25.1.09

PÉS NO CHÃO

Não me lembro de ouvir alguém falar em “arremeter” há alguns anos. Talvez eu não prestasse tanta atenção antes dos acidentes aéreos que acontecerem nos últimos dois anos. Mas comigo é a segunda vez em menos de seis meses que justamente o avião em que eu sou passageiro é obrigado a “arremeter. Na quarta feira chegando ao Rio de Janeiro, já estávamos quase pousando quando de repente o piloto decidiu “arremeter”. Depois disso sobrevoamos a cidade quase cinqüenta minutos antes do comandante decidir que as condições para aterrissar estavam boas. Quando pus os pés na terra a adrenalina já havia tomado conta de todo o meu corpo, e eu estava me sentindo bastante perturbado. Detesto me sentir impotente dentro de uma cápsula voadora e não saber porque ela está tremendo ou dando inúmeras voltas sobre o mar. Preferiria que os pilotos mentissem, dissessem qualquer idiotice para me acalmar. “Senhores passageiros, mudamos de idéia e decidimos sobrevoar a cidade para que os senhores possam apreciar o panorama e conhecer de cima a cidade... dentro de instantes daremos continuidade ao serviço de bordo e...” , qualquer coisa, menos “arremeter” sem aviso prévio. Fora isso, o Rio continua lindo, mesmo com chuva.

Nas minhas idas e vindas percebi que os aeroportos têm o poder de alterar o comportamento de algumas pessoas. Basta elas botarem os pés dentro do território chamado aeroporto para que elas se sintam big stars e passem a agir como se fossem especiais ou celebridades. Reparem; elas passam a falar com a voz alterada no celular, não tiram os óculos de sol mesmo quando estão fazendo o check in ou já estão dentro do avião, e fazem questão de demonstrar despojamento a tudo que é periférico. Lógico que não sabem, mas são uns jecas.

A leitura ainda está em primeiro lugar nas paradas dos meus prazeres. Mais do que isso: para mim é salvação. Se não pudesse me apegar a literatura, mergulhar em histórias, não sei o que faria comigo mesmo, talvez seria um novo serial killer, uma variedade de maníaco do parque. A leitura tem o poder de me reorganizar emocionalmente, me abstrair das pequenezas da vida e me recolocar dentro de um universo onde o que menos importa é o que penso.

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