30.4.05

BOA VIAGEM.









Re-visitar o tempo,
Rever velhos sonhos,
Relembrar vontades,
acomodar-se no presente.

Desfazer as malas,
Desdobrar as roupas,
Desvencilhar-se do pó,
traduzir o momento.

Reencontrar o início,
o fio do novelo,
Varrer as migalhas para fora,
Re-inventar o jazz.

Recomeçar a sonhar,
a visitar o tempo,
Interpretar o momento,
Propagar a paz.

28.4.05

AUTUMN LANDSCAPE, UMA RELEITURA.









Por um instante,
um infinito e único instante,
vi na fumaça do seu cigarro
ainda apagado,
o segredo a espera

do ato consumado.



27.4.05

MINI-MANTRA-MAXI, PARA REPETIR.









Que a alegria não me deixe cego
e não me transforme em egoísta,
e o sofrimento jamais sufoque

minhas esperanças.

25.4.05

YAN, YANG E ANEXOS.

Sou adepto a relações afetivas.
Independente de cor, raça, nacionalidade
e orientação religiosa. Sempre fui.
Insisto em não me relacionar apenas superficialmente
com o mundo. Quero mais. Foi sempre assim.
Conheço. Identifico. Traduzo e procuro entender.
Não jogo fora. Jogo para dentro. Depois remexo
e realizo a transformação. Materializo as imagens
e me envolvo. É isso. Sou avesso ao “ficar”.
Quero casar com todo mundo. Para sempre.
Até que a morte nos separe.
Dane-se as teorias acomodativas.
Guerrear é necessário quando o objetivo
é fincar âncora dentro de outros corações.
Sou um coração disponível.
Invento meus amores.

24.4.05

PEDAÇO DE MIM.











Foi buscar lá no fundo,
o pedaço do mundo
escondido sob a poeira
da memória preguiçosa.

Re-descobriu paisagens
onde há algum tempo
passeou livremente.
Colheu guarnição e bebeu
água cristalina.

Satisfez suas vontades:
lavou as mãos e o rosto,
umedeceu os cabelos,
refrescou a sola dos pés e
adormeceu sobre as raízes
de uma velha e forte castanheira.

Sonhou sonhos épicos.
Unicórnios e fadas voadoras,
touros falantes de falos gigantes,
sangue, oferendas, e multidões.

Acordou com o zum-zum-zum
das abelhas.
Espantou-se com o que viu e ouviu:
vasto campo de papoulas a perder
de vista. Imenso tapete vermelho
a balançar de um lado para o outro
repetindo em coro; acóóórda, acóóórda,
já é hóóóra, hóóóra, hóóóra...






21.4.05

SOMOS. O QUE SOMOS?










Somos um pouco
do que dizem que somos,
com um pouco do
que dizemos ser.

Somos também outro pouco
do que pensam que somos,
com outro pouco do
que pensamos ser.

Somos a vontade permanente
do que dizem que somos e
do que pensam que somos.

A busca constante do que
desejamos ou não ser.

Somos num só tempo,
um pouco de tudo,
e a possibilidade,
mesmo que imaginária,
do que nos é possível ser.



13.4.05

3, 2, 1, JÁÁÁ´.










Como um brinquedo, talvez um lego. Peças de encaixe.
Uma após outra, os pedaços começaram a
formar uma figura. Ainda não sei o que será,
também não sinto necessidade de saber.
Urgência é coisa de ambulância, pronto socorro,
e eu estou longe, muito longe de disparar por aí
com luz e sirene a todo vapor.
Até penso ter ficado um tempo na UTI.
Devo ter ficado. Não foi ruim. Não foi bom.
Foi um tempo onde os sentidos repousaram
para recuperar a energia. Tratei-me. Trataram-me.
Trato-me com delicadeza. Porquê somos, corpo e alma,
dois futuros amigos que acabaram de se conhecer.
Constrangedor. Mas bom demais. Reconhecer os sentidos.
Depois de tanto tempo. Tanto tempo. E a redondeza
contribuindo para deteriorar o que mal começou.
Somos fortes, os novos amigos. E a marginalia não nos interessa.
Nunca nos interessou. Mesmo quando ouvimos, cheiramos, e até
tateamos, fizemos de conta que. Nos tornamos experts na brincadeira.
Adorável. Bom saber que é possível parecer parte de um todo
cuja essência abominamos. Tudo só joguinhos humanos.
Amigo nosso, negro/judeu/Freudjunguiano/doutor-em-alma-penada,
nos ajudou a ver o todo. Não é tão grande assim. É só o todo.
Algo menos. Muito menos que a figura em construção.
Ai, e eu já estou gostando dela, antes mesmo de conhecê-la.
Da forma e das cores que refletirá quando botarem os olhos
sobre ela. Do nome que lhe darão. E vou rir muito. Não por
desprezo aos mortos/vivos, descobridores atrasados. Mas por
prazer. Sentimento muito parecido com o que sinto agora,
enquanto monto essa figura ainda irreconhecível.

11.4.05

0PUS.37, KLAVIER KONZERT C-MOLL, 2º MOVIMENTO, LARGO.BEETHOVEN










Infinitos,
Vastos,
Verdes,
Pastos.

Infinitos,
Largos,
Claros,
Lagos,

Infinitos,
Horizontes,

Infinitas
Fontes.

Infinitas,
Melodias,

Infinitos,
Momentos
Finitos.

9.4.05

PROFUNDO.










Deparei com a frase
lendo meu horóscopo,
no meu sígno ascendente:
O destino é, antes de mais nada,
filho da necessidade.
Me fez pensar sobre o
parceiro da necessidade,
quer dizer, o pai do destino.
Será que tem um só, ou ela
é moderninha e não se preocupa
com essas coisas de fidelidade?
Talvez por isso ele (o destino)
seja frequentemente malquisto
e tão veemente insultado pela
maioria das pessoas.
Resultado do mix de DNAs
dos genitores.



8.4.05

O QUE É?.

Acabo de postar um novo...
Definição não é o meu forte.
Chama-se VIDA, o novo texto
postado na seção CONTOS INÉDITOS.
Boa leitura, e defina como quiser.

4.4.05

EU E VOCÊ.










Era eu.
Era você.
Éramos apenas nós.
Eu e você.
Apenas nós,
dois eus
que não haviam se encontrado.
Dois nós,
que ainda eram apenas eus.
A procura de nós,
antes de sermos dois
em um,

que ao encontrar o outro
deixou de ser apenas eu,
ou apenas você,
e se transformou
em dois eus,
que agora
somos
nós.


EMBRULHADOR DE PACOTES.










Embrulhar, desembrulhar, embrulhar, desembrulhar.
Enfim eu aprendi. Foram quase nove meses embrulhando
e desembrulhando para em seguida embrulhar
e desembrulhar novamente. Agora minhas mãos
parecem poder fazer o trabalho sem ajuda nenhuma.
Quase nem preciso mais olhar para elas enquanto
embrulho e desembrulho. Se duvidarem de mim,
eu embrulho e desembrulho de olhos fechados.
Para todo mundo ver. Não importa o tamanho do pacote.
Nem a forma. E muito menos o tipo de papel ou material
com o qual ele fora embrulhado. Eu embrulho e desembrulho.
Com apenas uma mão. Ou com as duas. Com a esquerda.
Ou com a direita. Eu embrulho e desembrulho.
Que venham os pacotes. Grandes ou pequenos.
Quadrados ou redondos. Leves ou pesados.
Tragam-me os pacotes. Eu os embrulharei,
e depois eu os desembrulharei.
Não há pacotes que eu não possa embrulhar e desembrulhar.
Há algo que deve ser embrulhado para depois ser desembrulhado.
Só isso. Nada mais.

3.4.05

SOL DE OUTONO










Já é possível perceber a diferença na luz do sol.
É o “sol do outono”.
Generoso, revela segredos que
“o do verão” ocultava.
Doura muros, paredes de prédios
e casas, e faz brilhar a superfície das folhas.
Suave, nos permite ainda perceber a beleza das
formas moldadas pelas sombras que produz.
Acaricia nossas cabeças
e prepara o caminho inevitável do inverno .
Traz uma sensação de leveza e calmaria.
Mais baixo, menos onipotente,
nem por isso menos poderoso.
Seja bem-vindo, “sol do outono”,

descanse em paz sobre todos nós.

1.4.05

MINUS GRAD.










Guardei na memória
a visão dos imensos jardins
que antecedem o velho castelo.
A variedade das espécies das árvores, e
o pequeno lago onde a solitária moradora
da imensa propriedade se afogou.
Onde durante quase todo inverno as crianças e os
velhos brincavam sobre a água congelada.
Disseram-me que ela se suicidou.
Por desilusão e dor. Amor não correspondido.
Tristeza e auto comiseração.
Você sabe o que eu quero dizer.
Será?
Será que sabe?
Será que já sofreu um dia? Por amor?
Já sentiu aquela dor profunda no peito vazio?
A vontade de gritar para todo mundo ouvir
e em seguida virar o rosto para ver quem é o
dono daquele grito?
Ainda guardo na memória a imagem daquelas
árvores quase nuas e de suas folhas descoloradas no chão.
O ruído das vozes das crianças
e dos velhos misturando-se ao dos meus passos.
Fazia frio. Lá fora e também dentro de mim.
Você sabe o que eu quero dizer.
Será?
Será que sabe?
Será que já sentiu frio dentro de você?
Um frio que congela a alma e nenhum tipo
de receita de banhos de simpatia consegue
resgatar a sensação de conforto?
Ainda guardo na memória o ruído das vozes
das crianças e dos velhos misturando-se ao
barulho provocado pelo ranger dos meus dentes.
Eles estavam felizes.
Jogavam bocha e deslizavam com seus pequenos trenós.
Lembro-me muito bem de tudo.
Eles pareciam felizes.
Apesar do frio e da neve.
Brincavam sobre o lago congelado,
onde a solitária moradora do velho castelo
morrera afogada.
Aquela que se suicidou.
Nas águas rasas do pequeno lago
onde os velhos e as crianças ainda hoje

jogam bocha e deslizam com seus pequenos trenós.