31.3.05

DESIGN INTERIOR.










horizontes infinitos,
oceanos profundos ,
matas fechadas,
florestas virgens,
tribos escondidas,
e a vontade petrificada
para que tudo permaneça
da mesma maneira.


30.3.05

IMPONTUAL.









Encontrei-me comigo mesmo há
alguns metros de minha casa.
Cumprimentei-me de longe.
“Oi”, falei bem baixinho.
“Oi”, ouvi de mim mesmo.
Em seguida seguimos os
nossos caminhos,
eu e meu outro eu.
Do furtivo encontro o que mais
me chamou a atenção
foi ver-me refletido
nos olhos dele.
Senti um misto de
constrangimento e curiosidade.
Um frio na barriga.
Percebi um Q de interesse
estampado em nossas pupilas.



28.3.05

COLÍRIO UNIVERSAL.










Há uma árvore chamada cegueira.

No meio das ruas,
Das avenidas,
Nos mercados,
Sob as pontes,
Nos jardins,
Praças,
Casas.

Há um fruto de cegueira,

Nas cabeças,
Dentro dos estômagos,
Nas barrigas,
Em cada passo,
Em cada gesto,
palavra,
respiro.

Há uma epidemia de cegueira.


Há quem não creia,
Não sinta,
Não fale,
Não veja.

Há antídotos,
Cura,
Remédios.
Nos interiores,

Dos nossos corações.

24.3.05

PARA VARIAR.








Um novo conto.
A PONTE QUE OS LEVA A DEUS.
A estória resumida de Padre Plínio e
Irmã Theodósia. E da ponte que os leva a Deus.
Clique em Contos Inéditos e boa leitura.

21.3.05

CABE A MIM.










Cabe a mim,
resgatar energia,
inspirar-me da vontade de,
imaginar cenários,
decorá-los,
juntar as peças,
e recomeçar.

Cabe a mim,
alimentar a energia,
manter a vontade de,
procurar outras peças
para novos cenários,
novamente decorá-los
e recomeçar.

Cabe a mim,
dosar energia,
selecionar a vontade de,
dispensar velhas peças,
limpar os cenários,
redecorá-los
e recomeçar.

Cabe a mim,
recomeçar a resgatar
a vontade da vontade de,
recomeçar a preencher cenários
com imagens e peças,
recomeçar a recomeçar
a recomeçar.

19.3.05

GOTAS DA MEMÓRIA.









Lembro-me muito bem daquelas
gotas de orvalho congeladas.
São cristais, alguém me disse.
Os pingos d’água solidificaram-se durante
a noite, enquanto dormíamos.
Transformaram-se em lindos brincos
pendurados nas pontas dos galhos das árvores.
Não sobreviverão por muito tempo, alguém me avisou.
E não sobreviveram.
Algumas horas depois, elas desapareceriam com
o calor do sol.
Escorregaram novamente em forma de gotas e
pingaram sobre a terra fria.
Foram cristais, lindos e cheios de brilho,
dissemos simultaneamente.
Por um tempo. Cristais.
O suficiente para nos encantar.
O suficiente para serem chamadas de cristais.
O suficiente para esse alguém me pegar pelo braço
e levar-me para bem próximo delas para admirá-las.
O suficiente para fazerem parte da minha história.
O suficiente para serem registradas nas minhas retinas
e nunca mais se desprenderem da minha memória.
O suficiente para se transformarem em duas
lágrimas que agora escorrem dos meus olhos.
O suficiente para tocarem meus lábios
e me fazerem sentir o gosto do sal.
O suficiente. A medida certa.
No tempo certo. Na hora exata.
Cristais valiosos que não pude ter.
Presentes raros que não pude guardar.
Gotas de orvalho congeladas,
desaparecidas para sempre.
Para nunca mais voltarem.
Para nunca mais chamarem a sua atenção.
Para nunca mais poder sentir sua mão em meu braço.
Para eternamente viverem em minhas lembranças.



18.3.05

MOEDORES RESISTENTES.












Não posso deixar de descrever o pensamento.
Por vezes os dias são como moedores de carne.
Feitos de manivelas ágeis e material resistente.
Somos reduzidos a pedacinhos.
Humildes e pacientes.
Esperamos por um novo dia.
E um novo moedor ressurge na linha do horizonte.
Para recomeçar a moer o que restou do
dia anterior.

14.3.05

CONCERTO DO MEIO AQUI MENOR.











Overture

A escassez, assim como a abundância de
sentimentos, é degenerativa.
Como sempre o meio termo seria o ideal.
Nem muito aqui, nem muito acolá.
“Ai ai ai (canta o coro uníssono) como é
desgastante equilibrar-se entre os extremos”.

1º movimento – Alegro maestoso.

Abre as asas sobre mim,
cafona e exageradamente emocional
juras de amor deslizam em colheradas
goela abaixo.

2º Movimento – Andante com motto.

De lá para cá.
Constante. 1.0 subindo a serra.
Olhos revirados para cima.
O vento quase não sopra.
O que se vê é branco e previsível.

3º movimento – Menuetto.

Ainda previsível.
O branco chama a atenção.
Sim, sim, resultado de mistura de cores.
Ninguém quer isso assim,
branco, e sem ventos.

4º movimento – Finale.

Ainda é branco o que se vê.
Sempre foi. Sempre será.
“Há, há, há, (canta o coro uníssono)
não adianta se desgastar, o meio é o
branco e sempre será.”






12.3.05

O COLHEDOR NO CAMPO DE.










Acordei que pastava.
O sol, para não fugir à regra,
fritava meus miolos.
Não havia água, nem mato.
Campo infinito de infinitas impossibilidades.
Enfiei as quatro patas na terra seca.
Empaquei por falta de alternativas.
Muuuuuh eu urrei a cada rajada de vento que
fingia anunciar novas chuvas.
Muuuuuh acordei que sonhava.
Muuuuuh.


10.3.05

DO FORNO...









Um novo conto acaba de sair do forno.
Porque eu não sei e não tenho mais nada
para fazer, a não ser contar estórias.
"DONA DADÁ". Clique em CONTOS INÉDITOS,
e entre você também no velho sobrado .

8.3.05

AINDA PRIMATA.










A razão isolada.
Embutida numa caixa craniana.
Longe da essência.
Escondida. Infiel.
Enamorada. Amante do imaginário.
Envelope de conteúdo secreto: urgentíssimo.
Mãe dos primatas, primitivos, precursores.
Língua viajante. Passaporte itinerante.
Eu sou você livre de mim.
Eu sou você de carne e osso.
Eu sou você em movimento.

PRIMATA.









Olhei para os meus pés.
Pela primeira vez chamei-me de primata.
Implorei-me intensamente o equilíbrio.

7.3.05

A PAZ QUE VIRÁ.










Acordei pensando em abandonar as armas.
Escovei os dentes, fiz a barba e sob a ducha orei.
O ralo ampliou suas dimensões.
Sugou baionetas, revólveres, facas e estiletes.
Sobrou-me, além dos vícios inofensivos, a fé.
Encoberta por toneladas de material bélico
eu já nem me lembrava mais dela.
Incolor, leve e cheirosa, não me disse nada.
Silenciamos os dois. Ainda nos estranhamos.
Ainda.

5.3.05

PARA DENTRO DE MIM.









Para o fim de semana. Tem mais um novo
conto para você. "PARA DENTRO DE MIM".
Clique em Contos Inéditos. Boa Leitura.

4.3.05

O CAMALEÃO FALANTE.









Encontrei-o na beira de uma fonte.
Numa praça perto de casa.
Esticado sob o sol quente do meio dia.
Olhei para ele desconfiado. Era de verdade ou
um brinquedo, esquecido por alguma daquelas
crianças que costumam ir passear acompanhadas de
suas babás? Cutuquei-o com o pé e ele soltou um grito.
“Aaai, num ta vendo eu aqui? Que saco, num se pode nem
tomar sol sossegado nessa praça!”
Me assustei. Nunca vira (e muito menos ouvira) um camaleão
falar.
Pedi desculpas e quando já começava a fugir ele me chamou.
“Ei, ei, você aí. Promete que num vai contar pra ninguém que
eu to aqui?”

Eu respondi rapidamente que sim.
Queria sair logo de perto dele.
Achei que estivesse enlouquecendo.
Mas quando me distanciei do camaleão falante, fui acometido
por uma curiosidade incontrolável. Por que será que ele não
queria que soubessem de sua presença naquele parque?
Voltei. Ele ainda estava no mesmo lugar e continuava verde.
Perguntei a ele sobre a razão de seu desejo.
Sua resposta foi curta e grossa.
“Cansei. Não quero mais ficar mudando de cor.
Quero ser verde pra sempre. Quem sabe não sou confundido
com um lagarto e consigo viver em paz.”
Olhei para ele e comecei a rir.
“Ta rindo de que?”
De nada, eu respondi.
“Eu sei, eu sei, você deve estar pensando que sou louco,
mas se fosse uma criatura como eu, e passasse a vida toda
tendo que mudar de cor, um dia você também pensaria assim.”
Tudo bem, eu lhe disse tentando acalmá-lo, tudo bem. Não
vou sair por aí dizendo pra todo mundo que encontrei um
camaleão falante. Não se preocupe. Fique tranqüilo.
Olhei para ele e percebi que ele começava a enrubescer.
Antes que eu pudesse avisá-lo, ele percebeu que o tom verde
de sua pele, começava a dar lugar a outras cores.
Enquanto seu olho esquerdo inspecionava o próprio corpo,
o direito me encarou melancólico e desanimado.
“É nisso que dá querer ir contra a natureza. Uma vez camaleão,
para sempre camaleão.”
Argumentei que isso era maravilhoso. Que beleza, eu disse. Ter a
benção de Deus para colorir a pele de várias cores, poder se camuflar.
E depois, argumentei ainda, você é o único camaleão falante que
eu conheço.

Penalizado, quis aproximar-me dele para acariciá-lo,
mas assim que dei um passo em sua direção, ele deslizou

rapidamente para cima de uma árvore.
Corri atrás dele e demorei um pouco para avistá-lo.
Quando o avistei, sua pele já havia se transformado nos tons verdes
das cores das folhas.
Tentei comunicar-me mais algumas vezes, mas ele não respondeu
aos meus apelos. Fiquei sob a árvore por mais algumas horas. Fiz
apelos e juras. Tudo em vão. Seus olhos giraram várias
vezes em minha direção. Fixaram-me até, mas falar que é bom,
ele não mais falou.
Voltei a encontrá-lo outras vezes, e a mesma estória se repetiu.
Assim que eu me aproximava para persuadi-lo a conversar comigo,
ele subia numa das árvores e se escondia entre o colorido das folhas.
Depois de muitas tentativas me cansei. Fui obrigado a aceitar sua
vontade. Que ficasse entre as folhas. E verde, como um lagarto.



2.3.05

NOVO CONTO PRA VOCÊ.





Recém "postado", o "VERMELHOS" ,
logo ao lado, em Contos Inéditos,
é só clicar e boa leitura.
Comentários são sempre bem vindos.