RESENHA DE "DIÁRIO DA BUSCA"

Um romance priápico! Talvez essa seja uma das maneiras de definir este "Diário da Busca", já que é sempre a sexualidade solta, sem culpas e sem medos, que impulsiona as personagens, que explora a fascinante trajetória de Samuel, um homem à procura de sua identidade amorosa.
Com olhos de fotógrafo, Sergio Keuchgerian radiografa o cenário urbano, mesclando sua aspereza com poesia e humor. O resultado é um romance que provoca a impressão de estar sendo escrito à medida que é lido. De tal forma que, mesmo não podendo mudar o que já está cravado nas letras, o leitor passa a conviver intensamente com Samuel, Eva, Marina, Helga, Ángela, Augusto, de uma maneira excitante, como um voyeur.
A simplicidade aparente da narrativa esconde um pensamento sofisticado; uma reflexão profunda sobre o estar no mundo; um questionamento refinado diante do sexo, do amor, do afeto; e da vontade de romper barreiras, de mudar de vida, de quebrar rotinas...
Como o movimento da cidade, os fatos acontecem rapidamente, de maneira inesperada, muitas vezes na contramão. Contando a história de cada uma das personagens que criou, Keuchgerian não se preocupa com sinais fechados ou com estacionamentos proibidos, o que dá uma sustentável leveza de todos os seres, que, com liberdade, trafegam pelas ousadias da paixão, sem medo de vivenciá-la.
O leitor é o grande cúmplice de Samuel, quando ele resolve sair de uma relação já desgastada para vivenciar outra, que surge em sua vida como um ponto luminoso. É o confidente privilegiado, que possui a senha para acessar o que Samuel registra, sem pudor algum, em seu computador.
A trama instigante vai sendo montada sempre com a sensação de que faltará uma peça para completar o quebra-cabeça. É a procura dessa peça que faz de Samuel não o jogador, mas o peão perdido em meio ao tabuleiro de xadrez.
É impossível não se deixar levar pela sensualidade sem amarras que escorre pelo livro. Uma sensualidade que banha o leitor, mostrando a nudez primeva, o olhar espantado de um homem que, sem saber como lidar com isso, vê o prazer à sua frente, esperando por ele.
Sem medo de questionar valores impostos, códigos negociados e parâmetros corroídos, Sergio Keuchgerian espanta o falso moralismo e nos mostra que a busca do prazer não significa a perda do Paraíso. E que não somos anjos nem demônios: apenas seres humanos, com direito ao gozo e ao orgasmo, para que nossas dúvidas sejam aplacadas.


Alcides Nogueira

Nenhum comentário: