Subia a Rua Padre João Manuel a pé desde a Alameda Lorena em direção a Avenida Paulista. Para quem não conhece ou não se lembra uma ladeira absurrrda para um ser humano que não é atleta olímpico como eu. Uma mulher que eu nunca havia visto se aproximou e me disse que agradecia muito ter encontrado um anjo da guarda no meio do caminho já que ela também subia a Padre João. Achei que ela fosse louca, mas não quis ignorá-la. Foi quando ela me pediu para ajudá-la, tinha duas sacolas cheias de livro e estavam muito pesadas, eu deveria carregar uma delas até a Av. Paulista. Olhei dentro da sacola para me certificar que dentro dela tinha livros mesmo e não outra coisa. Sei lá do jeito que as pessoas estão enlouquecidas ela poderia estar carregando um corpo esquartejado/drogas/uma cobra/pássaros exóticos. Eram livros mesmo. Pesavam uns trinta quilos. No meio do caminho ela me contou que era escritora, cientista social, e falou, falou, falou, falou, falou, depois respirou e falou, falou, falou, falou até chegar na Paulista. Lá em cima eu entreguei a sacola para ela que continuava a falar e falar e falar e falar e de repente segurou no meu braço para que eu não apressasse o passo e saísse correndo, me entregou um cartão, era amiga do Pedro, sabe o Pedro, o Pedro Herz da Cultura, então eu disse a ele que... Não esperei para saber o resto. Atravessei a rua e me distanciei. Achei que nunca mais ela fosse parar de falar e falar e falar e falar. Tenho que acreditar mais na minha intuição. Não posso me esquecer de que as primeiras impressões são realmente as verdadeiras, passou dessa fase vira ficção. Não sou peixe urbano para ser fisgado no meio da rua.
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