7.5.11

DEHORS


Dias de sol, céu azul e temperaturas amenas. Conciliar as obrigações fica difícil. É possível, mas a gente tem que querer e se dispor a ter disciplina. Normalmente isso não me é difícil, mas nas duas últimas semanas tem sido quase impossível. Falta-me tempo para tudo e eu mesmo estou menos interessado em dar conta de tudo. O cansaço tem batido a minha porta. Não tenho vontade de me concentrar. As provas finais da Sorbonne acontecem na segunda quinzena de maio. Tenho também que terminar meu trabalho, escrever o mémoire. É chato de fazer, além de ter que escrevê-lo em francês, tenho que seguir as regras exigidas por eles, não pode isso, não pode aquilo. Reclamo. Porque deveria ter feito isso há 20 anos. Gosto de estudar e aprender, mas não quero mais as exigências, de nenhum lado, nem dos outros nem a minha. São quase 50 anos olhando para dentro de mim e me dizendo o que devo fazer e o que falta fazer. Evidente que sei que essas cobranças me trouxeram até aqui, mas quero a colheita, chega de só plantar. Estou acostumado a escrever livremente e na minha língua. Preciso de horas para escrever um único parágrafo, sou obrigado a interromper o raciocínio toda hora para ver se escrevi como querem que seja escrito, trechos em itálico, outros com espaço duplo, outros normal ou não importa o que, se tem acento, se a palavra é escrita com dois pês ou dois tês e etcterrá. Não vejo a hora de tudo isso acabar. Quero dar continuidade ao romance que comecei a escrever e fui obrigado a interromper em razão do mémoire.

Essa semana um amigo me disse que sou muito ansioso. E quem não é que atire a primeira pedra. Minha ansiedade vem da necessidade de tentar antecipar os resultados. Medo da decepção, em relação ao outro e a mim mesmo, e por não poder prever o que talvez não dará certo. Prefiro conviver com a decepção dos meus próprios erros e sobre a minha pessoa a me decepcionar com os outros. Você vai dizer para não esperar tanto, não depositar tantas esperanças, calcular mais, não fantasiar em demasia, não mergulhar de cabeça e todas essas fórmulas cretinas de psicólogos de botequim que funcionam teoricamente, como panos quentes sobre o hematoma que já coloriu a pele. Pois eu digo que se não for assim, prefiro que não seja nada. Esse mesmo amigo me disse que comigo é tudo ou nada. Bom. Isso é apenas uma meia verdade. Gosto dos acordos formais que ajudam a facilitar a vida, mas não da ausência da paixão e todos seus derivados. Não gosto de cerveja morna, nem de mergulhar de barriga. Prefiro a cutícula do meu dedo indicador sangrando que apontada para o outro.

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