14.5.11

VINAGRETE

Recebi e-mail me convidando para o churrascão em Higienópolis. O tema é complicado para reduzi-lo em duas palavras, então vamos lá. De início, esclareço que sou a favor da extensão do metrô para todos os lados da cidade e sempre defendi isso. Tenho a estação de metrô Marechal a não mais que 50 metros do meu apartamento, e uma das razões que escolhi morar onde moro em São Paulo foi a proximidade do metrô do centro da cidade. Considero a proximidade de uma estação de metrô um privilégio e não um problema. Mas não quer dizer que por isso vou deixar de criticar o policiamento ideológico populista das pessoas que promovem o churrascão. Acredito também que uma estação mais próxima do estádio do Pacaembu atenderia os moradores daquela região, já que moradores dos arredores do estádio e também do lado próximo a avenida Cardoso de Almeida tem menos opções que os moradores da rua Sergipe que têm três estações: Consolação, Mackenzie/Piauí/ e a própria Marechal, sem falar da Sta Cecília um pouco abaixo, mas muito próxima do bairro. Que a classe média brasileira (e de qualquer outro país) é pouco inteligente, só pensa no próprio umbigo e é tacanha no quesito pensar comunitária e socialmente também não vou negar, mas argumentar com idéias politicamente ainda mais tacanhas, por favor, não. Basta ir a uma reunião de condomínio do seu prédio para sofrer constrangimentos e constatar o perfil egoísta e pouco sensível aos interesses comuns. Diferenciado é o ser humano que usa a inteligência e pode pensar independente do saldo da conta bancária. Patrulhamento parecido está acontecendo e sendo explorado aqui na França desde que Dominique Strauss Kahn, o DSK, presidente do FMI e provável candidato do partido socialista foi visto numa Porsche. Os argumentos: como pode um sujeito socialista “andar” de Porsche? Para os patrulheiros ele deveria ir a pé, a cavalo, de bicicleta, de metrô, ou num carro mais barato, assim seu perfil se ajustaria ao dos socialistas, que por sua vez se pretendem mais honestos, mais conscientes socialmente, menos perdulários, mais humanistas e portadores de uma esperança que só um retardado mental acreditaria existir. Por isso a exploração do caso pela direita e pela imprensa. Faça um perfill, o cara já é o presidente do FMI, deve ter um salário e mordomias em conformidade com sua posição, além disso vem de família burguesa e rica, é só olhar para a cara dele e ver que o inchaço é resultado de litros de chablis e fois gras ingeridos ao longo dos anos. Políticos de direita e esquerda apresentam imagens diversas, mas adquirem os mesmos hábitos quando acessam o poder, os bens de consumo podem ser outros, as vaidades podem ser outras, mas nenhum deles consegue reprimir as tentações e as regalias. O mundo em que vivemos não é dividido entre bons e maus, ele é feito de conflitos de interesses, sempre foi assim, no entanto, eles devem ser resolvidos de tal maneira que a parcela menos privilegiada possa ser representada com a mesma força da mais privilegiada. A briga deve se concentrar na diminuição das diferenças, nos direitos que devem ser iguais e etc. Regimes e governos democráticos não representam necessariamente a perfeição em termos de justiça social, mas um meio possível, pelo qual e através de seus mecanismos mais abrangentes tenta-se chegar ao mais próximo dela. A discussão e as reivindicações são justas, resta saber o que será melhor para a maior parte dos usuários do metrô e para os moradores das regiões aonde ele chegará. Você que vai ao churrascão, adivinhe qual vinho tinto Miterrand tomava nas refeições, sangue de boi ou um vinho da Borgonha premier cru, e o Lula nos seus churrascos no planalto, ele comprava suas lingüiças na barraca do largo 13 em Sto Amaro ou mandava buscar num açougue de grife?

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