29.7.06

O COTIDIANO.




Tenho reparado que o número de pessoas
que lêem livros dentro dos vagões do metrô aumentou.
Procuro pelos títulos e descubro uma variedade
interessante. Entre os de auto ajuda e religião, que
são maioria, grandes clássicos da literatura como Dostoiévski,
Machado de Assis e até peças de teatro.

Tenho reparado que as salas de cinema estão mais vazias.
À-propros cinema, ontem assisti a um bom filme:
“Verdades Nuas”, bom roteiro, excelente produção,
bons atores, e o surpreendente; é americano.

Todos os dias recebo e-mails com matérias jornalísticas,
denúncias, ou opiniões pessoais sobre os novos (?)
candidatos a presidência do país. Fico indignado.
Não com os textos, mas com a ainda suposta indignação
ou parcialidade daqueles que me enviam os mails.
Principalmente daqueles que poderíamos chamar
de produtores culturais do país.
Não acredito na hipótese deles serem idealistas.
Estão mais para sonhadores.
Ou qualquer outra classificação que não se encaixa
nem a esquerda nem a direita do que isso que nos governa.
Acredito que o intelectual tem o dever de exercer a
crítica, ser imparcial, emocional sem perder a razão,
e se possível (em nosso país inevitável) apartidário.

27.7.06

O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM




Hoje por volta das 16 horas alguém se jogou
do Viaduto do Chá. Pensei que pelo menos
de lá ninguém mais se suicidava.
Não é tão alto assim, e o número de passantes
é tão grande que poderia servir como agente inibidor.
Alguém me disse que é exatamente isso que pode
incentivar o suicida. Platéia garantida.
Acompanhei a multidão e me encostei no parapeito
da ponte para ver o infeliz. Não vou descrever o que
vi. É possível imaginar a cena. Não sei qual a razão,
ou os motivos que levaram o moço a tomar aquela
decisão, porém, reconheço sua coragem.
É o mínimo que posso sentir diante daquele ato,
e rezar, para que sua alma encontre a paz não
encontrada em vida.

Depois de alguns minutos, quase já
na Praça Patriarca um casal que caminhava logo a minha
frente, jogou no chão os envelopes de papel que embalavam
os seus picolés. Como se a calçada fosse uma lata
de lixo. Eu os interpelei e os repreendi.
A moça sorriu e disse que eu tinha razão,
o rapaz me olhou com cara de quem não
gostou de ser repreendido. Eu insisti.
Delicadamente eu disse que havia uma lixeira logo adiante,
e que eles deveriam pegar as embalagens e
jogá-las no devido lugar. Eles voltaram,
pegaram as embalagens e as jogaram no lixo.

Uma amiga me disse que a energia estava ruim
e pesada durante o dia porque estamos nos
primeiros dias da lua nova.
Eu não entendo nada sobre os movimentos lunares
e seus efeitos, mas acreditei no que ela me disse.
No caminho de volta Ogum me veio a cabeça.
Hoje é quinta feira, dia dele.
Comprei três rosas vermelhas,
entrei no apartamento e as ajeitei sobre a mesa do
meu escritório. Acendi um incenso de sete ervas.
Depois da lua nova vem à crescente,
e eu acredito na renovação.

24.7.06

HIPOGLICÊMICO




Quanto tempo a gente precisa para digerir uma palavra?
O tempo é um só, mas a percepção dele é diferente
para cada um de nós.
Então, dependendo do peso, ou até do teor de gordura
da palavra, e de quem a expressou ou a ingeriu, ela pode
levar um bom tempo para ser digerida.
A maioria delas cai no estomago como uma bomba e pode
levar dias para ser expelida de dentro da gente.
Outras não precisam de tempo algum,
derretem na língua muito antes de serem engolidas.
Essas são mais raras, estão em fase de extinção.
Fios de ovos, massa folhada, mel...
Há também as não ditas (por ignorância),
e as que queremos ouvir e ninguém nos diz (por ausência de sensibilidade),
e as que nos dizem e não ouvimos (por ignorância e ausência de sensibilidade).


22.7.06

PARA QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA




Num “santinho” com a imagem de São Miguel Arcanjo
encontrei no verso, depois da oração, a seguinte frase:
“Para que os pedidos sejam atendidos é necessário que
sejam justos”

19.7.06

TRECHO DE ROMANCE INÉDITO - AINDA SEM TÍTULO





"...relembro passagens de nossas vidas, que indubitavelmente
não teriam acontecido sem o forte impulso dos nossos desejos.
Mesmo que esses desejos não tenham sido explicitamente
manifestos, havia a vontade de nos transformarmos.
Existia a certeza de um futuro que estava apenas começando,
e estávamos dispostos a vivê-lo.
Porém, os acontecimentos se encarregaram de construí-lo
as suas maneiras. Definiram nossas vidas antes que pudéssemos
realmente optar por qualquer outra alternativa.
Deve ser assim que a vida se realiza com a maioria das pessoas.
Os acontecimentos, com freqüência antecedem as escolhas e
se encarregam de indicar os caminho. A máquina silenciosa do
cotidiano trabalha incansável tecendo a trama de nossas vidas,
e quando ela começa a apresentar os primeiros sinais de cansaço,
já é tarde para deixarmos de ser o resultado do que ela mesma teceu..."

16.7.06

DETRITOS.





Entre o lixo que bóia na beira do mar
e o navio cargueiro que cruza
a linha do horizonte,
uma rosa vermelha
carrega solitária
a responsabilidade de levar
pedidos à deusa.

Pobre rosa solitária.
Pobre deusa.
Pobre navio cargueiro.
Pobre mar de sonhos de pobres homens desejosos.

13.7.06

TROCA DE RUMO

Ontem troquei meu destino.
De hoje em diante os caminhos serão os certos.
Não tenho novos endereços,
nem mapas de novas cidades,
e muito menos uma nova bússula.
Tenho junto de mim
a velha e incansável amiga esperança.
Apenas.
Insistiremos,
mais uma vez,
e mais uma vez,
e quantas vezes se fizer necessário.
Nesse novo destino
descobriremos juntos
novas maneiras de não mais nos perdermos.
Apenas.