13.5.09

MISTÉRIO

Sempre que passo pelos arredores da Praça João Mendes no centro de São Paulo, encontro uma moradora de rua que certamente sofre de distúrbios mentais. Ela anda de um lado para o outro, forjando falar ao telefone aos berros, ou fica sentada na calçada, mas sempre dialoga com alguém. Fala, gesticula, grita, debate. Está sempre vestida com trapos imundos, usa um lenço mais imundo ainda na cabeça, veste muitas capas de plástico, umas sobre as outras que provocam um barulho estranho enquanto ela se locomove. Uma imagem chocante. Toda vez que cruzo com ela, me pergunto com quem será que ela imagina estar falando ao telefone. E também o que está gritando, porque a gente não consegue entender nada. Pois bem, hoje quando voltava para casa, descia a avenida Angélica e cruzei com uma outra moradora de rua que simulava falar ao telefone com alguém. Estava zangada, gritava muito. Melhor vestida que a mendiga do centro, usava roupas um pouco melhores, e nenhum saco plástico. Mas como a outra, fazia de conta que estava falando com alguém, berrava enlouquecida, e andava de um lado para o outro da rua com a mão no ouvido e gesticulando. Passei por ela e imediatamente me lembrei da moradora da Praça João Mendes. Será que as duas estão se comunicando? E o que elas estariam gritando uma para a outra? O que uma teria feito de tão mal para deixar a outra tão aborrecida?

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