Abriu a porta da minha casa como se fosse a sua.
Atravessou a sala em busca do jornal.
Antes de se sentar e começar a ler as notícias do dia
perguntou-me: “e você, está bem?”
Primeiro ouvi um grito.
Um único grito.
Alto e estridente como uma sirene.
Depois, ouvi outros gritos.
Outros. Gritos.
Não tão altos nem tão estridentes como uma sirene.
Tem um labirinto dentro da minha cabeça.
Dentro da minha cabeça tem um labirinto.
Cabeça... labirinto... dentro...
Você não me disse, mas eu adivinhei o seu desejo.
Enfiei a mão dentro do seu bolso e peguei o drops.
Nunca pensei que alguém pudesse ler os meus segredos.
29.7.05
22.7.05
REFLEXÕES, REFLORESTAMENTOS, REFAZENDA.
Há um tempo para tudo.
Um para o início e outro para o fim.
E um também para o meio. Este é o mais difícil. Porque nunca
sabemos se estamos ainda no começo ou já próximo do final.
Quando estamos no meio de um percurso/história/acontecimento
que gostamos, então queremos que ele dure para sempre.
Se for o contrário, isto é, quando nos desagrada, então queremos
que ele chegue logo ao fim. Não há problemas. Tudo bem.
Também não estou me queixando. É só uma constatação.
A liçãozinha tem seu lado positivo. Fico mais relaxado.
Tem um ritmo próprio. Até mesmo no processo criativo.
Nem sempre as coisas andam como a gente gostaria.
As vezes temos tempo e as palavras não querem usufrui
dele da mesma maneira que a gente. As vezes não temos tempo
e elas vêm. Atropelam os pensamentos e se impõem.
Pedem para serem escritas imediatamente. E que assim
seja feita a vontade delas. Mãos a obra. E não poderia ser
diferente. Porque senão não faríamos parte da natureza.
Acordei com “Começar de novo... e contar comigo...”
na cabeça. Que será? Acho que tenho acompanhado
demais os últimos acontecimentos políticos do país.
Uma saudade do tempo em que seriado televisivo
tinha programas do tipo Malú Mulher cujo conteúdo
era repleto de indagações construtivas.
Não vá fazer ligação entre Regina Duarte e os
episódios da política nacional. Mas e aí?
E agora? Da para acreditar ainda em alguma coisa/
pessoa/instituição? Que tal começar de novo?
Acho que não vai sobrar outra alternativa.
19.7.05
17.7.05
NO AR.
De algum modo que eu não consigo a olho nu
enxergar, eu também envelheço. E é bom não
ver, mas perceber as mudanças.
Explicações não são somente palavras sinônimos
que correspondem com exatidão ao que sinto.
Antes de tudo são frases que exprimem
um pouco do que consigo entender sobre mim.
Ontem falei que saturno abandonou o signo de
câncer e entrou em Leão. Não sei bem como
esta mudança vai refletir em minha vida.
Mas posso dizer da leveza que sinto agora.
Sou talvez auto sugestionável. Não me importo
com isso. Uma das mudanças iminentes e perceptíveis
que se instalaram dentro de mim, é exatamente a
relatividade da importância que algo possa ter ou
exercer sobre os meus atos.
Quando a palavra coerência começa a assemelhar-se
demais a palavra aparência, então prefiro não ser.
Mais registros:
Quando adolescente participei de alguns retiros
espirituais/religiosos organizados pelo colégio salesiano
em que estudei. Não aprendi muita coisa. Pelo menos
nada do que os padres desejavam que eu aprendesse.
Mas hoje me lembrei do prazer que sentia quando no
final da tarde eles nos obrigavam a ficar por mais ou
menos uns sessenta minutos sozinhos para meditar
sobre o que fora discutido durante o dia. Um prazer que
sinto até hoje quando me sento diante do computador
e escrevo estórias. Venho de volta para o eixo central.
Para dentro de mim. Para o que acumulei.
16.7.05
REGISTROS SABÁTICOS.
Hoje Saturno sai de Câncer e passa
a habitar o signo de Leão por dois anos.
Na madrugada acabei de escrever o nono
capítulo de um novo romance.
Mais do que nunca percebo como todos
os movimentos pertinentes ou não a minha
pessoa influenciam o meu trabalho.
Música, artigos de jornal, uma única palavra
ouvida “en passant” por casais falantes que
eu cruzo nas ruas, noticiário político,
um amontoado de informações que
de alguma forma também participam
do meu processo criativo.
Colcha de retalhos.
O artesão é um homem
capaz de juntar pedaços e fragmentos
da vida alheia.
A vida alheia só é alheia
porque equivocadamente pensamos
não fazer parte dela.
Admiro a coragem e a leveza
na vida do amigo “je bois”.
Não gosto de caminhar quando
o vento está rebelde como hoje.
Meu amor é maduro.
Mora num outeiro.
Tem um osciloscópio.
a habitar o signo de Leão por dois anos.
Na madrugada acabei de escrever o nono
capítulo de um novo romance.
Mais do que nunca percebo como todos
os movimentos pertinentes ou não a minha
pessoa influenciam o meu trabalho.
Música, artigos de jornal, uma única palavra
ouvida “en passant” por casais falantes que
eu cruzo nas ruas, noticiário político,
um amontoado de informações que
de alguma forma também participam
do meu processo criativo.
Colcha de retalhos.
O artesão é um homem
capaz de juntar pedaços e fragmentos
da vida alheia.
A vida alheia só é alheia
porque equivocadamente pensamos
não fazer parte dela.
Admiro a coragem e a leveza
na vida do amigo “je bois”.
Não gosto de caminhar quando
o vento está rebelde como hoje.
Meu amor é maduro.
Mora num outeiro.
Tem um osciloscópio.
14.7.05
AGORA EU ENTENDI.
Hoje assisti a um desses programas televisivos feitos
por pastores evangélicos. Fiquei fascinado pela retórica e
a lógica dos apresentadores e seus convidados.
Você se une a igreja deles e Deus em poucos meses te
ajuda a saldar tuas dívidas e em mais alguns meses
você está recebendo os frutos e dividendos.
Porque, segundo o entrevistado, “Deus dá
somente aquilo que precisamos enquanto estamos na pior, Ele
sabe do que necessitamos nos momentos de dificuldade,
o resto, os frutos, regalias e a abundância ele dá só depois.”
Que tal?
O sujeito com uma cara limpinha, cabelinho com risca
lateral, esticadinho e brilhante, disse que em apenas alguns
meses ele saldou suas dívidas. O resto veio depois. Sua empresa
cresceu “vertiginosamente”, a mulher passou a amá-lo como
antes e as crianças estão felizes como nunca.
O que ele fez para “merecer” tal benção?
Nada. Entrou para a igreja e começou a rezar.
Por que só depois os frutos e dividendos,
quando ele já não precisa mais de ajuda?
Na hora pensei nos milhões arrecadados na cobrança
do dízimo, escândalo (um dos) mais recente no cenário
da política nacional. Talvez para que ele possa retribuir
generosamente aos bispos pela bênção recebida.
Também quero, esse canal aberto com o Deus deles.
Ter apenas que rezar e pronto:
as coisas melhoram e eu começo a prosperar, dia a dia,
clientes aparecerão do além, o dinheiro (não se esqueça,
primeiro somente o necessário) entrará na minha conta,
editores brigarão para publicar os meus livros,
meus cabelos crescerão, meus desejos enfim serão realizados.
Depois, quando tudo estiver bem, aí virão os frutos, dividendos,
champanhe, caviar, salmão defumado, carros, aviões,
enfim tudo aquilo que enquanto eu passava dificuldades
eu não ia ter mesmo condições de usufruir. Entendeu?
É tudo muito lógico.
Agora eu entendi porque no momento eu só estou recebendo
as migalhas. Porque Deus está me reservando tudo que é bom
para depois. Para quando eu não precisar de mais nada.
8.7.05
ANTES DE TUDO
Antes de tudo,
quando ainda andava mergulhado
nas profundezas de Florbela Espanca,
e a vida não havia tomado a forma disforme,
antes de tudo,
eu era um amontoado de sonhos não revelados,
e vidas ainda não vividas,
desconhecia a brevidade dos poemas concretos
e dos haicais minimalistas,
antes de tudo,
do descobrimento das palavras pontiagudas
e das pontuações necessárias para dar ritmo
as frases que aprendi a falar,
antes de tudo havia a vontade,
de descobrir a superfície,
de respirar ares,
e de sobrevoar terras distantes.
4.7.05
EXERCÍCIO.
Contrariando muita gente que conheço
eu gosto da segunda feira. Mesmo porque,
não nos resta outra alternativa, ela volta depois de cada
final de semana. Mas não era sobre o início da semana
que eu pensava falar. Era sobre singelezas.
No sábado assisti ao filme “Conversando com mamãe”.
Estou me tornando lentamente um grande fã do filme
argentino. O que o diferencia dos outros, pelo menos
nessa nova safra de filmes que tem vindo para cá, são
os temas simples tratados com dignidade e sensibilidade
raramente encontradas nos filmes atuais. Sem falar no talento
dos atores. O filme em questão conta a estória de um filho que
forçado pela mulher e sogra tenta convencer a mãe a sair do
apartamento onde mora para vendê-lo e assim cobrir suas
dívidas. Mas não é isso o que vemos. Lentamente mergulhamos
no fundo de um oceano mais complexo. Velhice, perda e resgate
dos ideais da juventude, cegueira provocada pela falta de coragem
de sermos o que realmente queremos ser, enfim, poderia enumerar
mais coisas, mas prefiro parar por aqui. Porquê no fundo o que
queria dizer é que nem sempre um filme forte é aquele repleto
de imagens que potencializam a realidade. Ele pode ser singelo.
Contar uma estória simples. E provocar muito mais emoções.
Sem recursos visuais hiper realistas, ou discursos longos sobre
como mudar o mundo. Simplicidade é o que conta neste filme
singelo, bem feito e quase água com açúcar.
Então retomo a segunda feira. Ao começo da semana que me
desejo, e também a vocês leitores deste blog,delicada
sem perder a leveza, realista sem dispensar os sonhos.
2.7.05
MIX DO BAMBAMBAM
Um pouco de tudo.
Suor, emoção, razão, praticidade,
preguiça, vontade, fome e náusea.
Um mix. Vindo de duas misturas que
juntas codificaram o meu DNA.
Gostei disso. E vou assumir também.
Esse meu lado pan.
Não sei se de panacéia ou de pancada.
Mas é um remédio sim. Que não cura.
Mas remedia. Entende?
Eu entendi.
Receitas lisérgicas. Têm a função de lindar a dor.
Aceito esse pouco de tudo.
Dentro do meu peito caucasiano
cabe muita coisa ainda.
Não tudo.
Porquê já sei o que não quero inspirar.
Mas muito do que ainda desconheço
e ainda quero mixar ao pouco de tudo
que sou.
1.7.05
DESCONGESTÃO.
Enquanto o botão “pause” estiver, contra a minha
vontade, pressionado, despejarei envelopinhos e
envelopinhos de sal de frutas em copos d’àgua .
Descobri a sensação instantânea de alívio e bem estar.
“O problema são os outros”
Quem foi mesmo que disse?
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