26.10.09

BICHO DA SEDA.

Precisei da chuva que hoje a tarde lavou a cidade para clarear e limpar minha cabeça de pensamentos ruins. Quando fico assim, o pessimismo acaba dominando. Para falar a verdade não acho tão ruim. Pessimismo quando não confundido com negativismo me ajuda a ver a vida como ela é. Lógico que como todo mundo gosto de sonhar e acreditar em dias melhores, ou que no fundo todas as pessoas nascem boas e o meio é que as corrompe. Mas quando sou dominado pelo pessimismo circulo melhor pelas ruas porque me sinto mais arisco, no sentido de manter a reafirmar meu espírito crítico. Pode ser que no pessimismo eu encontre uma forma de escapar do que mais detesto: o conformismo, o meio termo de tudo, o não é bom mas também não é ruim, o monte de baboseiras levadas a sério. Pode ser.

Quando caminhava sob gotas gordas de chuva no meio da rua, ouvi um casal que passava ao meu lado comentar que a chuva que cai em São Paulo é ácida. Talvez seja isso. Ao invés de nos proteger da chuva ácida, faria um bem danado tomar um banho dela.

Num café no centro da cidade vi uma garota com os lábios cheios de piercing em forma de pequenas argolinhas. Essas argolinhas enfileiradas sustentavam pequenos dados Eram muitos. Eu olhei e contei. Sete ao todo. Em cada sobrancelha mais duas ou três argolinhas com dadinhos. No nariz um ferrinho em forma de traço atravessava a cartilagem. Na testa umas bolinhas subcutâneas (de)formando dois chifrinhos. Assim como eu ela tomava um café. Conversava com um sujeito velho com uma cara que parecia carregar todas as marcas do mundo. Queria entender. Só estou dizendo que queria entender. Estou dizendo que olhando bem para o rosto dela e imaginando seus lábios e testa sem nenhum daqueles penduricalhos, eu talvez tivesse me demorado mais apreciando seus belos traços. Não há como não olhar, desviar, e depois olhar novamente. Mas depois, você não quer mais olhar. Quer apenas entender.

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