ver a exposição de Henry Moore
na Pinacoteca. Dizer que é linda, maravilhosa,
e usar outros adjetivos é pouco. Qualquer palavra
é insuficiente diante de tanta beleza estética.
Você caminha entre as figuras de variadas formas e tamanhos,
da voltas ao redor e a emoção vai invadindo todos
os espaços antes ocupados por qualquer tipo de
racionalidade usada para “tentar entender” as obras.
São tantas, e tão belas! Bronzes, mármores, materiais
pesados que foram transformados em plumas, tamanha
leveza visual. Espaço e forma se transformam numa
única peça. Ninguém deve perder a oportunidade de ver
a exposição. Não deixem também de prestar atenção nos

desenhos e esboços. Percam alguns segundos diante do pequeno
desenho da mãe do artista. Não deixem de ir!
E quando saírem vocês ainda poderão ver
a antiga ferroviária restaurada. Bom passeio.


9.5.05

PANORAMA.








Escorreguei. Quase caí.
Pisei sobre um cartão postal.
Céu azul anil sobre lago espelhado.
Aqui no campo.
Nas montanhas.
É tudo tão feio sem você.
Não se esqueça.
Amor.
O que você me prometeu.
Estou me transformando l-e-n-t-a-m-e-n-t-e
numa dessas vaquinhas malhadas da foto.
Minha língua. Uma lixa só.
Nem me diga.
Ontem descobri uma mancha enóóórme na
coxa esquerda.
Lembra?
Você me prometeu.
Que viria me buscar.
Lembra do que eu te disse?
Tudo bem. Sem cobranças. Tudo bem.
Não me incomodo tanto assim.
É lindo isso aqui. Lindo!
Parece paisagem de cartão postal.
O azul é fascinante.
O lago deslumbrante.
O problema são as montanhas.
Me sinto tão pequenininha, amor!





PILZ KOPF.








Odeio a palavra sistema.
Espanto-me ainda quando ouço alguém
empregá-la. Imediatamente sinto um cheiro
de mofo. Vejo o bolor ao redor da cabeça
do meu interlocutor.
Existe prazo de validade para palavras?

2.5.05

OS QUE ACHAM E OS QUE PENSAM.









Há quem diga eu acho que a todo instante.
Há os que acham que e não dizem nada.
Há os que não dizem nada, porque não acham nada.
Há os que pensam antes de achar qualquer coisa.