13.8.11

BÍLIS NEGRA

O impacto do início do filme “Melancholia” de Lars von Trier me lembrou o inicio de 2001 do Kubrick. As imagens do início extraordinário tendo como fundo musical o prelúdio de “Tristão e Isolda” de Wagner são tão marcantes quanto o início de Kubrick ao som de Strauss. De alguma forma o início dos dois filmes dialoga, mas a construção do roteiro e a intenção dos diretores são diferentes. O filme do dinamarquês me tocou profundamente porque explicita o mal estar e a falta de esperança que também sinto neste exato momento. A situação de sackgasse em que a sociedade contemporânea se encontra e continua fazendo de conta de que nada está acontecendo está ali. O encontro dos dois planetas, Melancholia e Terra, serve como anúncio desse fim de mundo que no filme é sentido de maneira diferente por cada um dos protagonistas. O marido de Claire, materialista que insiste em ignorar o perigo reafirmando os cientistas e suas explicações racionais para tudo, a própria Claire que teme o choque entre os planetas e o fim do mundo, aliás de seu mundo perfeito e confortável, e Justine que sabe que a catástrofe está perto e sofre no próprio corpo os efeitos de sua intuição. O filme é dividido em duas partes o que me agrada muito, já que assim o diretor consegue construir a história e diferenciar ricamente os papeis dos protagonistas. Ao trio se juntam os pais das duas irmãs, duas pessoas de visão de mundo opostas, ele beirando a infantilidade e a debilidade, ela cínica e descrente, e ainda o futuro marido de Justine que vai se ver forçado a compreender que Justine não é a mulher que ele havia idealizado, e mais o patrão de Justine e seu sobrinho abobado. Nesse grupo reduzido no qual os males da sociedade contemporânea estão representados, o malaise transparece e angustia. Perfeito. A festa de casamento se degringola. Lentamente a decadência vem a superfície, a começar com a limusine branca com sei lá quantos metros de cumprimento que não consegue fazer a curva e empaca na lama. A percepção do fim dos tempos é sentida de diferentes maneiras por essas pessoas, com exceção do filho de Claire não há inocentes. O romantismo da música de Wagner e o simbolismo das imagens surreais dão o contrapeso ao racional e ao irracional, nada mais tem importância quando o fim do mundo está próximo, mas nem por isso somos poupados.

Na quarta viajo para o Brasil. Por quanto tempo? Não sei. Vou tratar do lançamento do meu terceiro livro que deve sair no final de setembro ou início de outubro, cuidar de outros assuntos e esperar o fim do mundo chegar, com choque de planetas ou não, 2012 está próximo, catástrofes estão no menu previsível dos videntes. Mas os verdadeiros videntes são os que admitem não conseguir predizer o futuro. Deixar-me surpreender pelo que vem pela frente.

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