26.9.06

NAMENLOS

Era uma vez um menino
cuja cabeça vivia cheia de imaginação
e sonhos.

E um botão de rosa.

Um menino que por razões alheias a sua vontade
não pode ter seus desejos realizados.

E um botão de rosa que não viveu o bastante para desabrochar.

Um menino e seus olhos de contornos amendoados
e tristes.

E um botão de rosa que apesar de murcho continuou a ser
chamado de botão de rosa.

Um menino que o tempo se encarregou de perdê-lo,
para que ninguém mais o chamasse de menino.

24.9.06

INSISTÊNCIA


Insisti, mesmo inconsciente do que fazia,
em selecionar recordações.
Hoje insisto em recuperar as que ficaram
para trás.

Trazer de volta o que rejeitei,
agora,
penso,
consciente do que faço,
é uma insistente tentativa,
vontade permanente
de selecionar o que virá.


21.9.06

ESPELHO MEU


Ontem, depois de sair de um aniversário
onde encontrei pessoas que há muito tempo fazem
parte da minha vida, um pensamento não me sai
mais da cabeça: será que um dia voltaremos a
nos ver e sentir como nos víamos antes dessa
enorme geleira nos separar?

Porque nos amamos. Mesmo que aparentemente
essa afirmação não pareça verdadeira.
O constrangimento incolor que paira no recinto
também é percebido pelos outros.

Os outros são muitos.

Lembrei-me da história da torre de babel.
Há tempos falamos novas línguas,
qualquer uma, contanto que confunda ou provoque
o constrangimento entre nós.

Não fui eu,
Nem você,
Fomos nós outros,
Antes desconhecidos
Agora Estrangeiros.

Eu gostaria muito de não me reconhecer em você.

10.9.06

SEM CICATRIZ

Ainda não consigo definir o que significam os
pensamentos que tenho tido nos últimos dias,
nem tão pouco consigo afirmar se realmente fincaram
raízes dentro de mim. No entanto, consigo perceber
algumas alterações na maneira de interpretar a vida,
e também de conduzi-la. A consciência deve estar mais
apurada, ou mecanismos que eu desconheço me levam a
redefinir o grau de importância naquilo que faço ou deixo
de fazer. Também os universos lá fora de repente perderam
complexidade e pose.
Faço o que posso, quando posso e como posso.
Não compartilho as vontades de todo mundo,
nem me solidarizo com as vaidades dos que pensam
ou querem ser diferentes.
Começo a me despir, e ao contrário do que sempre imaginei,
o frio é suportável.


5.9.06

QUESTÃO DE MERECIMENTO

Descobri, (pelo menos até o exato momento
ainda estou convicto)
a diferença entre ter o controle sobre uma situação
e dominá-la.
Não tenho a pretensão de esclarecer nada,
porque é importante que
qualquer um descubra sozinho.
De qualquer forma adianto,
aperte antes o botão do descontrole,
e perca totalmente o domínio sobre si,
auto-estima é um sentimento importante no processo

2.9.06

RECICLAR O QUE?

Conviver com o lixo está sendo o grande problema
para a minha geração e para as mais jovens.
Pelo menos aqui no Brasil. É assim que eu vejo.
Há lixo por todos os lados.
Não falo somente sobre o lixo nas ruas, falo também
do lixo cultural e político que temos que aceitar como
sendo normal. Será difícil transformar esse lixo em
alguma outra coisa. Reserve o tempo para assistir
ao programa político e veja a apresentação dos candidatos.
Sejam eles, candidatos a deputado, senador ou a presidência.
Um lixo. Um amontoado de oportunistas sem proposta
alguma, caricatos e ignorantes. Quem ainda acredita que essa
gente fará qualquer coisa pela sociedade e pelo país?
Quem ainda acredita em ideais de esquerda ou direita?
Lula e Alckmin? Heloísa Helena? Por favor, eu não saberia
dizer quem é o menos pior. Farinha do mesmo saco.
Caminhe pelas ruas, no centro, na periferia ou nos bairros
considerados chiques da cidade e você verá, a ignorância e o
modus vivendis egocentrista só muda de endereço.
O básico não foi cultivado. Conviver com limites e verdades
não é o forte do brasileiro, e hoje não mais importa as razões
possíveis para explicar o porque chegamos onde estamos e
como estamos, e o que é preciso fazer para mudar alguma coisa.
Educação. Alias, você sabe o nome do ministro da educação?
Precisamos de espelhos em lugar de out-doors. Por todos os
lados, muitos espelhos para mostrar os umbigos horrorosos
dos milhões de idiotas deformados e desdentados que se vestem
com camisetas curtas e expõem suas pelancudas barrigas.
Misses universos sem espelhos do planeta.
A máquina que já era entupida pela sujeira da corrupção, com
a chegada de esfomeados pelo poder no governo acabou de quebrar.
O país se dividiu entre os corruptos que estão no poder, os
que fazem de tudo para tomá-lo de volta, e os outros milhões
de coniventes que adoram sonhar com a vida da nova namorada
do próximo analfabeto milionário que jogará pela seleção
brasileira. Reciclar o lixo será quase impossível.
O lixo transformado nada mais é do que algo feito de lixo.
Quando a única matéria prima para se construir uma obra
é o lixo, o que se constrói é alguma coisa feita de lixo, e o
resultado final nada mais é do que lixo.