9.3.10

COBRAS E LAGARTOS

Céu azul desde quinta feira passada com muito frio e vento de deixar qualquer pingüim arrepiado, a previsão vale até sexta feira. Agenda movimentada. Depois do almoço no sábado a tarde fui com amigos assistir “Volta ao mundo em 80 dias” num pequeno teatro aqui no Marais que se chama Café de La Gare e fica na rue du temple. O espaço é bem interessante, com um pátio interno onde enquanto você aguarda para entrar pode observar aulas de dança e teatro. Os franceses adoram um batuque, se animam rapidinho ao som dos atabaques. A sala do teatro se parece um pouco com o Arena de São Paulo, arquibancas de madeira sem lugar numerado e você tem que chegar bem antes se quiser ver a peça que já está em cartaz há mais de dois anos. Um grupo jovem de atores que transformou o texto de Jules Verne numa peça bufa, e que poderia ter sido encenada pelo Ornitorrinco no Brasil. Os atores estão muito bem entrosados e fazem a platéia rir durante uma hora e meia, com direito a interação com o público (tenho horror de peça que interage com a público, eu sei que você vai dizer que eu sou chato e blá blá blá, mas é o que penso e como bom camaleão mudei de cor e me misturei a platéia logo que percebi que eles iam começar a mexer com as pessoas). O balanço foi positivo, valeu conhecer o teatro e ver a peça.

Mas como não sou exclusivamente moderno e viajo por diversas épocas, fui ontem assistir Don Carlo no Opéra Bastille. Cada vez mais prefiro as últimas obras de Verdi. Jamais dispensaria as óperas criadas no início e no meio de sua carreira, como Nabucco, Luisa Miller, Rigoleto ou Traviata que são obras primas, mas Don Carlo, Falstaff, Otello tocam mais minha alma. Em Don Carlo os barítonos têm forte presença e há momentos mais densos, como quando o grande inquisidor dialoga com o rei, trecho que é de uma beleza sóbria que só a maturidade intelectual do artista é capaz de criar. Também tenho dado preferência as vozes femininas mais baixas e menos agudas, tenho ouvido muito Anne Sofie Von Otter, mezzo soprano que está se tornando imbatível interpretando Händel ou Gluck. Mas já contrariando o que acabo de dizer, ontem gostei mais da soprano Sondra Radvanovsky que fez a Rainha Elisabetta di Valois do que da mezzo soprano Luciana D’intino, no caso a princesa de Eboli. Enfim contradições que talvez possam ser explicadas em razão do papel de cada uma. Falando em vozes, tenho a impressão de que há uma escassez de bons novos tenores. Vozes como a de Plácido Domingo em meados dos anos oitenta, ou mesmo de Pavarotti no final dos anos setenta. Os tenores são todos meio fraquinhos no momento, não sei o que aconteceu, não sou especialista, apenas observador e amante de música.

Para quem costuma nacionalizar/abrasileirar maus comportamentos achando que esse tipo de conduta é monopólio nacional, e adora repetir “só no Brasil isso poderia acontecer”, um exemplo de que a ignorância e a falta de educação acompanham com velocidade e se espalham com a globalização. No início do segundo ou terceiro ato da ópera o maestro foi obrigado a se virar para olhar feio e pedir silêncio. Duas mulheres começaram a discutir na platéia. Entre pedidos de silêncio e cala a boca as duas não conseguiram se conter e por alguma razão trocaram insultos. Horas antes, num pequeno supermercado presenciei outra discussão entre duas mulheres. Uma chamou a outra de racista, sendo que nenhuma delas era negra ou asiática ou ainda fosse possível perceber qualquer outra diferença visível a olho nu. Depois se insultaram e quase se pegaram, foram apartadas pelo marido de uma delas. Gente finíssima, que fazia compras com casaco de peles e xales burburry. Outro dia num desses bares do Marais, ouvi duas bichas fazendo gozações. Uma disse para outra que sua avó antes de morrer lhe ensinou que os aristocratas estão sempre “namorando” com a ralé por motivos óbvios: se um dia perderem tudo, isto é, poder e dinheiro, o que de mais abominável ainda lhes poderia acontecer seria ter que se integrar e fazer parte da classe média. Gente fina realmente é outra coisa.

2 comentários:

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