Os Contos Indiscretos de Sergio Keuchgerian são mesmo indiscretos. Transgressores. Felizmente o autor tem simpatia tanto pelo santo quanto pelo pecador. Ora são verdadeiras confissões, na primeira pessoa, ora são histórias narradas por um requintado e amoroso voyeur.
O escritor, cuja estréia no universo literário se deu primeiramente com um romance, o Diário da Busca, publicado em 2002, desta feita nos expõe, sem nenhum filtro, cada uma das almas dos personagens de seus Contos Indiscretos. Sejam eles homens ou mulheres. Em seu primeiro livro de contos, Sergio Keuchgerian denuncia sem pudor os pecados, as intimidades e os remorsos implícitos no DNA de cada um dos retratados. No entanto, não deixa de revelar com delicadeza, mesclada a humor, e muitas vezes a leve cinismo, a inocência e o amor incluídos no kit genético deles, surpreendendo, assim, o leitor puritano e preconceituoso de primeira viagem.
Os “Bonequinhos”, conto que abre o livro, não são exatamente inocentes brinquedos de crianças. Alguns leitores se espantarão porque a personagem não se refere a eles como algo que a deixou traumatizada. Ao contrário, ela sente saudade, afeto, gratidão. Originalidade do autor.
Diferentes temas fazem parte desta coleção de pequenos e preciosos Contos Indiscretos, sempre narrados de um ponto de vista poucas vezes encontrado na literatura brasileira: o casal do retrato apenas parece feliz; os dois, que aos olhos de todos parecem um, na verdade vivem num sufoco, numa prisão. Silvinha e Ferreirinha são apenas personagens de uma história de amor e melancolia? Em cada uma dessas pequenas histórias, há algo que vai além do que elas aparentam. Grandes amores também são revelados nesses Contos Indiscretos: pleno, em “A ilha” da velha Helena e seu gato Grafitte, embora o amado pertença ao passado. Belo, pecaminoso e musicalmente embalado por Bach, em “A ponte que os leva a Deus”.
Um livro belo, transgressor e delicado, em que fina ironia, crenças e dúvidas convivem com a inteligência e a sensibilidade do autor.
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