31.1.09

RECEITA PRONTA


Uma das maiores dificuldades do homem é igualar sua idade mental/emocional a sua idade cronológica. Reúna um punhado das pessoas que você conhece, acrescente a esse punhado você mesmo, e analise honestamente cada um deles, então vai perceber que minha afirmativa é verdadeira. Ninguém quer acreditar que já saiu há anos das protetoras paredes uterinas e que agora é responsável por sua própria vida. O mundo está abarrotado de bebês com mais de quarenta anos e outros tantos que se incitam mutuamente pela manutenção do universo jardim de infância do qual eles fazem de tudo para não sair. Sou pelo abandono das chupetas, mesmo que essa atitude gere choro e histeria. Todos sobreviverão de qualquer forma. Alguns substituirão as chupetas pelos dedos, outros encontrarão as drogas e outras cositas para saciar a vontade, mas de alguma forma serão obrigados a crescer.


Segundo minha querida astróloga, a crise econômica não é tão passageira como todos gostariam de acreditar. Ela vai persistir até 2012. Então crianças, comecem a lavar suas próprias fraldas.

Desconfio que uma das características que diferenciam as pessoas maduras das imaturas, é a coragem das primeiras para encarar suas próprias dificuldades. Desconfio ainda que não adianta nada informar as imaturas sobre essa diferença. Porque duas das características evidentes das pessoas imaturas são: fazer julgamentos parciais e ouvir somente o que lhes interessa. Então... o jardim da infância vai continuar superlotado.

30.1.09

GRUPO DOS "SEM SONHOS"

Sou talvez uma das únicas pessoas que conheço (será mesmo que me conheço?) que quase não se lembra dos sonhos que teve. Quase a maioria diz que sonha toda noite e se lembra perfeitamente do sonho. Talvez porque eu demoro tanto tempo para pegar no sono, que quando chega a hora deles entrarem dentro da sala de projeção do meu cérebro já está quase amanhecendo. E como todo mundo sabe para se sonhar é imprescindível o escurinho. Até consigo me lembrar que sonhei, mas logo as imagens e lembranças se desfazem. Mas essa semana dois sonhos não dissolveram já nas primeiras horas da manhã. Ficaram e me acompanharam durante o resto do dia. Não vou contá-los porque alguém poderia ter a idéia de me internar, mas foi bom me sentir incluído na maioria. Não que eu não desfrute do fato de pertencer à minoria dos “sem sonhos”. Mas por algumas horas pude ficar pensando a respeito, fazendo análises menos ou mais profundas sobre as imagens e diálogos que vi e ouvi, e como a maioria dos “com sonhos” não chegar à conclusão nenhuma. Inúmeras hipóteses e teorias, mas realmente nenhuma certeza do significado daquele filme particular em que fui o ator principal. Acho que prefiro continuar no grupo dos “sem sonhos”. Pelo menos conscientemente não consigo ver vantagem nenhuma em sonhar. É apenas mais uma pedra para retirar do caminho cheio de pedrinhas que percorro durante o dia, e para quem quase todo o tempo anda descalço, isso já é uma grande coisa.

28.1.09

LER E AMAR SÃO OS ANTÍDOTOS

A todo instante há controvérsias. Nelas, você tem a oportunidade de dizer o que pensa e não diz. Porque por algum motivo acha mais conveniente se calar ao invés de se posicionar e defender seu ponto de vista. Você pensa, mas não diz o que pensa. Horas depois chega em casa e repassa mentalmente tudo o que poderia ter dito. Mas não disse. Não abriu a boca e conseqüentemente não revelou o que pensava. Pode ser estratégia, esperteza, preguiça, sapiência, maturidade, vontade de ser um ser bege e se confundir com o muro do cemitério e mais outras mil coisas, mas pode também ser covardia.

Por outro lado você pode sair por aí emitindo opiniões aos quatro cantos, mesmo quando ninguém demonstrar interesse em saber o que você pensa. Depois chegar em casa e concluir que teria sido melhor você ter se calado. Aquele não era o melhor momento para falar tal e tal coisa, ai meu Deus por que é que eu não consigo me controlar e etc...

Há momentos em que é melhor se calar porque de qualquer forma o teu interlocutor não está interessado em ouvir o que você pensa, mas sim em só falar. Tem uma compulsão em ouvir sua própria voz dizendo o que pensa, não quer dialogar, mas monologar. Um horror, mas esse tipo de gente faz parte da maioria. Fala-se muito, ouve-se pouco e o resultado desses “diálogos” é um desperdício de palavras e desgaste. Fugir é a única saída. Vire as costas e vá embora, vai perder o seu tempo tentando explicar qualquer coisa, o/a cara não vai entender nada, mas é melhor assim, pode acreditar, esses tipos não têm um alarme ou semancol, eles só têm vontade de impor o que pensam.

Mais uma razão para pegar um livro e se sentar em algum lugar silencioso e ler. Se o livro te encher o saco, você o encosta em algum lugar ou dá para alguma outra pessoa ler. Se for prazeroso, nenhuma conversa será capaz de substituí-lo. É um pouco disso que “fala” o último livro que li. “Ler, amar e viver em Los Angeles”, escrito a quatro mãos por duas jornalistas americanas, Jennifer Kaufman e Karen Mack. Eu havia lido uma crítica no ano passado quando o livro foi lançado. Depois passou, esqueci. Estava no aeroporto fuçando as prateleiras de uma livraria quando o encontrei e resolvi comprá-lo. Li o livro em três dias. O livro é gostoso de ler, flui e prende a atenção do leitor. Tem citações interessantes sobre outros escritores e a história é bem contemporânea. Uma boa dica para as férias. Fica um recado a editora Casa da Palavra: o trabalho de preparação de texto tem que ser fiscalizado. Há alguns erros no texto que poderiam ter sido evitados se o texto tivesse sido melhor preparado. Não são erros de tradução, mas de preparação. Mesmo assim, valeu a pena.

27.1.09

PÂNICO



Saí de casa hoje de manhã disposto a entrar em uma academia de ginástica para avaliar o preço da mensalidade e me matricular. Fui direto a uma onde há dois anos eu havia me exercitado. Entrei, a mocinha da recepção estava atendendo uma senhora e gentilmente disse que logo me atenderia. Ok. Olhei ao redor, muitos garotos fazendo musculação, outras cinco ou seis pessoas correndo sobre as esteiras, uma falsa loura com cabelos exaustivamente escovados (não me pergunte como eu sei, mas eu sei). Dei dois passos em direção a mesma porta por onde eu minutos atrás havia entrado. A moça da recepção começou a se despedir da senhora que acabava de atender. Olhou para mim. Parei. Refleti alguns segundos se ia ou não ia me apresentar a ela. A música techno/disco/rave/balada serviu como um alarme e me ajudou a decidir. “Vou até ali e já volto para falar com você”. Nunca havia reagido assim antes. Voltei para casa. Tentei “elaborar” o que aconteceu. Ainda não sei. Vou almoçar primeiro, depois vou gastar algumas calorias pensando a respeito. Quem sabe descubro a razão da tensão pré academia vivenciada algumas horas atrás. Estou suando só de pensar.

25.1.09

PÉS NO CHÃO

Não me lembro de ouvir alguém falar em “arremeter” há alguns anos. Talvez eu não prestasse tanta atenção antes dos acidentes aéreos que acontecerem nos últimos dois anos. Mas comigo é a segunda vez em menos de seis meses que justamente o avião em que eu sou passageiro é obrigado a “arremeter. Na quarta feira chegando ao Rio de Janeiro, já estávamos quase pousando quando de repente o piloto decidiu “arremeter”. Depois disso sobrevoamos a cidade quase cinqüenta minutos antes do comandante decidir que as condições para aterrissar estavam boas. Quando pus os pés na terra a adrenalina já havia tomado conta de todo o meu corpo, e eu estava me sentindo bastante perturbado. Detesto me sentir impotente dentro de uma cápsula voadora e não saber porque ela está tremendo ou dando inúmeras voltas sobre o mar. Preferiria que os pilotos mentissem, dissessem qualquer idiotice para me acalmar. “Senhores passageiros, mudamos de idéia e decidimos sobrevoar a cidade para que os senhores possam apreciar o panorama e conhecer de cima a cidade... dentro de instantes daremos continuidade ao serviço de bordo e...” , qualquer coisa, menos “arremeter” sem aviso prévio. Fora isso, o Rio continua lindo, mesmo com chuva.

Nas minhas idas e vindas percebi que os aeroportos têm o poder de alterar o comportamento de algumas pessoas. Basta elas botarem os pés dentro do território chamado aeroporto para que elas se sintam big stars e passem a agir como se fossem especiais ou celebridades. Reparem; elas passam a falar com a voz alterada no celular, não tiram os óculos de sol mesmo quando estão fazendo o check in ou já estão dentro do avião, e fazem questão de demonstrar despojamento a tudo que é periférico. Lógico que não sabem, mas são uns jecas.

A leitura ainda está em primeiro lugar nas paradas dos meus prazeres. Mais do que isso: para mim é salvação. Se não pudesse me apegar a literatura, mergulhar em histórias, não sei o que faria comigo mesmo, talvez seria um novo serial killer, uma variedade de maníaco do parque. A leitura tem o poder de me reorganizar emocionalmente, me abstrair das pequenezas da vida e me recolocar dentro de um universo onde o que menos importa é o que penso.

21.1.09

NEM TUDO QUE RELUZ...

Assisti alguns trechos da posse do Obama, durante a maior parte da cerimônia peguei no sono. Acordava de vez em quando para dar mais uma espiadinha e toda vez ouvia os jornalistas do canal globo news especularem qual seria a frase marcante do discurso dele que ficaria para a eternidade. Hoje quando acordei li um artigo na internet sobre um livro de uma escritora francesa que será lançado em mais de dez países. A matéria diz que ela foi caixa de supermercado por mais de uma década, estudou letras e que escrevia um blog contando seu dia a dia e sofrimento. Ela disse que era massacrada pelos clientes e muitas vezes ignorada. Quando era percebida, então era “humilhada”. Imagino e consigo entender também sua raiva. Com todo o respeito a sua dor, ninguém vai ao supermercado para “ver” a ou o caixa, mas para comprar o que precisa e quer se mandar o mais rápido possível. Lógico que se espera o mínimo de educação desse consumidor, bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado, até a próxima e etc... O que ela queria? Trocar receitas, fazer terapia, saber os motivos que levam o comprador a comprar tal marca e não outra, onde cortava o cabelo? Bem, o que tem a ver a expectativa dos jornalistas pela frase marcante do discurso do Obama com a new writer? Nada e tudo. A necessidade de se criar uma história “interessante” para valorizar o produto que se está pretendendo vender. Não basta o cara fazer um discurso, tem que se encontrar uma frase que sintetizará o seu governo, porque o Lincoln e o Kennedy tiveram frases que marcaram seus discursos e então o Obama também terá que ter a dele e blá blá blá. Assim como se cria uma história que justifique a publicação do livro da caixa sofredora e o impulsione para os primeiros lugares das listas dos mais vendidos. Ao contrário do Obama, que ficará anos em evidência e teremos tempo para averiguar se a frase pinçada pelos jornalistas (será que eles conseguiram?) e seu governo serão coerentes, provavelmente a caixa sofredora voltará a sofrer com sua predestinada invisibilidade. É a tendência, com raras exceções. Não ignoro a realidade contemporânea: a visibilidade é necessária num mundo que avalia a qualidade do produto pelo grau de celebridade do autor. Tem que aparecer para vender, caso contrário, até nunca mais. Mas isso não quer dizer que estou de acordo com as regras impostas pelo mercado. Não vou criar expectativas sobre a conduta de um homem ou seu governo em razão de uma única frase que ele disse. E sei que por trás das palavras brilhantes utilizadas para me encantar e fazer comprar um produto, há muitas outras ofuscadas e que são tão ou mais verdadeiras. Aquele que utiliza palavras brilhantes deve ter consciência de sua responsabilidade quanto à manutenção do brilho delas. Se o tempo chamuscar esse brilho, então, você já sabe, eram apenas palavras preparadas para brilhar por um curto tempo. As verdadeiras vencem sempre, mesmo quando reprimidas pelos raios brilhantes. Ao Obama meu voto de confiança e fé, a escritora caixa sofredora, boa sorte, e que o brilho da estréia seja duradouro.

19.1.09

VELHINHOS

Quis assistir o “O curioso caso de Benjamin Button” ontem no final da tarde, mas quando vi a fila para comprar ingresso, continuei andando, parei para tomar um café e voltei para casa. Fui agora na sessão das 18:00 horas, sem filas, tranqüilo. Gostei do filme, mas não acho que tem cacife para levar prêmio. Talvez de melhor maquiagem, que é primorosa, mas o Brad Pitt começa a trabalhar da metade do filme em diante, antes disso não acho que ele atua, sua performance é correta, não tem muito espaço para interpretações. Cate Blanchet teria mais chances. O filme demanda paciência. A narrativa é lenta, mas a gente permanece porque quer ver como tudo acabará. Não conheço o conto do Fitzgerald no qual ele foi baseado, mas suponho (por corporativismo assumido) que ele deve ser melhor.

No fim de semana acabei de ler “Três vidas” de Gertrude Stein. Nos três contos que compõem o livro fui eu quem me arrastei para terminar de ler. Sei da importância dela no inicio do século passado, seu vanguardismo comportamental numa época conservadora, mas achei os contos um bocado chatos. Até chegar ao ponto em que quer chegar, ela se repete muitas vezes, e isso torna a leitura cansativa. E repete também a fórmula encontrada para introduzir o leitor no universo dos personagens. Outra coisa que foi me irritando era com muita freqüência começar as frases com o nome deles, por exemplo: “Melanctha gostava desse mulato sério e...” , já no próximo parágrafo “Melanctha passava o fim de tarde....”, no seguinte “Melanctha sempre conseguia se esquivar...”, enfim é muita Melanctha abrindo parágrafos para minha cabeça. G. Stein, não fique nervosa, sei que você brigou com muita gente quando morou em Paris, defendeu seus pontos de vista com veemência, mas até a Melanctha ficaria cansada de ouvir seu nome ser repetido tantas vezes num único parágrafo.

17.1.09

AO SUGO

Não sei por que algumas pessoas vêem a vida com leveza e outras não. Não sei se existe uma pesquisa a respeito. Não sei se o histórico de vida, condições sociais, o amor que receberam desde criancinhas, genética, alienação, satisfação sexual, poder, dinheiro, educação e tudo o mais que um pesquisador incluiria em seu questionário poderia responder. Talvez chegasse perto, mas como sempre existiriam as exceções. O que sei é que quando essa leveza quer dizer não-ignoro-todas-as-tristezas-do-mundo-mas-apesar-de-tudo-continuo-acreditando”, ela faz bem ao seu dono e as pessoas que por sorte o conhecem. Deve ser uma mistura entre consciência e fé, ou alguma coisa como o ponto perfeito do macarrão, um “al dente”, nem tão cru que a gente não consiga mastigar e digerir, e nem tão cozido que se transforme numa única pasta sem gosto.


14.1.09

LEITURAS E A CHUVA.

Há dias eu contei que havia comprado o romance de estréia “O fim do Alfabeto” do autor canadense CS Richardson. Pois bem, acabei de ler o pequeno romance ontem a noite e me decepcionei um pouco. Esperava mais da história que me pareceu interessante assim que li a sinopse na contracapa do livro. Um sujeito que no dia do seu aniversário de cinqüenta anos descobre que tem uma doença mortal e que viverá no máximo mais um mês. Resolve então viajar ao redor do mundo seguindo a ordem alfabética. A idéia (está difícil me acostumar com a idéia de ter que escrever idéia sem o acento agudo) é boa, mas o autor não conseguiu me emocionar. Nas visitas pelas cidades nada de interessante acontece que possa demonstrar que haverá uma transformação até o final do livro. Ele relembra alguma passagem de sua vida, completamente sem importância para o desenrolar da história, e segue viagem para a próxima cidade acompanhado por sua mulher, que coitada fica meio a margem da história, seguindo a ordem maluca do marido. Na contracapa a sinopse anuncia que em Istambul a viagem toma um rumo inesperado. Pelo menos no meu exemplar não aconteceu nada de especial. Eles fizeram amor, foi a única diferença que notei, ou não tive sensibilidade para perceber algo de inusitado. Também a forma narrativa que o autor (com todo o respeito, será a tradução?) dá ao texto é fria, não conseguiu me envolver. Li o livro inteiro porque queria saber o final, mas não me proporcionou prazer e emoção como imaginei que faria. De A a Z nada aconteceu.

Não me lembro de ter visto tantos raios nas últimas chuvas de verão que caíram sobre a cidade. Bonito de ver da janela do meu apartamento. E amedrontador. Ao contrário de muita gente que conheço, eu gosto de chuva. Gosto do ar fresco que fica depois que ela cai e também de observar ela chegar, as nuvens se formando e o exército de pingos grossos que saem de dentro delas. As vezes tenho vontade de ir para a rua e deixar que ela me encharque até os ossos. Há pouco tempo fiz isso. Voltando do centro começou a chover e eu não me escondi. Voltei caminhando normalmente. A sensação primeiro é de desconforto, mas depois a gente se acostuma, e o corpo responde como se precisasse beber a água que vem de algum lugar que ele reconhece não sendo de um chuveiro. Experimente, equivale a uma sessão de terapia. Ajuda a lavar as impurezas da alma.

13.1.09

INVESTIMENTOS

No meio da tarde, um calor indecente, me refugiei dentro de uma sala de cinema. “Café dos Maestros” é um filme/documentário Argentino que conta a história do tango e de seus personagens. Bom, na linha do Buena Vista Social, mas com tipos mais caricatos que os cubanos. Três pessoas na sala, ar condicionado e boa diversão. Saí de lá pensando no que costumava ouvir dos recém aposentados na Áustria: é preciso gostar de fazer alguma coisa para não enlouquecer quando envelhecer. O tango é o que faz de toda aquela gente acima dos setenta anos continuar a viver. No meu caso em particular a literatura é a salvação. Ler e escrever, antídotos contra as pequenezas da vida.

Graças a Deus a chuva já está batendo a minha janela. Venha meu bem, venha me refrescar, limpar o ar e transformar esta sauna em céu aberto em uma cidade mais confortável.

Voltei a pé para casa. No meio do caminho encontrei uma pedra. Havia uma pedra no meio do meu caminho. Desviei e segui meu trajeto. Parei em uma academia de ginástica para me informar sobre o preço da mensalidade. Deveria ter pegado a pedra que estava no meio do meu caminho e atirado no estabelecimento. Ouvi o preço e me senti esfaqueado. Como assim? Ouvi direito? Tem certeza que este não é o valor da anuidade? Não obrigado. Mas você está fazendo um investimento para o futuro. Entendi. Faço a matrícula, pago taxas de avaliação, e já no primeiro mês começo a engordar as contas do dono da academia. Não obrigado. Continuo fazendo minhas caminhadas pelas ruas da cidade. Os tipos certamente são mais variados e interessantes, as paisagens mais belas que aqueles aparelhos de musculação, e o melhor, não custa nada.

11.1.09

O ÓBVIO, COMO SEMPRE.

Ontem fui ao cinema, assisti a um filme chamado “Alguém que me ame de verdade”. Culpa minha. Fui porque achei o tema interessante. Na sinopse do jornal tudo parecia mais interessante e convidativo “a história de uma judia e uma palestina que acabam ficando amigas e etc...” Poderia ser um bom filme se não tivesse sido feito da maneira que foi. Cada vez mais o cinema norte americano atual me decepciona e irrita. Conta a história de maneira didática e piegas, obviamente usando de estereótipos ao extremo, judeus e palestinos caricatos, nos dizendo como devemos pensar e agir, enfim, uma bobagem para agradar cabeças de bagre. Serve para sessão da tarde, num dia de chuva. Só isso, mais nada.

Assisti ao filme no cine Bombril. Lá eles vendem o ingresso com o número do assento que escolhemos. A mocinha do caixa nos mostra o mapa da sala com os números dos assentos livres na hora em que compramos o ingresso. Então, seria lógico me sentar no assento que escolhi. Seria se não tivesse tanta gente sem noção na mesma sessão. E não é que tinha um débil mental sentado no meu lugar? Tem que explicar para o sujeito que o lugar foi escolhido por mim na hora em que comprei o meu ingresso “É tudo a mesma coisa.” Não. Não é tudo a mesma coisa, se fosse eu não teria escolhido aquele assento na hora em que comprei o meu ingresso. Quando eu digo que o óbvio tem que ser dito, me chamam de prepotente ou qualquer outra coisa. E mais uma dezena de débeis mentais que foram obrigados a trocar de lugar porque haviam se sentado no assento de número errado, atrapalhando o início do filme e incomodando o público.

9.1.09

DIFERENÇAS E ACHADOS

Hoje caminhei, caminhei, caminhei, sob o calor da tarde, e para ir de um lugar ao outro utilizei o metrô, as calçadas, atravessei ruas. Curioso como a gente está no meio de tanta gente enquanto é transportado, mas ao mesmo tempo está sozinho e carrega dentro de si tantos pensamentos em silêncio enquanto se transporta. Acho que qualquer um de nós dá um grande passo na evolução individual, quando percebe a profunda diferença que há entre os seres humanos e nem por isso se sente mais ou menos do que o outro. Só constata que é diferente. Parece fácil e óbvio, e é mesmo óbvio, mas na prática cada um de nós se acha especial e então a coisa complica. Carregamos diferentes pensamentos, atitudes, afetos, medos, raivas, amores, todo um universo particular que só é percebido quando revelado pela palavra enquanto nos relacionamos. Dentro de nós tudo parece se encaixar, ter uma lógica, mas quando o que era interno vai para o lado externo nem sempre as peças encontram seu encaixe.

Depois de dias fuçando e sem saber o que queria ler, comprei um pequeno romance chamado “O fim do alfabeto” de um autor para mim desconhecido, chamado CS Richardson. Comecei a ler ainda na livraria, depois falo mais dele.

De carona comprei também o “Três vidas” da G. Stein, que faz parte da bonita coleção de capa dura que a Editora Cosac e Naify vem lançando. Tenho os outros, como, por exemplo, os contos da Virgina Woolf. A coleção é linda, não dá para resistir.

8.1.09

SEGMENTINHOS

A síndrome da tela branca, aquela que (quase) todo escritor diz pelo menos uma vez na vida ter passado pode acontecer dentro da nossa cabeça também. Nos últimos dias uma tela branca se instalou dentro da minha. Acendeu sozinha. Não consigo pensar além do que devo e não devo fazer para cumprir as obrigações do dia. Criar alguma coisa é algo tão distante que tenho a impressão de que quando a tela resolver se apagar eu terei que ser reapresentado a mim mesmo. A noite estou cansado, e por mais que eu queira a tela continua ligada. Deve ser um período de transição entre o fim dos dias que passei na praia e os dias que ainda virão. Apesar de tê-la notado, faço de conta que ela não está me atrapalhando. Uma hora a energia dela se esvai por si só e eu reinício minha vida sem ela. Por enquanto vou cumprindo função. Faço o que devo fazer sem reclamar. Estou me estranhando.

Perdi meus óculos e sei exatamente onde os perdi. Eu os deixei sobre uma mureta quando resolvi trocá-los pelos escuros. Não vou encontrá-los nunca mais, alguém os levou embora, mesmo que eles não sirvam para os seus olhos.

No embalo do mundo da Maysa, se o meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar... Adoro essa frase. Lembra um pouco a frase que meu pai me disse quando eu ainda era criança: se você brigar na escola e apanhar, vai apanhar de mim aqui em casa também. Suuuper educativa não? Antigamente era assim, os brutos também amavam. Mudou, não sei se para melhor ou pior. Há também outras formas dissimuladas de terror, mais sutis, que a gente só percebe quando está no meio da coisa. Ou nem percebe, só sente e continua no meio da coisa tentando sobreviver.

7.1.09

SEGMENTOS II

Vivendo e aprendendo. Talvez uma das poucas frases feitas quase sempre verdadeiras. Conheço muita gente que continua vivendo e não aprendendo. Não basta estar vivo, tem que querer, e isso definitivamente quer dizer experimentar e extrair alguma coisa do que experimentou. É necessário um conjunto de atributos como sensibilidade, inteligência, disposição, coragem e força para fazer valer o ditado. Tem que exercitar muito, insistir e não desistir, cair, levantar e continuar a querer aprender. Alguns nascem com o pacote completo, outros precisam agregá-los durante o percurso. O que é que a gente ganha com isso? Nada material. Satisfação pessoal, sabedoria, esperteza, auto-confiança, nível satisfatório de auto-estima, enfim.

Da série “meu mundo caiu”. Como assim? Então preciso verbalizar o que sou, quando todos os meus atos repetidamente explicitam e escancaram minha personalidade e tudo o que sinto?

Pelo jeito os bons filmes também saíram de férias.

SEGMENTOS

Não gosto muito da forma como o Manoel Carlos está contando a história da Maysa. De trás para frente, por meio das lembranças do seu marido, Andre Matarazzo. Não sei o que ainda realmente me incomoda, talvez os cortes, ou os diálogos repletos de frases de efeito para melhor demonstrar a personalidade forte dela. Teria preferido ver a história contada com começo/meio/fim. Mas vou continuar assistindo, me interessa. E gosto da produção e da bela fotografia e luz da minissérie. E lógico, das músicas e do vozeirão da Maysa. Já havia me esquecido de um detalhe da minha vida. Quando Maysa morreu naquele acidente de carro, eu era adolescente e estava pela primeira vez no Rio de Janeiro, precisamente em Jacarepaguá, de férias na casa de uns amigos dos meus pais. Lembro deles comentando e da tristeza que contagiou todos. Nem me recordava mais disso. Só agora assistindo a minissérie é que essa passagem da minha vida me veio a cabeça. E outras cositas também que fizeram parte daquele verão. Bom quando a gente ainda está apenas começando. Não tem muita experiência, tudo é novidade, os sentidos estão desprotegidos, a curiosidade aguçada... Faz tempo.

Desde sexta feira quando voltei de viagem já fui duas vezes à livraria e voltei com as mãos vazias. Não sei o que está acontecendo. Entro, olho tudo, leio as centenas de títulos e... nada. Amanhã vou fazer mais uma tentativa.

Meus pensamentos ainda estão segmentados. Meu corpo anda duvidoso. Quero, não quero, quero, não quero. O meio da semana chegou, já trabalhei bastante e tento comer menos. Desintoxicar e recomeçar são as palavras que me vêem a cabeça.

Palestinos e Israelenses.
Pessoas de fé. Não quero nenhuma explicação racional. Não consigo ver desse jeito. E não quero aprender a entender o conflito historicamente. Penso nas vidas dos cidadãos dos dois lados. O tempo que Deus lhes deu para viver.

3.1.09

PAÍS DE JECAS

Foram doze dias, nem mais nem menos, para confirmar (no fundo eu já sabia, mas me culpava por achar que não deveria ser tão preconceituoso): cada vez mais os jecas tomam conta de todos os espaços públicos e não públicos do país. Não importa onde você foi passar os feriados do natal e réveillon, você certamente foi obrigado a dividir seu espaço com eles. E não adianta vir me dizer que não devo escrever como se não fizesse parte da nação, faço sim, mas não sou e nem quero fazer parte do que fui obrigado a ver/ouvir/conviver/dividir. Diferentemente das descrições Canettianas sobre massa e poder aqui seus conterrâneos te obrigam a não querer fazer parte de nada. Somos o país dos idiotas. Gente sem noção da existência de direitos individuais, propriedade privada e pública. E o pior, que se orgulha de ser assim, desrespeitosa, ignorante e jeca.

Abaixo uma lista com apenas dez das características (que a cada dia aumenta) para que você possa reconhecer um jeca, ou famílias de jecas, grupos de jecas, e etc... Lembre-se tem pessoas que não apresentam todas as características, mas que nem por isso deixam de ser jecas. Estão distantes a apenas algumas dessas características para se tornarem jecas. Fazer o que, daqui para a frente será cada vez mais difícil não conhecer, trabalhar ou se relacionar com um jeca.

1- Jeca não tem classe social definida. Pode ocupar todo o alfabeto da escala de definição de classes. Vai da AAA até a ZZZ. Não tem nada a ver com o saldo positivo da conta corrente. Tem jeca que ocupa lugar de gerência em empresas, jeca ministro, jeca advogado, jeca médico, jeca empregado de farmácia, jeca representante comercial, jeca é jeca, independente do que ele faz ou deixa de fazer.

2- Jeca adooora passear em shopping Center, falar alto para todo mundo ouvir o que está falando, parecer íntimo de quem acaba de conhecer, falar de sua vida íntima com qualquer um, andar com o fonezinho do mp3 no ouvido mesmo que não esteja ouvindo nada, usar óculos escuros em locais onde não há necessidade, camisetas com logotipos de empresas que ele considera muuuito chiques, esperar em fila de espera na porta de restaurante “de moda” e outras idiotices que o fazem pensar que pertence a um grupo de selecionados e pessoas especiais.

2- Possui um automóvel com instalação de aparelho de som potencialmente capaz de funcionar em uma casa noturna. Estaciona na rua, abre o porta-malas e liga o som no último volume com música de péssima qualidade. Detalhe: o jeca se senta há alguns metros do local, em uma das mãos ele segura uma latinha de cerveja, na outra um celular.

3- Anda em grupos, nunca sozinho. Normalmente usa correntes grossas no pescoço pode ser de prata, lata, ouro, ou qualquer coisa que brilhe muito.

4- É “malhado”, quero dizer, parece um bovino. Na praia, só vai de um ponto ao outro com uma latinha de cerveja na mão, caso contrário, empaca.

5- Fala mal o português. Muito mal. Não conhece nem nunca ouviu falar em plural. Não concorda o verbo, e lógico, não concorda com ninguém que consiga formular uma frase sem erros gramaticais.

6- Adora estar em companhia da sua jeca fêmea. Que deve ser e se comportar de forma ainda mais vulgar que ele. A jeca deve usar roupinhas justas para expor todas as suas deformações corporais, peitos e barriga devem parecer querer explodir para fora de suas camisetas curtas e calças abaixo da cintura quase começando a mostrar o risco de sua genitália.

7- Jeca usa muito as palavras: balada, galera, moçada, mano, mina, aí, véio, ta ligado, fui e outras que ainda vou conseguir me lembrar.

8- Jeca não cumprimenta normalmente, com aperto de mãos. Jeca bate mãozinha, punho com punho, qualquer coisa, menos simplesmente apertar as mãos.

9- Jeca adora gritar uhu, é uhu para qualquer coisa que o emocione.

10- Jeca não tem consciência de nada. Ele olha, acha “manero” e copia.