19.3.05

GOTAS DA MEMÓRIA.









Lembro-me muito bem daquelas
gotas de orvalho congeladas.
São cristais, alguém me disse.
Os pingos d’água solidificaram-se durante
a noite, enquanto dormíamos.
Transformaram-se em lindos brincos
pendurados nas pontas dos galhos das árvores.
Não sobreviverão por muito tempo, alguém me avisou.
E não sobreviveram.
Algumas horas depois, elas desapareceriam com
o calor do sol.
Escorregaram novamente em forma de gotas e
pingaram sobre a terra fria.
Foram cristais, lindos e cheios de brilho,
dissemos simultaneamente.
Por um tempo. Cristais.
O suficiente para nos encantar.
O suficiente para serem chamadas de cristais.
O suficiente para esse alguém me pegar pelo braço
e levar-me para bem próximo delas para admirá-las.
O suficiente para fazerem parte da minha história.
O suficiente para serem registradas nas minhas retinas
e nunca mais se desprenderem da minha memória.
O suficiente para se transformarem em duas
lágrimas que agora escorrem dos meus olhos.
O suficiente para tocarem meus lábios
e me fazerem sentir o gosto do sal.
O suficiente. A medida certa.
No tempo certo. Na hora exata.
Cristais valiosos que não pude ter.
Presentes raros que não pude guardar.
Gotas de orvalho congeladas,
desaparecidas para sempre.
Para nunca mais voltarem.
Para nunca mais chamarem a sua atenção.
Para nunca mais poder sentir sua mão em meu braço.
Para eternamente viverem em minhas lembranças.



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