22.3.10

FICÇÃO E VIDA REAL

Está quase na hora de voltar, falta pouco para o curso acabar, malheuresement. No domingo fui assistir “Chloe”, filme do diretor Aton Egoyan com Julianne Moore e Amanda Seyfried. Eu esperava mais. Durante o filme eu me perguntei várias vezes se a trama seria possível fora da ficção. Sim, seria, mas antes disso se algumas perguntas e discussões fossem feitas ela não prosperaria. Quero dizer que quando escrevo uma história estou sempre me perguntando se ela é crível. A história de Chloe é crível, mas fica faltando pedaços, perguntas óbvias que qualquer um faria ao seu parceiro ou parceira na mesma situação não foram levadas a sério, por isso ele perde a força, porque mesmo que tudo no filme seja feito para que pareça normal, você sabe que pessoas como as que você está vendo na tela não agiriam daquela maneira. Então sobram cenas de sexo entre duas mulheres para a gente ver, e quando uma delas é a Julianne Moore, é muito mais bem feito e melhor. Vá ver, vale como sessão da tarde.




Basta falar o nome da Julianne Moore com qualquer pessoa que a conheça para logo ouvir a pessoa dizer que a adora. Moore virou unanimidade, é mais desejada que brigadeiro em festa de aniversário. No momento três filme com ela estão em cartaz aqui em Paris. Outro dia me perguntei porque isso acontece com algumas atrizes e com outras não. Além de ser uma boa atriz, Julianne Moore tem um rosto frio que se adapta aos papéis escolhidos (quero acreditar que ela já deve estar selecionando seus papéis), mas também acredito que as pessoas repetem o que ouvem sem pensar, e a coisa vai aumentando e aumentando até ser eleita pela maioria. Arrisco dizer que Nelson Rodrigues nesse caso não diria que toda unanimidade é burra.

Estou acabando de ler o livro de cartas escritas por Pierre Bergé para YSL depois de sua morte. Ele as escreveu como se estivesse conversando com Yves Saint Laurent, expõe a intimidade dos dois sem ser vulgar e as cartas serviram (assim me parece) para ajudá-lo a trabalhar o luto. É honesto e corajoso. Bergé não endeusa YSL, mas nem por isso deixa de vê-lo como uma pessoa especialmente talentosa. As vezes fala de seus defeitos como se eles fizessem parte de um lado necessário/inevitável da personalidade de YSL, como se sem seus defeitos não tivesse sido possivel ser genial, como se uma coisa dependesse da outra. Os dois viveram juntos por cinqüenta anos. Pelo conteúdo das cartas e lembranças narradas a vida a dois nos últimos anos não deve ter sido nada fácil. Mais um ponto para Bergé, que se expõe de forma aparentemente honesta e também a YSL. Poderia guardar suas lembranças e alimentar ainda mais a mitificação em torno da vida de seu amigo, mas ao contrário, ele expõe suas mazelas a quem se interessar por suas vidas. Dois homens de personalidades distintas e fortes. Vale para quem se interessa por histórias de amor.


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