7.7.08

UNIVERSOS PARTICULARES

No último fim de semana estive no Rio. Além de re-visitar os amigos e caminhar muito pela cidade, vi a exposição do Taunay no Museu Nacional que se encerrou ontem. Não sou conhecedor nem especialista, portanto não fiquei analisando técnicas ou comparando com outros pintores da época. O que mais pensei durante o tempo em que observava as telas, foi sobre como devem ter sido suas primeiras impressões ao chegar ao Brasil. Retrocedi no tempo: o Rio de Janeiro em 1816 data de sua chegada, a corte, o povo, a natureza exuberante, a pobreza, os escravos, o cheiro nas ruas, como tudo isso interferiu no humor e estado de espírito do pintor de telas classicistas francesas e paisagens romanas. Lógico que tenho consciência de que também a França que ele havia abandonado não era o que hoje imaginamos, a revolução, a quantidade de cabeças que rolaram, o fedor nas ruas, Napoleão, nada disso é tão cheio de grandeza como imaginamos quando aprendemos na escola. Percebi que apesar de todas as diferenças de cores, odores, nobreza e etc... seus traços retrataram as novas paisagens segundo a extensão dos seus limites. Acho que isso é o que chamamos de assinatura do artista. O que já há dentro dele, mais o que se acumula com as experiências vividas. O país, a gente, a língua, os cheiros, o meio em que ele viveu, não há dúvida de que tudo isso teve um impacto sobre ele, entretanto ele viu e sentiu através do que já estava apreendido em seu interior. Penso que explicações sobre a obra de qualquer artista nem sempre atingem o objetivo desejado, o que não é o caso dessa exposição, os esclarecimentos tem lugar. Mas o que realmente eu quero dizer desde o começo, é que toda obra de arte – seja ela oriunda do cinema, teatro, literatura ou artes plásticas - , interfere de maneira diferente nos sentimentos de cada um dos que se deixam envolver por elas, e talvez seja esse verdadeiramente seu único e grande mérito. Há um universo infinito de visitantes com seus universos particulares.

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