1.8.06

A ÚLTIMA QUE MORRE




Sinto falta daquela vontade quase incontrolável
que eu um dia tive de mudar o mundo.
Não sei em que ilha deserta deste planeta povoado
por humanos ela se escondeu.
Se hoje ela ainda estivesse dentro de mim,
eu poderia dissertar criticamente sobre
a invasão de Israel no Líbano, ou sobre a violência em
nosso país, ou até mesmo esculhambar o Bush e sua
turminha de patetas. Entretanto, o máximo que consigo
fazer, é refletir e dialogar comigo mesmo a respeito do
Homem e de seu poder quase compulsivo de destruição.
O mundo mudou, eu mudei, e os acontecimentos,
cada vez mais rápido, me atropelam e inibem
toda e qualquer iniciativa ou vontade,
mesmo que apenas imaginária,
de construir um planeta no mínimo mais saudável.
Carrego em meu consciente os registros históricos
da evolução política da civilização ocidental,
e as estatísticas sobre a deterioração do meio ambiente
por meio da interferência maléfica do homem.
Sou informado diariamente sobre o número de mortos
de fome, guerra e homicídios e da corrupção que
corrói os políticos daqui e de outros continentes.
Sei também que ainda existem, mesmo que em
número muito reduzido, Homens de boa
vontade, solitários como pequenas ilhas quase
invisíveis no imenso oceano de injustiças.
Desconfio que aquela vontade que um dia eu tive
de mudar o mundo, era de uma dignidade hoje quase
inexistente. Preferiu se afastar.
Cansou de ver suas esperanças explodindo no céu
qual foguetório de São João.
Não quis ser apenas mais uma, no meio de
muitas outras que morreram de tanto esperar.

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