27.7.06

O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM




Hoje por volta das 16 horas alguém se jogou
do Viaduto do Chá. Pensei que pelo menos
de lá ninguém mais se suicidava.
Não é tão alto assim, e o número de passantes
é tão grande que poderia servir como agente inibidor.
Alguém me disse que é exatamente isso que pode
incentivar o suicida. Platéia garantida.
Acompanhei a multidão e me encostei no parapeito
da ponte para ver o infeliz. Não vou descrever o que
vi. É possível imaginar a cena. Não sei qual a razão,
ou os motivos que levaram o moço a tomar aquela
decisão, porém, reconheço sua coragem.
É o mínimo que posso sentir diante daquele ato,
e rezar, para que sua alma encontre a paz não
encontrada em vida.

Depois de alguns minutos, quase já
na Praça Patriarca um casal que caminhava logo a minha
frente, jogou no chão os envelopes de papel que embalavam
os seus picolés. Como se a calçada fosse uma lata
de lixo. Eu os interpelei e os repreendi.
A moça sorriu e disse que eu tinha razão,
o rapaz me olhou com cara de quem não
gostou de ser repreendido. Eu insisti.
Delicadamente eu disse que havia uma lixeira logo adiante,
e que eles deveriam pegar as embalagens e
jogá-las no devido lugar. Eles voltaram,
pegaram as embalagens e as jogaram no lixo.

Uma amiga me disse que a energia estava ruim
e pesada durante o dia porque estamos nos
primeiros dias da lua nova.
Eu não entendo nada sobre os movimentos lunares
e seus efeitos, mas acreditei no que ela me disse.
No caminho de volta Ogum me veio a cabeça.
Hoje é quinta feira, dia dele.
Comprei três rosas vermelhas,
entrei no apartamento e as ajeitei sobre a mesa do
meu escritório. Acendi um incenso de sete ervas.
Depois da lua nova vem à crescente,
e eu acredito na renovação.

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