28.6.05

SAPATO FLORIDO








Dia cinza, frio e... a sensação é de entre safra.
Não sei se é possível. Mas é essa a palavra que
eu encontrei hoje para descrever como me sinto.
Nada profundo. Só uma sensação. Também cinza.
Ontem ganhei o livro “Sapato Florido”
do Mário Quintana editado pela Globo.
Capa bonita. Sépia da quase sempre um ar
de saudades nas fotos. E essa é delicada.
Para combinar com o conteúdo do livro.
No último post falei o quanto gosto de micro contos.
Não posso denominar de contos a prosa/poema do
Mario Quintana. Não é o caso. Mas é quase.
A gente lê pequenas estorinhas. Só como exemplo,
nesse curto poema/prosa chamado "Clopt! Clopt”
“É a ruazinha que tosse, tosse, engasgada com o
homem da muleta.”
Fica uma vontade de ler mais e mais e absorver
toda a leveza do seu texto.
O dia em P/B convida. Vou colori-lo com o

sapato colorido do Mário Quintana.

26.6.05

FUMAÇA BRANCA.









Quase final do domingo. Foi bom. O final de semana.
Descansei (aproveitei a nuvem zen que paira esses
dias sobre a minha cabeça). Hoje não vou falar sobre
os artigos de jornais. As noticias políticas estão fervendo
como pus, e eu não quero infectar ninguém com isso.
Ontem fui ao cinema. Assisti ao “Inconscientes”,
filme espanhol não muito elogiado pela crítica.
Eu gostei. O filme é bem feito, bem produzido e
engraçado. Brinca com as teorias do Freud de maneira
irreverente. Não precisa ser sempre profundo. Pode
ser despretensioso também. Valeu as quase duas horas
do filme. Antes disso, fui a um lançamento do

pequenino (10X14), mas bem feito livro do Fábio Fabrício Fabretti.
Eu ainda não o conhecia pessoalmente. Ele foi um dos caras
que pesquisou e ajudou a organizar as cartas do Caio F.

para o livro da editora Aeroplano (duas de suas cartas escritas
para mim, estão publicadas neste livro).
Começamos nossa amizade por telefone e depois fomos
trocando figurinhas até finalmente ontem quando nos
vimos pela primeira vez.
O pequeno livro de micro-contos foi editado pela
Editora 7 letras e tem mais dois autores, Thiago Picchi
e Ana Paula Maia. Chama-se “Sexo, Drogas e tralalá”.
Uma delícia. Contos curtíssimos, as vezes apenas uma
única frase, porém concisa e eficiente. Cheguei em casa
e devorei em pouquíssimo tempo. Gosto muito desse
tipo de literatura. Gosto muito do “secura” do F. F. F..
Cheio de humor sem perder a profundidade. Vale a pena!
É isso. Ainda é domingo, mas já com um pouco de
perfume de segunda feira. Espero poder manter
essa nuvenzinha zen ainda por um bom tempo
sobre a minha cabeça.

23.6.05

O ENFORCADO.









Hoje depois de ler sobre a carta do tarô “ O enforcado”
entendi o porque desta sensação limbosa que há dias
venho percebendo em mim. Quis saber mais. Fizeram-me
tirar uma carta. E tirei o “ O enforcado”. Homem de ponta
cabeça, pernas cruzadas em forma de quatro, pés amarrados.
Sinal de que é melhor ficar quieto. Esperar para não fazer
precipitadamente uma leitura errada da situação. Equívocos,
névoa sobre os olhos, obrigação de repensar o momento ou
o que foi feito até agora e os porquês, fim de uma era e novo
direcionamento. Há também provação. Crença posta a prova.
O mundo será diferente depois disso. Espero que sim.
Que passe logo. Alguém sabe me dizer quanto tempo a gente
fica assim, enforcado?

19.6.05

DOMINGO E OS JORNAIS.








Domingo é dia de ler os jornais com calma.
“xicrona” de café, música baixa para acompanhar,
de preferência só piano, sonatas ou qualquer coisa
de Bach para ajudar a reconstruir os pensamentos que
se diluíram no sábado.
O resumo de tudo que li hoje:
escândalos, políticos e econômicos, tantos que
já começo a confundir tudo. CPI do correio,
Roberto Mensalão, Zé Jeca Dirceu, Genuíno (tem certeza?)
ausência de auto-crítica da cúpula do PT (só faltou
o cheiro de mofo). Na parte cultural artigos fazem
uma “análise” sobre o centenário de Sartre. Alguns
informativos e outros de linguagem herméticas e de
pouquíssima contribuição. Servem apenas para
que o jornalista demonstre sua “erudição”.
Excelente crônica de João Ubaldo Ribeiro no Estadão
sobre os equívocos de interpretação do momento
político que atravessamos. No mais, lixo.
A impressão que fica, é que a maioria dos jornalistas
perdeu a capacidade analítica. Ruim para todo mundo.
Talvez apenas mais um reflexo da época em que vivemos,
na qual, bastidores e palco deixaram de ser/ter funções distintas.

15.6.05

O ÚLTIMO QUE SAIR FECHA A PORTA.










A velha e tão certa quanto duvidosa frase:
“no final vai dar tudo certo”.
Eu a ouvi hoje. Novamente. E novamente
pensei que preferia que não fosse no final,
mas agora. Não pretendo esperar até o final
para as coisas darem certo.Posso até me acostumar
com os finais felizes dos filmes/livros, mas na vida
não me acostumo. E nem quero. E tudo é relativo.
Alguém vai me dizer isso. Eu sei também que é.
E é mesmo. Mas e daí? Que tudo depende do ponto
de vista que cada um vê as coisas, e não se deve
alimentar expectativas, e aceitar as coisas como são
e tudo e tal. Bem. Eu não sou bicho. E mesmo se
fosse, acho que não aceitaria qualquer coisa que fizessem
comigo. Eu morderia, daria coices, enfim, alguma atitude
irracional eu tomaria. Como ser humano, tenho que
equilibrar racionalidade e emoção. Difícil.
Não estou sempre disposto a me comportar “comme il faut”.
Sou também irracional. Reivindico-me esse direito.

14.6.05

ANINHA SE APAIXONOU.










Desde que nascemos até o dia em
que morreremos. Fica a pergunta:
É mesmo assim? Tem que ser assim?
A sensação, o desejo, a manifestação,
a forma e a proporção (a rima não foi proposital)
que todos esses sentimentos assumem em
nossas vidas, é ou não é natural?
Leia o NOVO CONTO.
ANINHA, na coluna Contos Inéditos.

9.6.05

CRUZADA










Traço
no chão,
um novo passo.
São meus os pés que
movimentam poeira e vento.
Também
os olhos que lacrimejam,
e os rastros que deixei e nunca vi.


6.6.05

TRICÔ.









A mamãe sabia de tudo.
Muito antes. Tirou de letra.
Novo conto. Na coluna Contos Inéditos.
SAPATINHOS DE LÃ.

5.6.05

TRÊS ROSAS.









Três rosas brancas.
Delicadas.
Inodoras.
Frágeis.
Sobre minha mesa de trabalho.
Enamorei-me
Por elas.
Silenciosamente.

2.6.05

TEIA DE ARANHA.











Circular.
Correr.
Avançar.
Um pouco mais.
Antes de dar mais uma volta.
Retornar ao início de um novo círculo.
Recomeçar.
Circular.
Avançar.
Mais um pouco.
Antes de voltar ao início de um novo círculo.
Recomeçar.
Circular...avançar...

1.6.05

DENTRO DA GENTE.






Deve ser assim,
dentro da gente mora um anjo.
Transparente,
inodoro,
indulgente.
Sem conflitos,
sem dúvidas,
sem perguntas.
Deve ser assim,
um anjo que não se importa
com o que pensamos
dizemos,
e dizemos-que-pensamos.
Sem meias palavras,
sem piscar de olhos,
sem boca seca.
Deve ser assim
um anjo da guarda.
Mora dentro d’alma
escuta tudo,
não fala nada.
Revela devagar o que sabe,
o que veremos,
e quando preciso
o que esquecemos que vivemos.
Deve ser assim,
silencioso,
quase ausente,
iminente.
Dentro da gente
mora um anjo.