Depois de um dia intenso de trabalho a sensação é de esgotamento total. E junto com essa exaustão vem sempre uma sensação que é terrível para mim: quero escrever e não consigo porque estou muito cansado para criar e dar continuidade ao texto que está dentro do computador me esperando. Nessa hora me bate um sentimento de impotência terrível. Querer e não poder. Não tem a ver com a matéria diretamente, porque estou falando sobre uma produção intelectual, algo não palpável que é o exercício do pensar. Mas por outro lado tem a ver diretamente com o material, porque como acontece com quase a totalidade das pessoas que habitam esse universo, eu tenho que trabalhar muito para poder dar conta de todas as minhas obrigações. Não tem como ser diferente. Tenho que morar, comer, me vestir, me comunicar, me informar, e tudo isso tem um custo. Um custo que me é muito caro, porque me rouba um bem muito precioso que é o tempo. Para escrever é preciso ter tempo. Sem ele não há criação. Sentar, pensar, não escrever nada, voltar ao mesmo lugar e pensar, e então começar a escrever o que talvez eu tenha que apagar e novamente pensar, fazer um café e voltar para frente do computador e recomeçar tudo novamente. Talvez a diferença entre o tempo que me falta e o tempo que me sobra, aí no meio é o meu lugar. Mas é pouco. Muito pouco. Porque tenho tanto dentro de mim para trazer para fora, transformar em palavras.
Faço a primeira correção/revisão do meu terceiro livro que será um romance. Já revisei um terço dele. Gosto desse trabalho, acho até mais prazeroso que o próprio processo de criação. A história está feita, mas não pronta. Procura-se o melhor. A melhor palavra que expresse o que se quis dizer, a palavra mais justa como queria Flaubert. Ainda não tenho um título para ele. Tenho mas não estou certo, acho que terei certeza quando eu terminá-lo de verdade. Encontrarei o mais justo, o que melhor combinar com o corpo e rosto dele.