5.8.05

UM HOMEM NEM UM POUCO RIDÍCULO.









Ontem fui assistir a estréia de
“Sonho de um Homem Ridículo” peça baseada
no conto homônimo de Dostoievski.
Sai do teatro arrebatado pela excelente adaptação
do texto. Celso Frateschi, responsável pela dramaturgia
e interpretação, conseguiu em muitos momentos me
emocionar, não apenas pela sua extraordinária atuação,
mas por causa de sua imensa capacidade de contar estórias.
Acho que teatro bem feito é também isso.
Principalmente quando se trata de um monólogo. E o
Frateschi faz isso com perfeição.
A peça está em cartaz no Instituto Cultural Capobianco,
que fica no centro, num antigo sobrado transformado
em uma pequena sala com capacidade para apenas
noventa pessoas. O espetáculo é intimista, o teatrinho
ajuda, o cenário simples e a trilha sonora contribuiem
para prestarmos ainda mais atenção as palavras certeiras
minuciosamente estudadas e declamadas pelo ator.
Um belíssimo e sensível poema.
Bom programa para o fim de semana.
Exemplo de como a descrença pode servir de motor
para a transformação.

3.8.05

REALIDADE EM PERSPECTIVA.









Percebo o sentimento de urgência em estado de
diluição contínua. Há muitos motivos. Não conseguiria
agora enumerá-los. São diferentes em suas naturezas.
Mas há um em especial que eu reconheço, e ainda me
alegro por isso: a conscientização de que apesar das
dificuldades há crescimento. Em todos os sentidos.
Moral, ético, e conseqüentemente da auto-estima.
É bom sentir o que nasceu das minhas próprias entranhas
se espalhar pelo corpo e pela cabeça.

Estou escrevendo pouco aqui no Blog.
Tenho trabalhado muito. No final do
dia estou quase sempre muito cansado e
o tempo que me resta livre aproveito para
escrever meu novo romance.
Ao contrário do que muitos amigos
estão me perguntando por e-mail,
eu não pretendo acabar com o blog.
Vou deixando os meus recados
conforme o tempo me permitir.
Escrever tem dessas coisas,
nem sempre é possível interferirno ritmo.

29.7.05

AMARELINHA.

Abriu a porta da minha casa como se fosse a sua.
Atravessou a sala em busca do jornal.
Antes de se sentar e começar a ler as notícias do dia
perguntou-me: “e você, está bem?”


Primeiro ouvi um grito.
Um único grito.
Alto e estridente como uma sirene.
Depois, ouvi outros gritos.
Outros. Gritos.
Não tão altos nem tão estridentes como uma sirene.


Tem um labirinto dentro da minha cabeça.
Dentro da minha cabeça tem um labirinto.
Cabeça... labirinto... dentro...


Você não me disse, mas eu adivinhei o seu desejo.
Enfiei a mão dentro do seu bolso e peguei o drops.
Nunca pensei que alguém pudesse ler os meus segredos.

22.7.05

REFLEXÕES, REFLORESTAMENTOS, REFAZENDA.









Há um tempo para tudo.
Um para o início e outro para o fim.
E um também para o meio. Este é o mais difícil. Porque nunca
sabemos se estamos ainda no começo ou já próximo do final.
Quando estamos no meio de um percurso/história/acontecimento
que gostamos, então queremos que ele dure para sempre.
Se for o contrário, isto é, quando nos desagrada, então queremos
que ele chegue logo ao fim. Não há problemas. Tudo bem.
Também não estou me queixando. É só uma constatação.
A liçãozinha tem seu lado positivo. Fico mais relaxado.
Tem um ritmo próprio. Até mesmo no processo criativo.
Nem sempre as coisas andam como a gente gostaria.
As vezes temos tempo e as palavras não querem usufrui
dele da mesma maneira que a gente. As vezes não temos tempo
e elas vêm. Atropelam os pensamentos e se impõem.
Pedem para serem escritas imediatamente. E que assim
seja feita a vontade delas. Mãos a obra. E não poderia ser
diferente. Porque senão não faríamos parte da natureza.


Acordei com “Começar de novo... e contar comigo...”
na cabeça. Que será? Acho que tenho acompanhado
demais os últimos acontecimentos políticos do país.
Uma saudade do tempo em que seriado televisivo
tinha programas do tipo Malú Mulher cujo conteúdo
era repleto de indagações construtivas.
Não vá fazer ligação entre Regina Duarte e os
episódios da política nacional. Mas e aí?
E agora? Da para acreditar ainda em alguma coisa/
pessoa/instituição? Que tal começar de novo?
Acho que não vai sobrar outra alternativa.

19.7.05

MAPA DA VIDA








Insistir.
Não desistir.
Permanecer no caminho.

17.7.05

NO AR.









De algum modo que eu não consigo a olho nu
enxergar, eu também envelheço. E é bom não
ver, mas perceber as mudanças.
Explicações não são somente palavras sinônimos
que correspondem com exatidão ao que sinto.
Antes de tudo são frases que exprimem
um pouco do que consigo entender sobre mim.
Ontem falei que saturno abandonou o signo de
câncer e entrou em Leão. Não sei bem como
esta mudança vai refletir em minha vida.
Mas posso dizer da leveza que sinto agora.
Sou talvez auto sugestionável. Não me importo
com isso. Uma das mudanças iminentes e perceptíveis
que se instalaram dentro de mim, é exatamente a
relatividade da importância que algo possa ter ou
exercer sobre os meus atos.
Quando a palavra coerência começa a assemelhar-se
demais a palavra aparência, então prefiro não ser.

Mais registros:

Quando adolescente participei de alguns retiros
espirituais/religiosos organizados pelo colégio salesiano
em que estudei. Não aprendi muita coisa. Pelo menos
nada do que os padres desejavam que eu aprendesse.
Mas hoje me lembrei do prazer que sentia quando no
final da tarde eles nos obrigavam a ficar por mais ou
menos uns sessenta minutos sozinhos para meditar
sobre o que fora discutido durante o dia. Um prazer que
sinto até hoje quando me sento diante do computador
e escrevo estórias. Venho de volta para o eixo central.
Para dentro de mim. Para o que acumulei.

16.7.05

REGISTROS SABÁTICOS.

Hoje Saturno sai de Câncer e passa
a habitar o signo de Leão por dois anos.

Na madrugada acabei de escrever o nono
capítulo de um novo romance.

Mais do que nunca percebo como todos
os movimentos pertinentes ou não a minha
pessoa influenciam o meu trabalho.

Música, artigos de jornal, uma única palavra
ouvida “en passant” por casais falantes que
eu cruzo nas ruas, noticiário político,
um amontoado de informações que
de alguma forma também participam
do meu processo criativo.

Colcha de retalhos.
O artesão é um homem
capaz de juntar pedaços e fragmentos
da vida alheia.
A vida alheia só é alheia
porque equivocadamente pensamos
não fazer parte dela.

Admiro a coragem e a leveza
na vida do amigo “je bois”.

Não gosto de caminhar quando
o vento está rebelde como hoje.

Meu amor é maduro.
Mora num outeiro.
Tem um osciloscópio.

14.7.05

AGORA EU ENTENDI.








Hoje assisti a um desses programas televisivos feitos
por pastores evangélicos. Fiquei fascinado pela retórica e
a lógica dos apresentadores e seus convidados.

Você se une a igreja deles e Deus em poucos meses te
ajuda a saldar tuas dívidas e em mais alguns meses
você está recebendo os frutos e dividendos.
Porque, segundo o entrevistado, “Deus dá
somente aquilo que precisamos enquanto estamos na pior, Ele
sabe do que necessitamos nos momentos de dificuldade,
o resto, os frutos, regalias e a abundância ele dá só depois.”
Que tal?
O sujeito com uma cara limpinha, cabelinho com risca
lateral, esticadinho e brilhante, disse que em apenas alguns
meses ele saldou suas dívidas. O resto veio depois. Sua empresa
cresceu “vertiginosamente”, a mulher passou a amá-lo como
antes e as crianças estão felizes como nunca.
O que ele fez para “merecer” tal benção?
Nada. Entrou para a igreja e começou a rezar.
Por que só depois os frutos e dividendos,
quando ele já não precisa mais de ajuda?
Na hora pensei nos milhões arrecadados na cobrança
do dízimo, escândalo (um dos) mais recente no cenário
da política nacional. Talvez para que ele possa retribuir
generosamente aos bispos pela bênção recebida.
Também quero, esse canal aberto com o Deus deles.
Ter apenas que rezar e pronto:
as coisas melhoram e eu começo a prosperar, dia a dia,
clientes aparecerão do além, o dinheiro (não se esqueça,
primeiro somente o necessário) entrará na minha conta,
editores brigarão para publicar os meus livros,
meus cabelos crescerão, meus desejos enfim serão realizados.
Depois, quando tudo estiver bem, aí virão os frutos, dividendos,
champanhe, caviar, salmão defumado, carros, aviões,
enfim tudo aquilo que enquanto eu passava dificuldades
eu não ia ter mesmo condições de usufruir. Entendeu?
É tudo muito lógico.
Agora eu entendi porque no momento eu só estou recebendo
as migalhas. Porque Deus está me reservando tudo que é bom

para depois. Para quando eu não precisar de mais nada.

8.7.05

ANTES DE TUDO









Antes de tudo,
quando ainda andava mergulhado
nas profundezas de Florbela Espanca,
e a vida não havia tomado a forma disforme,
antes de tudo,
eu era um amontoado de sonhos não revelados,
e vidas ainda não vividas,
desconhecia a brevidade dos poemas concretos
e dos haicais minimalistas,
antes de tudo,
do descobrimento das palavras pontiagudas
e das pontuações necessárias para dar ritmo
as frases que aprendi a falar,
antes de tudo havia a vontade,
de descobrir a superfície,
de respirar ares,
e de sobrevoar terras distantes.

4.7.05

EXERCÍCIO.









Contrariando muita gente que conheço
eu gosto da segunda feira. Mesmo porque,
não nos resta outra alternativa, ela volta depois de cada
final de semana. Mas não era sobre o início da semana
que eu pensava falar. Era sobre singelezas.
No sábado assisti ao filme “Conversando com mamãe”.
Estou me tornando lentamente um grande fã do filme
argentino. O que o diferencia dos outros, pelo menos
nessa nova safra de filmes que tem vindo para cá, são
os temas simples tratados com dignidade e sensibilidade
raramente encontradas nos filmes atuais. Sem falar no talento
dos atores. O filme em questão conta a estória de um filho que
forçado pela mulher e sogra tenta convencer a mãe a sair do
apartamento onde mora para vendê-lo e assim cobrir suas
dívidas. Mas não é isso o que vemos. Lentamente mergulhamos
no fundo de um oceano mais complexo. Velhice, perda e resgate
dos ideais da juventude, cegueira provocada pela falta de coragem
de sermos o que realmente queremos ser, enfim, poderia enumerar
mais coisas, mas prefiro parar por aqui. Porquê no fundo o que
queria dizer é que nem sempre um filme forte é aquele repleto
de imagens que potencializam a realidade. Ele pode ser singelo.
Contar uma estória simples. E provocar muito mais emoções.
Sem recursos visuais hiper realistas, ou discursos longos sobre
como mudar o mundo. Simplicidade é o que conta neste filme
singelo, bem feito e quase água com açúcar.
Então retomo a segunda feira. Ao começo da semana que me
desejo, e também a vocês leitores deste blog,delicada

sem perder a leveza, realista sem dispensar os sonhos.

2.7.05

MIX DO BAMBAMBAM









Um pouco de tudo.
Suor, emoção, razão, praticidade,
preguiça, vontade, fome e náusea.
Um mix. Vindo de duas misturas que
juntas codificaram o meu DNA.
Gostei disso. E vou assumir também.
Esse meu lado pan.
Não sei se de panacéia ou de pancada.
Mas é um remédio sim. Que não cura.
Mas remedia. Entende?
Eu entendi.
Receitas lisérgicas. Têm a função de lindar a dor.
Aceito esse pouco de tudo.
Dentro do meu peito caucasiano
cabe muita coisa ainda.
Não tudo.
Porquê já sei o que não quero inspirar.
Mas muito do que ainda desconheço
e ainda quero mixar ao pouco de tudo
que sou.

1.7.05

DESCONGESTÃO.









Enquanto o botão “pause” estiver, contra a minha
vontade, pressionado, despejarei envelopinhos e
envelopinhos de sal de frutas em copos d’àgua .
Descobri a sensação instantânea de alívio e bem estar.

“O problema são os outros”
Quem foi mesmo que disse?

28.6.05

SAPATO FLORIDO








Dia cinza, frio e... a sensação é de entre safra.
Não sei se é possível. Mas é essa a palavra que
eu encontrei hoje para descrever como me sinto.
Nada profundo. Só uma sensação. Também cinza.
Ontem ganhei o livro “Sapato Florido”
do Mário Quintana editado pela Globo.
Capa bonita. Sépia da quase sempre um ar
de saudades nas fotos. E essa é delicada.
Para combinar com o conteúdo do livro.
No último post falei o quanto gosto de micro contos.
Não posso denominar de contos a prosa/poema do
Mario Quintana. Não é o caso. Mas é quase.
A gente lê pequenas estorinhas. Só como exemplo,
nesse curto poema/prosa chamado "Clopt! Clopt”
“É a ruazinha que tosse, tosse, engasgada com o
homem da muleta.”
Fica uma vontade de ler mais e mais e absorver
toda a leveza do seu texto.
O dia em P/B convida. Vou colori-lo com o

sapato colorido do Mário Quintana.

26.6.05

FUMAÇA BRANCA.









Quase final do domingo. Foi bom. O final de semana.
Descansei (aproveitei a nuvem zen que paira esses
dias sobre a minha cabeça). Hoje não vou falar sobre
os artigos de jornais. As noticias políticas estão fervendo
como pus, e eu não quero infectar ninguém com isso.
Ontem fui ao cinema. Assisti ao “Inconscientes”,
filme espanhol não muito elogiado pela crítica.
Eu gostei. O filme é bem feito, bem produzido e
engraçado. Brinca com as teorias do Freud de maneira
irreverente. Não precisa ser sempre profundo. Pode
ser despretensioso também. Valeu as quase duas horas
do filme. Antes disso, fui a um lançamento do

pequenino (10X14), mas bem feito livro do Fábio Fabrício Fabretti.
Eu ainda não o conhecia pessoalmente. Ele foi um dos caras
que pesquisou e ajudou a organizar as cartas do Caio F.

para o livro da editora Aeroplano (duas de suas cartas escritas
para mim, estão publicadas neste livro).
Começamos nossa amizade por telefone e depois fomos
trocando figurinhas até finalmente ontem quando nos
vimos pela primeira vez.
O pequeno livro de micro-contos foi editado pela
Editora 7 letras e tem mais dois autores, Thiago Picchi
e Ana Paula Maia. Chama-se “Sexo, Drogas e tralalá”.
Uma delícia. Contos curtíssimos, as vezes apenas uma
única frase, porém concisa e eficiente. Cheguei em casa
e devorei em pouquíssimo tempo. Gosto muito desse
tipo de literatura. Gosto muito do “secura” do F. F. F..
Cheio de humor sem perder a profundidade. Vale a pena!
É isso. Ainda é domingo, mas já com um pouco de
perfume de segunda feira. Espero poder manter
essa nuvenzinha zen ainda por um bom tempo
sobre a minha cabeça.

23.6.05

O ENFORCADO.









Hoje depois de ler sobre a carta do tarô “ O enforcado”
entendi o porque desta sensação limbosa que há dias
venho percebendo em mim. Quis saber mais. Fizeram-me
tirar uma carta. E tirei o “ O enforcado”. Homem de ponta
cabeça, pernas cruzadas em forma de quatro, pés amarrados.
Sinal de que é melhor ficar quieto. Esperar para não fazer
precipitadamente uma leitura errada da situação. Equívocos,
névoa sobre os olhos, obrigação de repensar o momento ou
o que foi feito até agora e os porquês, fim de uma era e novo
direcionamento. Há também provação. Crença posta a prova.
O mundo será diferente depois disso. Espero que sim.
Que passe logo. Alguém sabe me dizer quanto tempo a gente
fica assim, enforcado?

19.6.05

DOMINGO E OS JORNAIS.








Domingo é dia de ler os jornais com calma.
“xicrona” de café, música baixa para acompanhar,
de preferência só piano, sonatas ou qualquer coisa
de Bach para ajudar a reconstruir os pensamentos que
se diluíram no sábado.
O resumo de tudo que li hoje:
escândalos, políticos e econômicos, tantos que
já começo a confundir tudo. CPI do correio,
Roberto Mensalão, Zé Jeca Dirceu, Genuíno (tem certeza?)
ausência de auto-crítica da cúpula do PT (só faltou
o cheiro de mofo). Na parte cultural artigos fazem
uma “análise” sobre o centenário de Sartre. Alguns
informativos e outros de linguagem herméticas e de
pouquíssima contribuição. Servem apenas para
que o jornalista demonstre sua “erudição”.
Excelente crônica de João Ubaldo Ribeiro no Estadão
sobre os equívocos de interpretação do momento
político que atravessamos. No mais, lixo.
A impressão que fica, é que a maioria dos jornalistas
perdeu a capacidade analítica. Ruim para todo mundo.
Talvez apenas mais um reflexo da época em que vivemos,
na qual, bastidores e palco deixaram de ser/ter funções distintas.

15.6.05

O ÚLTIMO QUE SAIR FECHA A PORTA.










A velha e tão certa quanto duvidosa frase:
“no final vai dar tudo certo”.
Eu a ouvi hoje. Novamente. E novamente
pensei que preferia que não fosse no final,
mas agora. Não pretendo esperar até o final
para as coisas darem certo.Posso até me acostumar
com os finais felizes dos filmes/livros, mas na vida
não me acostumo. E nem quero. E tudo é relativo.
Alguém vai me dizer isso. Eu sei também que é.
E é mesmo. Mas e daí? Que tudo depende do ponto
de vista que cada um vê as coisas, e não se deve
alimentar expectativas, e aceitar as coisas como são
e tudo e tal. Bem. Eu não sou bicho. E mesmo se
fosse, acho que não aceitaria qualquer coisa que fizessem
comigo. Eu morderia, daria coices, enfim, alguma atitude
irracional eu tomaria. Como ser humano, tenho que
equilibrar racionalidade e emoção. Difícil.
Não estou sempre disposto a me comportar “comme il faut”.
Sou também irracional. Reivindico-me esse direito.

14.6.05

ANINHA SE APAIXONOU.










Desde que nascemos até o dia em
que morreremos. Fica a pergunta:
É mesmo assim? Tem que ser assim?
A sensação, o desejo, a manifestação,
a forma e a proporção (a rima não foi proposital)
que todos esses sentimentos assumem em
nossas vidas, é ou não é natural?
Leia o NOVO CONTO.
ANINHA, na coluna Contos Inéditos.

9.6.05

CRUZADA










Traço
no chão,
um novo passo.
São meus os pés que
movimentam poeira e vento.
Também
os olhos que lacrimejam,
e os rastros que deixei e nunca vi.


6.6.05

TRICÔ.









A mamãe sabia de tudo.
Muito antes. Tirou de letra.
Novo conto. Na coluna Contos Inéditos.
SAPATINHOS DE LÃ.

5.6.05

TRÊS ROSAS.









Três rosas brancas.
Delicadas.
Inodoras.
Frágeis.
Sobre minha mesa de trabalho.
Enamorei-me
Por elas.
Silenciosamente.

2.6.05

TEIA DE ARANHA.











Circular.
Correr.
Avançar.
Um pouco mais.
Antes de dar mais uma volta.
Retornar ao início de um novo círculo.
Recomeçar.
Circular.
Avançar.
Mais um pouco.
Antes de voltar ao início de um novo círculo.
Recomeçar.
Circular...avançar...

1.6.05

DENTRO DA GENTE.






Deve ser assim,
dentro da gente mora um anjo.
Transparente,
inodoro,
indulgente.
Sem conflitos,
sem dúvidas,
sem perguntas.
Deve ser assim,
um anjo que não se importa
com o que pensamos
dizemos,
e dizemos-que-pensamos.
Sem meias palavras,
sem piscar de olhos,
sem boca seca.
Deve ser assim
um anjo da guarda.
Mora dentro d’alma
escuta tudo,
não fala nada.
Revela devagar o que sabe,
o que veremos,
e quando preciso
o que esquecemos que vivemos.
Deve ser assim,
silencioso,
quase ausente,
iminente.
Dentro da gente
mora um anjo.


30.5.05

A VIAGEM DE LUCI.










Tem um novo conto na
coluna CONTOS INÉDITOS.
Leia e comente!
"LUCI IN THE SKY"

OCO.









Não há perguntas.
Não há respostas.
Há o tempo,
que atravessa lento
e pesado como um rio,
a transbordar os dias
e as noites claras.

27.5.05

DECOMPOSIÇÃO.










Penso na soma de todos os meus anos.
Penso em assimilação, aquisição, e
rejeição de valores.
Penso na composição entre fatos e atos.
Penso em maturidade.
Penso em decomposição,
consciente,
indesejada,
necessária.
E também na que restará ainda para
ajudar a decompor o futuro.
Decompondo me recomponho.

24.5.05

UNA FURTIVA LÁGRIMA.









Uma pequena gota espremida entre
a palma das nossas mãos resistiu
horas sobre as linhas de nossos
destinos teimosos e ricos em baixos
e altos mais baixos do que altos.

Nossos dedos entrelaçados apertaram-se
ainda mais em razão do caminho traçado
pela gota salgada e furtiva seqüestradora
de nossos segredos.

Na altura dos pulsos ela desistiu e rompeu
em direção contrária inesperadamente
correndo em sentido inverso alcançando um
dos nossos dedos e vazando por entre nossas
alianças a minha ou a sua eu não me lembro
agora.

Espatifou-se no chão a coitada aliviada e
claustrofóbica gota levando consigo um pedaço
de nossas vidas e um pouco do tempero
que até então sustentava nosso amor.

23.5.05

UM PENSAMENTO.









Pensei em começar assim:
“exceto as verdades universais, todas
as outras são um misto de crença e vontade”.
Um pensamento surgido repentinamente
do nada, para o nada, para me perturbar.
A razão, desconfio, foi a caminhada, ida e volta,
que fiz do meu apartamento até o centro de São Paulo.
Caminhar faz bem, dizem as pessoas.
Talvez em outras cidades. Outros lugares
que não sejam aqui onde moro.
É difícil acreditar em qualquer coisa,
quando se tem o privilégio e antagonicamente
o azar de enxergar.
Caminhar por esta cidade é estar permanentemente
em conflito com suas próprias crenças e verdades.
É se sentir privilegiado por muito pouco.
É se sentir injusto por querer ser justo.
É não querer ver o que se está vendo.
É fatalmente indignar-se com a própria indignação,
teimosa, burra, e antiquada.
Caminhar pela cidade de São Paulo
é voltar para casa com a cabeça vazia
de crenças e vontades.
É voltar para casa apenas com as verdades universais.
Nasci há quarenta e três anos,
e morrerei um dia.

21.5.05

CONTO INÉDITO.











Acaba de ser postado.
Logo ao lado na coluna
dos contos inéditos.
"A QUESTÃO DO DESPERDÍCIO"
Faça seu comentário!

PALAVRAS QUE NOS LEVAM A PENSAMENTOS QUE...









"As vezes nos colocamos em situações
rídiculas quando queremos ocultar
quem realmente somos."
Do escritor José Ovejero.

18.5.05

FIM DE TARDE NO EDIFÍCIO "VIS-À-VIS".










Fim de tarde.
O sol, vestido de rosa choque, se despede da cidade.
No terraço do décimo andar do edifício “Vis-à-Vis” um jovem
louro-califórnia, e um senhor de cabelos grisalhos conversam.
Aparentemente como dois bons amigos.
O velho acaricia o braço musculoso do rapaz.
Este se afasta abruptamente.
O velho insiste. O rapaz não quer ser tocado.
È possível ler palavras no abre-fecha dos lábios dos dois homens.
Há uma discussão.
Há, visivelmente, uma tensão no ar.
Depois de alguns minutos o velho faz uma nova tentativa.
É possível ouvir o nãããããão do rapaz.
O velho gesticula muito e repentinamente começa a estapeá-lo.
O jovem, muito mais forte, agarra firme em seu pescoço.
O velho cai de joelhos. Vê-se apenas sua cabeça grisalha
alguns centímetros acima do batente do terraço. Inclinada.
Para esquerda. Para direita.
O jovem continua com as mãos grudadas em seu pescoço.
Por alguns minutos não é possível perceber o que está acontecendo.
Segundos depois o velho parece reagir.
É possível perceber movimentos.
A cabeça grisalha volta a se mover.
Para frente e para trás, para frente e para trás.
Ininterruptamente, para frente e para trás, para frente e para trás.
O jovem levanta os olhos para cima.
Vê-se sua língua deslizar por todo o contorno dos seus lábios.
Um sorriso largo e brilhante se desenha em seu rosto.
Seus cabelos dançam a canção dos ventos.
Agora a cabeça grisalha não se move mais.
O jovem sorri. Nitidamente.
Sorri enquanto enxuga o suor do rosto.
Depois, por alguns segundos, desaparece atrás do batente do terraço,
e logo em seguida reaparece levantando o corpo do velho.
A cabeça grisalha pende para um lado e para o outro.
Ergue-se de uma só vez, impulsionada pela força do jovem que
parece lhe sorrir.
Há um silêncio no ar.
O jovem louro-califórnia ajeita os cabelos grisalhos do velho.
Carinhosamente lhe beija as duas maçãs do rosto.
Como dois bons amigos.

Permite que o velho lhe acaricie o braço.

17.5.05

GO AWAY.









Espero.

Sobre a faixa de pedestres.

Acompanho teus movimentos.

Passos largos,
masculino exibido,
mão no bolso/ajeita saco,
olhar fixo aqui no outro lado da rua.

Lá onde estou,
um pé sobre a calçada,
outro sobre a zebra,
vou-não-vou,
devo-não-devo.


Espero.

Sobre a faixa da terra,
eu invisível.

Você,
wild/lemon/brut.

A sola dos seus sapatos
size 41,
deixaram pegadas
na minha testa.



11.5.05

TESTEMUNHO.








Recebi um questionário do www.amalgamar.com.br/blog.
Demorei um pouco para responder por falta de tempo.
Mas aí está. Vamos ao que interessa.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Muitos. Mas um em especial me vem a cabeça.

Pelas belas imagens e vontade de degustar o conteúdo,
“Em busca do tempo Perdido” do Proust.

Já alguma vez ficaste perturbado(a) por um personagem de ficção?
Várias vezes. Com alguns personagens de Nelson Rodrigues por exemplo.
E quase todos que fazem parte do excelente e quase esquecido romance
“Crônica da Casa Assassinada” de Lucio Cardoso.
Também com o Ulrich, o “Homem sem qualidades” de Robert Musil.

O último livro que compraste?

Foi o “Como me tornei estúpido” de Martin Page.
Muita fumaça para pouquíssimo fogo. Uma decepção.

Qual o último livro que leste?
Foram dois:
“Angu de Sangue” de Marcelino Freire
e “Melhores Contos”
de Lygia Fagundes Telles.

Que livro estás a ler?
Novamente são dois: “Política” de Adam Thurnwell, jovem inglês
considerado revelação por lá, e releio “Crime e Castigo” do Dostoiéviski.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Não gosto da idéia de estar numa ilha deserta.

Mas se fosse inevitável, todos os do Fernando Pessoa
e um Laptop cuja bateria fosse recarregável por energia solar.

A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?
Por razões diversas, secretas e que envolvem muito carinho e respeito:
Felipe Greco, Alcides Nogueira e Moacyr San.

10.5.05

HENRY MOORE PARA TODOS.











Hoje fui ver a exposição de Henry Moore
na Pinacoteca. Dizer que é linda, maravilhosa,
e usar outros adjetivos é pouco. Qualquer palavra
é insuficiente diante de tanta beleza estética.
Você caminha entre as figuras de variadas formas e tamanhos,
da voltas ao redor e a emoção vai invadindo todos
os espaços antes ocupados por qualquer tipo de
racionalidade usada para “tentar entender” as obras.
São tantas, e tão belas! Bronzes, mármores, materiais
pesados que foram transformados em plumas, tamanha
leveza visual. Espaço e forma se transformam numa
única peça. Ninguém deve perder a oportunidade de ver
a exposição. Não deixem também de prestar atenção nos

desenhos e esboços. Percam alguns segundos diante do pequeno
desenho da mãe do artista. Não deixem de ir!
E quando saírem vocês ainda poderão ver
a antiga ferroviária restaurada. Bom passeio.


9.5.05

PANORAMA.








Escorreguei. Quase caí.
Pisei sobre um cartão postal.
Céu azul anil sobre lago espelhado.
Aqui no campo.
Nas montanhas.
É tudo tão feio sem você.
Não se esqueça.
Amor.
O que você me prometeu.
Estou me transformando l-e-n-t-a-m-e-n-t-e
numa dessas vaquinhas malhadas da foto.
Minha língua. Uma lixa só.
Nem me diga.
Ontem descobri uma mancha enóóórme na
coxa esquerda.
Lembra?
Você me prometeu.
Que viria me buscar.
Lembra do que eu te disse?
Tudo bem. Sem cobranças. Tudo bem.
Não me incomodo tanto assim.
É lindo isso aqui. Lindo!
Parece paisagem de cartão postal.
O azul é fascinante.
O lago deslumbrante.
O problema são as montanhas.
Me sinto tão pequenininha, amor!





PILZ KOPF.








Odeio a palavra sistema.
Espanto-me ainda quando ouço alguém
empregá-la. Imediatamente sinto um cheiro
de mofo. Vejo o bolor ao redor da cabeça
do meu interlocutor.
Existe prazo de validade para palavras?

2.5.05

OS QUE ACHAM E OS QUE PENSAM.









Há quem diga eu acho que a todo instante.
Há os que acham que e não dizem nada.
Há os que não dizem nada, porque não acham nada.
Há os que pensam antes de achar qualquer coisa.

30.4.05

BOA VIAGEM.









Re-visitar o tempo,
Rever velhos sonhos,
Relembrar vontades,
acomodar-se no presente.

Desfazer as malas,
Desdobrar as roupas,
Desvencilhar-se do pó,
traduzir o momento.

Reencontrar o início,
o fio do novelo,
Varrer as migalhas para fora,
Re-inventar o jazz.

Recomeçar a sonhar,
a visitar o tempo,
Interpretar o momento,
Propagar a paz.

28.4.05

AUTUMN LANDSCAPE, UMA RELEITURA.









Por um instante,
um infinito e único instante,
vi na fumaça do seu cigarro
ainda apagado,
o segredo a espera

do ato consumado.



27.4.05

MINI-MANTRA-MAXI, PARA REPETIR.









Que a alegria não me deixe cego
e não me transforme em egoísta,
e o sofrimento jamais sufoque

minhas esperanças.

25.4.05

YAN, YANG E ANEXOS.

Sou adepto a relações afetivas.
Independente de cor, raça, nacionalidade
e orientação religiosa. Sempre fui.
Insisto em não me relacionar apenas superficialmente
com o mundo. Quero mais. Foi sempre assim.
Conheço. Identifico. Traduzo e procuro entender.
Não jogo fora. Jogo para dentro. Depois remexo
e realizo a transformação. Materializo as imagens
e me envolvo. É isso. Sou avesso ao “ficar”.
Quero casar com todo mundo. Para sempre.
Até que a morte nos separe.
Dane-se as teorias acomodativas.
Guerrear é necessário quando o objetivo
é fincar âncora dentro de outros corações.
Sou um coração disponível.
Invento meus amores.

24.4.05

PEDAÇO DE MIM.











Foi buscar lá no fundo,
o pedaço do mundo
escondido sob a poeira
da memória preguiçosa.

Re-descobriu paisagens
onde há algum tempo
passeou livremente.
Colheu guarnição e bebeu
água cristalina.

Satisfez suas vontades:
lavou as mãos e o rosto,
umedeceu os cabelos,
refrescou a sola dos pés e
adormeceu sobre as raízes
de uma velha e forte castanheira.

Sonhou sonhos épicos.
Unicórnios e fadas voadoras,
touros falantes de falos gigantes,
sangue, oferendas, e multidões.

Acordou com o zum-zum-zum
das abelhas.
Espantou-se com o que viu e ouviu:
vasto campo de papoulas a perder
de vista. Imenso tapete vermelho
a balançar de um lado para o outro
repetindo em coro; acóóórda, acóóórda,
já é hóóóra, hóóóra, hóóóra...






21.4.05

SOMOS. O QUE SOMOS?










Somos um pouco
do que dizem que somos,
com um pouco do
que dizemos ser.

Somos também outro pouco
do que pensam que somos,
com outro pouco do
que pensamos ser.

Somos a vontade permanente
do que dizem que somos e
do que pensam que somos.

A busca constante do que
desejamos ou não ser.

Somos num só tempo,
um pouco de tudo,
e a possibilidade,
mesmo que imaginária,
do que nos é possível ser.



13.4.05

3, 2, 1, JÁÁÁ´.










Como um brinquedo, talvez um lego. Peças de encaixe.
Uma após outra, os pedaços começaram a
formar uma figura. Ainda não sei o que será,
também não sinto necessidade de saber.
Urgência é coisa de ambulância, pronto socorro,
e eu estou longe, muito longe de disparar por aí
com luz e sirene a todo vapor.
Até penso ter ficado um tempo na UTI.
Devo ter ficado. Não foi ruim. Não foi bom.
Foi um tempo onde os sentidos repousaram
para recuperar a energia. Tratei-me. Trataram-me.
Trato-me com delicadeza. Porquê somos, corpo e alma,
dois futuros amigos que acabaram de se conhecer.
Constrangedor. Mas bom demais. Reconhecer os sentidos.
Depois de tanto tempo. Tanto tempo. E a redondeza
contribuindo para deteriorar o que mal começou.
Somos fortes, os novos amigos. E a marginalia não nos interessa.
Nunca nos interessou. Mesmo quando ouvimos, cheiramos, e até
tateamos, fizemos de conta que. Nos tornamos experts na brincadeira.
Adorável. Bom saber que é possível parecer parte de um todo
cuja essência abominamos. Tudo só joguinhos humanos.
Amigo nosso, negro/judeu/Freudjunguiano/doutor-em-alma-penada,
nos ajudou a ver o todo. Não é tão grande assim. É só o todo.
Algo menos. Muito menos que a figura em construção.
Ai, e eu já estou gostando dela, antes mesmo de conhecê-la.
Da forma e das cores que refletirá quando botarem os olhos
sobre ela. Do nome que lhe darão. E vou rir muito. Não por
desprezo aos mortos/vivos, descobridores atrasados. Mas por
prazer. Sentimento muito parecido com o que sinto agora,
enquanto monto essa figura ainda irreconhecível.

11.4.05

0PUS.37, KLAVIER KONZERT C-MOLL, 2º MOVIMENTO, LARGO.BEETHOVEN










Infinitos,
Vastos,
Verdes,
Pastos.

Infinitos,
Largos,
Claros,
Lagos,

Infinitos,
Horizontes,

Infinitas
Fontes.

Infinitas,
Melodias,

Infinitos,
Momentos
Finitos.

9.4.05

PROFUNDO.










Deparei com a frase
lendo meu horóscopo,
no meu sígno ascendente:
O destino é, antes de mais nada,
filho da necessidade.
Me fez pensar sobre o
parceiro da necessidade,
quer dizer, o pai do destino.
Será que tem um só, ou ela
é moderninha e não se preocupa
com essas coisas de fidelidade?
Talvez por isso ele (o destino)
seja frequentemente malquisto
e tão veemente insultado pela
maioria das pessoas.
Resultado do mix de DNAs
dos genitores.



8.4.05

O QUE É?.

Acabo de postar um novo...
Definição não é o meu forte.
Chama-se VIDA, o novo texto
postado na seção CONTOS INÉDITOS.
Boa leitura, e defina como quiser.

4.4.05

EU E VOCÊ.










Era eu.
Era você.
Éramos apenas nós.
Eu e você.
Apenas nós,
dois eus
que não haviam se encontrado.
Dois nós,
que ainda eram apenas eus.
A procura de nós,
antes de sermos dois
em um,

que ao encontrar o outro
deixou de ser apenas eu,
ou apenas você,
e se transformou
em dois eus,
que agora
somos
nós.


EMBRULHADOR DE PACOTES.










Embrulhar, desembrulhar, embrulhar, desembrulhar.
Enfim eu aprendi. Foram quase nove meses embrulhando
e desembrulhando para em seguida embrulhar
e desembrulhar novamente. Agora minhas mãos
parecem poder fazer o trabalho sem ajuda nenhuma.
Quase nem preciso mais olhar para elas enquanto
embrulho e desembrulho. Se duvidarem de mim,
eu embrulho e desembrulho de olhos fechados.
Para todo mundo ver. Não importa o tamanho do pacote.
Nem a forma. E muito menos o tipo de papel ou material
com o qual ele fora embrulhado. Eu embrulho e desembrulho.
Com apenas uma mão. Ou com as duas. Com a esquerda.
Ou com a direita. Eu embrulho e desembrulho.
Que venham os pacotes. Grandes ou pequenos.
Quadrados ou redondos. Leves ou pesados.
Tragam-me os pacotes. Eu os embrulharei,
e depois eu os desembrulharei.
Não há pacotes que eu não possa embrulhar e desembrulhar.
Há algo que deve ser embrulhado para depois ser desembrulhado.
Só isso. Nada mais.

3.4.05

SOL DE OUTONO










Já é possível perceber a diferença na luz do sol.
É o “sol do outono”.
Generoso, revela segredos que
“o do verão” ocultava.
Doura muros, paredes de prédios
e casas, e faz brilhar a superfície das folhas.
Suave, nos permite ainda perceber a beleza das
formas moldadas pelas sombras que produz.
Acaricia nossas cabeças
e prepara o caminho inevitável do inverno .
Traz uma sensação de leveza e calmaria.
Mais baixo, menos onipotente,
nem por isso menos poderoso.
Seja bem-vindo, “sol do outono”,

descanse em paz sobre todos nós.

1.4.05

MINUS GRAD.










Guardei na memória
a visão dos imensos jardins
que antecedem o velho castelo.
A variedade das espécies das árvores, e
o pequeno lago onde a solitária moradora
da imensa propriedade se afogou.
Onde durante quase todo inverno as crianças e os
velhos brincavam sobre a água congelada.
Disseram-me que ela se suicidou.
Por desilusão e dor. Amor não correspondido.
Tristeza e auto comiseração.
Você sabe o que eu quero dizer.
Será?
Será que sabe?
Será que já sofreu um dia? Por amor?
Já sentiu aquela dor profunda no peito vazio?
A vontade de gritar para todo mundo ouvir
e em seguida virar o rosto para ver quem é o
dono daquele grito?
Ainda guardo na memória a imagem daquelas
árvores quase nuas e de suas folhas descoloradas no chão.
O ruído das vozes das crianças
e dos velhos misturando-se ao dos meus passos.
Fazia frio. Lá fora e também dentro de mim.
Você sabe o que eu quero dizer.
Será?
Será que sabe?
Será que já sentiu frio dentro de você?
Um frio que congela a alma e nenhum tipo
de receita de banhos de simpatia consegue
resgatar a sensação de conforto?
Ainda guardo na memória o ruído das vozes
das crianças e dos velhos misturando-se ao
barulho provocado pelo ranger dos meus dentes.
Eles estavam felizes.
Jogavam bocha e deslizavam com seus pequenos trenós.
Lembro-me muito bem de tudo.
Eles pareciam felizes.
Apesar do frio e da neve.
Brincavam sobre o lago congelado,
onde a solitária moradora do velho castelo
morrera afogada.
Aquela que se suicidou.
Nas águas rasas do pequeno lago
onde os velhos e as crianças ainda hoje

jogam bocha e deslizam com seus pequenos trenós.

31.3.05

DESIGN INTERIOR.










horizontes infinitos,
oceanos profundos ,
matas fechadas,
florestas virgens,
tribos escondidas,
e a vontade petrificada
para que tudo permaneça
da mesma maneira.


30.3.05

IMPONTUAL.









Encontrei-me comigo mesmo há
alguns metros de minha casa.
Cumprimentei-me de longe.
“Oi”, falei bem baixinho.
“Oi”, ouvi de mim mesmo.
Em seguida seguimos os
nossos caminhos,
eu e meu outro eu.
Do furtivo encontro o que mais
me chamou a atenção
foi ver-me refletido
nos olhos dele.
Senti um misto de
constrangimento e curiosidade.
Um frio na barriga.
Percebi um Q de interesse
estampado em nossas pupilas.



28.3.05

COLÍRIO UNIVERSAL.










Há uma árvore chamada cegueira.

No meio das ruas,
Das avenidas,
Nos mercados,
Sob as pontes,
Nos jardins,
Praças,
Casas.

Há um fruto de cegueira,

Nas cabeças,
Dentro dos estômagos,
Nas barrigas,
Em cada passo,
Em cada gesto,
palavra,
respiro.

Há uma epidemia de cegueira.


Há quem não creia,
Não sinta,
Não fale,
Não veja.

Há antídotos,
Cura,
Remédios.
Nos interiores,

Dos nossos corações.

24.3.05

PARA VARIAR.








Um novo conto.
A PONTE QUE OS LEVA A DEUS.
A estória resumida de Padre Plínio e
Irmã Theodósia. E da ponte que os leva a Deus.
Clique em Contos Inéditos e boa leitura.

21.3.05

CABE A MIM.










Cabe a mim,
resgatar energia,
inspirar-me da vontade de,
imaginar cenários,
decorá-los,
juntar as peças,
e recomeçar.

Cabe a mim,
alimentar a energia,
manter a vontade de,
procurar outras peças
para novos cenários,
novamente decorá-los
e recomeçar.

Cabe a mim,
dosar energia,
selecionar a vontade de,
dispensar velhas peças,
limpar os cenários,
redecorá-los
e recomeçar.

Cabe a mim,
recomeçar a resgatar
a vontade da vontade de,
recomeçar a preencher cenários
com imagens e peças,
recomeçar a recomeçar
a recomeçar.

19.3.05

GOTAS DA MEMÓRIA.









Lembro-me muito bem daquelas
gotas de orvalho congeladas.
São cristais, alguém me disse.
Os pingos d’água solidificaram-se durante
a noite, enquanto dormíamos.
Transformaram-se em lindos brincos
pendurados nas pontas dos galhos das árvores.
Não sobreviverão por muito tempo, alguém me avisou.
E não sobreviveram.
Algumas horas depois, elas desapareceriam com
o calor do sol.
Escorregaram novamente em forma de gotas e
pingaram sobre a terra fria.
Foram cristais, lindos e cheios de brilho,
dissemos simultaneamente.
Por um tempo. Cristais.
O suficiente para nos encantar.
O suficiente para serem chamadas de cristais.
O suficiente para esse alguém me pegar pelo braço
e levar-me para bem próximo delas para admirá-las.
O suficiente para fazerem parte da minha história.
O suficiente para serem registradas nas minhas retinas
e nunca mais se desprenderem da minha memória.
O suficiente para se transformarem em duas
lágrimas que agora escorrem dos meus olhos.
O suficiente para tocarem meus lábios
e me fazerem sentir o gosto do sal.
O suficiente. A medida certa.
No tempo certo. Na hora exata.
Cristais valiosos que não pude ter.
Presentes raros que não pude guardar.
Gotas de orvalho congeladas,
desaparecidas para sempre.
Para nunca mais voltarem.
Para nunca mais chamarem a sua atenção.
Para nunca mais poder sentir sua mão em meu braço.
Para eternamente viverem em minhas lembranças.



18.3.05

MOEDORES RESISTENTES.












Não posso deixar de descrever o pensamento.
Por vezes os dias são como moedores de carne.
Feitos de manivelas ágeis e material resistente.
Somos reduzidos a pedacinhos.
Humildes e pacientes.
Esperamos por um novo dia.
E um novo moedor ressurge na linha do horizonte.
Para recomeçar a moer o que restou do
dia anterior.

14.3.05

CONCERTO DO MEIO AQUI MENOR.











Overture

A escassez, assim como a abundância de
sentimentos, é degenerativa.
Como sempre o meio termo seria o ideal.
Nem muito aqui, nem muito acolá.
“Ai ai ai (canta o coro uníssono) como é
desgastante equilibrar-se entre os extremos”.

1º movimento – Alegro maestoso.

Abre as asas sobre mim,
cafona e exageradamente emocional
juras de amor deslizam em colheradas
goela abaixo.

2º Movimento – Andante com motto.

De lá para cá.
Constante. 1.0 subindo a serra.
Olhos revirados para cima.
O vento quase não sopra.
O que se vê é branco e previsível.

3º movimento – Menuetto.

Ainda previsível.
O branco chama a atenção.
Sim, sim, resultado de mistura de cores.
Ninguém quer isso assim,
branco, e sem ventos.

4º movimento – Finale.

Ainda é branco o que se vê.
Sempre foi. Sempre será.
“Há, há, há, (canta o coro uníssono)
não adianta se desgastar, o meio é o
branco e sempre será.”






12.3.05

O COLHEDOR NO CAMPO DE.










Acordei que pastava.
O sol, para não fugir à regra,
fritava meus miolos.
Não havia água, nem mato.
Campo infinito de infinitas impossibilidades.
Enfiei as quatro patas na terra seca.
Empaquei por falta de alternativas.
Muuuuuh eu urrei a cada rajada de vento que
fingia anunciar novas chuvas.
Muuuuuh acordei que sonhava.
Muuuuuh.


10.3.05

DO FORNO...









Um novo conto acaba de sair do forno.
Porque eu não sei e não tenho mais nada
para fazer, a não ser contar estórias.
"DONA DADÁ". Clique em CONTOS INÉDITOS,
e entre você também no velho sobrado .

8.3.05

AINDA PRIMATA.










A razão isolada.
Embutida numa caixa craniana.
Longe da essência.
Escondida. Infiel.
Enamorada. Amante do imaginário.
Envelope de conteúdo secreto: urgentíssimo.
Mãe dos primatas, primitivos, precursores.
Língua viajante. Passaporte itinerante.
Eu sou você livre de mim.
Eu sou você de carne e osso.
Eu sou você em movimento.

PRIMATA.









Olhei para os meus pés.
Pela primeira vez chamei-me de primata.
Implorei-me intensamente o equilíbrio.

7.3.05

A PAZ QUE VIRÁ.










Acordei pensando em abandonar as armas.
Escovei os dentes, fiz a barba e sob a ducha orei.
O ralo ampliou suas dimensões.
Sugou baionetas, revólveres, facas e estiletes.
Sobrou-me, além dos vícios inofensivos, a fé.
Encoberta por toneladas de material bélico
eu já nem me lembrava mais dela.
Incolor, leve e cheirosa, não me disse nada.
Silenciamos os dois. Ainda nos estranhamos.
Ainda.

5.3.05

PARA DENTRO DE MIM.









Para o fim de semana. Tem mais um novo
conto para você. "PARA DENTRO DE MIM".
Clique em Contos Inéditos. Boa Leitura.

4.3.05

O CAMALEÃO FALANTE.









Encontrei-o na beira de uma fonte.
Numa praça perto de casa.
Esticado sob o sol quente do meio dia.
Olhei para ele desconfiado. Era de verdade ou
um brinquedo, esquecido por alguma daquelas
crianças que costumam ir passear acompanhadas de
suas babás? Cutuquei-o com o pé e ele soltou um grito.
“Aaai, num ta vendo eu aqui? Que saco, num se pode nem
tomar sol sossegado nessa praça!”
Me assustei. Nunca vira (e muito menos ouvira) um camaleão
falar.
Pedi desculpas e quando já começava a fugir ele me chamou.
“Ei, ei, você aí. Promete que num vai contar pra ninguém que
eu to aqui?”

Eu respondi rapidamente que sim.
Queria sair logo de perto dele.
Achei que estivesse enlouquecendo.
Mas quando me distanciei do camaleão falante, fui acometido
por uma curiosidade incontrolável. Por que será que ele não
queria que soubessem de sua presença naquele parque?
Voltei. Ele ainda estava no mesmo lugar e continuava verde.
Perguntei a ele sobre a razão de seu desejo.
Sua resposta foi curta e grossa.
“Cansei. Não quero mais ficar mudando de cor.
Quero ser verde pra sempre. Quem sabe não sou confundido
com um lagarto e consigo viver em paz.”
Olhei para ele e comecei a rir.
“Ta rindo de que?”
De nada, eu respondi.
“Eu sei, eu sei, você deve estar pensando que sou louco,
mas se fosse uma criatura como eu, e passasse a vida toda
tendo que mudar de cor, um dia você também pensaria assim.”
Tudo bem, eu lhe disse tentando acalmá-lo, tudo bem. Não
vou sair por aí dizendo pra todo mundo que encontrei um
camaleão falante. Não se preocupe. Fique tranqüilo.
Olhei para ele e percebi que ele começava a enrubescer.
Antes que eu pudesse avisá-lo, ele percebeu que o tom verde
de sua pele, começava a dar lugar a outras cores.
Enquanto seu olho esquerdo inspecionava o próprio corpo,
o direito me encarou melancólico e desanimado.
“É nisso que dá querer ir contra a natureza. Uma vez camaleão,
para sempre camaleão.”
Argumentei que isso era maravilhoso. Que beleza, eu disse. Ter a
benção de Deus para colorir a pele de várias cores, poder se camuflar.
E depois, argumentei ainda, você é o único camaleão falante que
eu conheço.

Penalizado, quis aproximar-me dele para acariciá-lo,
mas assim que dei um passo em sua direção, ele deslizou

rapidamente para cima de uma árvore.
Corri atrás dele e demorei um pouco para avistá-lo.
Quando o avistei, sua pele já havia se transformado nos tons verdes
das cores das folhas.
Tentei comunicar-me mais algumas vezes, mas ele não respondeu
aos meus apelos. Fiquei sob a árvore por mais algumas horas. Fiz
apelos e juras. Tudo em vão. Seus olhos giraram várias
vezes em minha direção. Fixaram-me até, mas falar que é bom,
ele não mais falou.
Voltei a encontrá-lo outras vezes, e a mesma estória se repetiu.
Assim que eu me aproximava para persuadi-lo a conversar comigo,
ele subia numa das árvores e se escondia entre o colorido das folhas.
Depois de muitas tentativas me cansei. Fui obrigado a aceitar sua
vontade. Que ficasse entre as folhas. E verde, como um lagarto.



2.3.05

NOVO CONTO PRA VOCÊ.





Recém "postado", o "VERMELHOS" ,
logo ao lado, em Contos Inéditos,
é só clicar e boa leitura.
Comentários são sempre bem vindos.

28.2.05

O POUCO QUE SABEMOS.









Sabemos muito pouco.
Eu, você...
Ignoramos o quanto.
E jamais saberemos as conseqüências e/ou
seqüelas resultantes deste não saber.
Para muitos preocupar-se com o que não
sabemos é estupidez.
Para mim angústia.
Para você, tanto faz.
Cada cabeça uma sentença, é o que se diz.
E eu penso: quero juntar essas sentenças,
montar uma estória, revelar segredos.
Fazer chegar ao outro, partículas de outros tantos.
Recolher as sobras. Preencher vazios.
Evitar desperdícios. Dividir excessos.
Você se espantaria com as descobertas.
Eu também.
Mesmo assim continuaríamos ignorantes, você diria.
Um pouco menos. Talvez.
E eu, certamente teria novas estórias para contar.


26.2.05

ORAÇÃO DO DESCRENTE.











Pai nosso,
dai-me a vontade para
querer acreditar,
na existência do senhor.
Dai-me a vontade,
para querer acreditar,
na existência da divindade.
Dai-me a vontade
para querer acreditar
na existência da vossa vontade.
Faça me crer
que ela seja
nada mais que a bondade.
Pai nosso,
dai-me a vontade para
aceitá-lo todo poderoso
e chamá-lo Deus.
Tanto na terra como no céu.
E por último
e derradeiro desejo,
a vontade,
apenas a vontade,
nada mais que a vontade
de livrar-me da tentação
de não querer tê-la.



25.2.05

PODE SER NADA.










Pode ser tudo.
O que você quiser.
Quadraturas.
Planetas retrógrados.
Restos de um pó astral
de efeito moral.
Não sei. Não quero saber.
Cansei de esperar.
os efeitos passarem.
Observo. O atraso.
Sem intenções de entender.
Compreender não é antídoto.
É compreender. Só isso.
E eu cansei. Por isso.
Pode ser tudo.
O que você quiser.
Ou nada.
Como eu quero agora.
Nada.
Porque não existe nada.
Que me prove o contrário.
Que não seja o atraso.
Por isso. Eu cansei.
Pode ser tudo.
O que você quiser.
Ou nada.
Como eu quero agora.