1.4.05

MINUS GRAD.










Guardei na memória
a visão dos imensos jardins
que antecedem o velho castelo.
A variedade das espécies das árvores, e
o pequeno lago onde a solitária moradora
da imensa propriedade se afogou.
Onde durante quase todo inverno as crianças e os
velhos brincavam sobre a água congelada.
Disseram-me que ela se suicidou.
Por desilusão e dor. Amor não correspondido.
Tristeza e auto comiseração.
Você sabe o que eu quero dizer.
Será?
Será que sabe?
Será que já sofreu um dia? Por amor?
Já sentiu aquela dor profunda no peito vazio?
A vontade de gritar para todo mundo ouvir
e em seguida virar o rosto para ver quem é o
dono daquele grito?
Ainda guardo na memória a imagem daquelas
árvores quase nuas e de suas folhas descoloradas no chão.
O ruído das vozes das crianças
e dos velhos misturando-se ao dos meus passos.
Fazia frio. Lá fora e também dentro de mim.
Você sabe o que eu quero dizer.
Será?
Será que sabe?
Será que já sentiu frio dentro de você?
Um frio que congela a alma e nenhum tipo
de receita de banhos de simpatia consegue
resgatar a sensação de conforto?
Ainda guardo na memória o ruído das vozes
das crianças e dos velhos misturando-se ao
barulho provocado pelo ranger dos meus dentes.
Eles estavam felizes.
Jogavam bocha e deslizavam com seus pequenos trenós.
Lembro-me muito bem de tudo.
Eles pareciam felizes.
Apesar do frio e da neve.
Brincavam sobre o lago congelado,
onde a solitária moradora do velho castelo
morrera afogada.
Aquela que se suicidou.
Nas águas rasas do pequeno lago
onde os velhos e as crianças ainda hoje

jogam bocha e deslizam com seus pequenos trenós.

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