Já faz algum tempo, eu gostava muito mais de estar entre pessoas e conhecer outras novas. Achava interessante a variedade de tipos e de suas diferentes personalidades. Pensava que ao conhecê-las, eu estaria enriquecendo meu espírito com novas idéias e emoções. Passou. Faz tempo que passou. Em boa parte por causa do desencanto natural que as experiências vividas me trouxeram, e em outra porque preciso de muito tempo para mim e para escrever. Há pouquíssimas pessoas corajosas e verdadeiramente interessadas em trocar conhecimento. A grande maioria quer falar, e falar de si mesmo ou do que acreditam ser. Não querem ouvir nem prestar atenção no outro ou no que acontece ao redor. Pena, mas acho que faz parte do zeitgeist em que vivemos. Tempo ruim. De gente muito preocupada em olhar apenas para si mesma, bloquear os ouvidos e não vivenciar o que é real. Estou discorrendo sobre esse tema, porque ontem fui assistir a peça “Alma Imoral” baseada no livro que tem o mesmo nome do Nilton Bonder e é encenada pela Clarice Niskier. Sai da peça totalmente envolvido com o tema e encantado com o trabalho da Clarice. Como ela bem diz no começo da peça, não há uma história com foco, começo/meio/fim como no teatro que estamos acostumados a assistir, mas sim uma sucessão de pensamentos e narrativas. Essas histórias são contadas com uma naturalidade e elegância cada vez mais raras de se encontrar entre os atores brasileiros. Clarice esbanja em elegância, e consegue nos fazer compreender a avalanche de pensamentos e palavras com uma facilidade invejável. De volta para o início desse post, o conteúdo da peça me re-conectou comigo mesmo. Com a certeza de que é preciso seguir a intuição, mesmo que ela te passe um sentimento de insegurança, porque de alguma maneira ela está te fazendo escolher o caminho inverso da maioria das pessoas. Transgredir pode ser muito bom, mas é preciso coragem porque na maior parte do tempo você se verá sozinho. Mas há outros transgressores anônimos, muitos outros que também escolheram outros caminhos. E é isso o que importa, que você não se junte ao grande corpo moral, mas que escute o que sua alma imoral está te dizendo para fazer. Prefira a traição, rejeite a hipocrisia.
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