Fui assistir a dois filmes nesta semana, “O garoto da bicicleta” e “Triângulo amoroso”. Os dois têm tudo a ver, mesmo quando aparentemente tratam de temas diferentes. O primeiro, dos irmãos Dardenne, conta a história de um garoto que abandonado pelo pai acaba sendo adotado por uma mulher completamente estranha a seu círculo familiar. A mulher acaba entrando por acaso na vida do garoto e a relação dos dois toma corpo, mesmo quando tinha tudo para dar errado. O tema central do filme são as experiências que o garoto terá que vivenciar até entender que o amor que ele quer não necessariamente virá de seu genitor, mas de alguém que nada tem a ver com ele. O segundo filme, Triângulo Amoroso, do diretor alemão Tom Tykwer,que dirigiu em 1998 o premiado Lola Rennt (Corra Lola Corra) propõe (com muita inteligência e uma pitada de humor) uma discussão sobre os conceitos do que pode ser uma relação amorosa a três. Relações triangulares são recorrentes na dramaturgia e na literatura (também abordei o assunto no meu romance “Dissonantes”), mas Tykwer aborda o tema construindo seu roteiro matematicamente e questionando as convenções que cercam o tema sexualidade com muita perspicácia. Quando você pode se auto afirmar hetero e quando você pode se dizer homossexual? O que define você sexualmente? Ou ainda, é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? E duas de sexos diferentes? No caso do primeiro filme, as perguntas são outras, mas de qualquer forma o que passa quase despercebido é a formação de uma família a partir de outros pressupostos que não os convencionalmente estabelecidos. Duvido que a mãe do garoto do filme teria mais ou menos paciência (ele é um pentelho chatérrimo) e sentiria mais ou menos amor do que a cabeleireira que o adotou. Mudando de alhos para bugalhos, outro dia conversando com uma amiga concluímos que as siglas glsbt deveriam ser suprimidas. Porque há enormes subdivisões que se perdem sob o manto dessas letras que querem definir os gêneros. Entre eles há variações e formas diversas que a gente desconhece. Conheço casais de mulheres que mesmo estando juntas continuam amando seus maridos e tendo relações com eles. São mulheres que conseguem amar não apenas seus maridos mas também suas mulheres, seus filhos, seus cachorros e etc. Uma coisa não exclui a outra, não é porque você gosta de manga que não pode gostar de mamão, não é porque gosta de balé que não pode gostar de futebol. Acredito que estamos no meio de uma transição que está mexendo com essas convenções. Acredito também que mesmo para os glbtês é difícil ainda compreender isso. O preconceito e a desinformação imperam mesmo entre os que se protegem sob essas siglas. Mas voltando para os filmes, apesar de terem sido lançados no final de 2011 aqui no Brasil, acho que o ano começa bem com eles. Vá vê-los. Seja você g, l, b, t, x, y,ou z, goste de manga ou de mamão, você é só mais um dentro desta imensa variedade de frutas a disposição no mercado.
Um comentário:
K VOLTOU, K VOLTOU!!!
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