18.3.10

O INCONSCIENTE ESTÁ NO SANGUE

Não sei se é possível conhecer alguém intimamente. Talvez seja possível vislumbrar algumas pequenas partes de um todo que é muito mais complexo do que imaginamos no outro, mas não a totalidade. Há sempre outras partes que não conseguimos compreender ou sentir. Como quando olhamos a obra de um artista e pensamos poder compreendê-la. Compreendemos a porção que nos é possível traduzir, e essa porção pode ser maior ou menor de acordo com o grau de compreensão e experiência vivida. Mas tudo pode ser apenas uma projeção de nossos sentimentos refletida no mundo do outro. A exposição “Lucien Freud L’atelier” no Pompidou é mais do que a mostra do trabalho de um artista, é um exercício de interpretação perigoso, no qual somos forçados a olhar não apenas para a obra mas também para nós mesmos. Logo que entramos na sala, somos surpreendidos pela beleza estética de suas obras e ao mesmo tempo avisados (intuitivamente) que lá dentro tudo o que você verá é fruto de um trabalho complexo, saído de dentro da cabeça de um homem que guarda um acervo rico de imagens e pensamentos labirínticos. Impossível apenas olhar e passar para outra obra. Freud exige que você pense sobre o que está vendo. De tela em tela você descobre sentir um prazer masoquista que aumenta a cada passo e a cada pousar de olhos sobre uma nova tela. Elas são plasticamente belas mas te machucam, te incomodam e te fazem sangrar. Eu conhecia apenas alguns de seus quadros, havia visto sempre isoladamente, um aqui e outro acolá, vê-los juntas me provocou um impacto visual e emocional muito forte. Algumas de suas telas de natureza morta são incrivelmente vivas, quase palpáveis. No entanto, nas telas em que o ser humano está presente você tem a impressão de que suas almas estão ausentes, que os corpos foram retratados apenas para compor a tela, os olhares não têm brilho, a cor da pele é pálida quase sempre acompanhada de um rosa avermelhado na região das juntas. Impossível não pensar em Francis Bacon. E mesmo que aparentemente pareça não ter nenhuma relação também em Caravaggio ou El Greco. Seus auto-retratos são como esponjas sugadoras de energia. Você olha para aquele corpo velho e nu, e sente medo de se perder dentro dele, de ser atraído pelo seu labirinto. Na saída há um vídeo de alguns minutos, no qual você pode vê-lo trabalhando, enquanto pinta um homem nu sentado no chão, Lucien Freud, pressiona os dentes, olha para o homem e para a tela, abre um pouco mais a porta buscando a luz ideal, se aproxima da tela e pouco antes de dar uma pincelada ele hesita, desiste. Seus olhos escuros e sombreados parecem cavernas encravadas numa imensa rocha, dentro delas há duas feras que a qualquer momento podem sair e te devorar.


















4 comentários:

Geraldo Brito (Dado) disse...

As imagens já dizem tudo...

Anônimo disse...

Bonjour Sergio,
J'ai vu cette exposition la semaine dernière. Je l'ai trouvée fascinante!
Tony

Sergio K disse...

Bienvenu Tony, quel bonne nouvelle recevoir votre commentaire dans mon blog !
Oui, l’exposition est fascinante, on peut dire n’import quai de Lucien Freud sauf qu’il n’est pas capable de touche notre sentiment.
Merci pour votre visite.

Sergio K disse...
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