8.10.09

SEM FIXADOR

Outro dia conversava com uma amiga sobre um sentimento de descompasso que tenho com freqüência. Entre o que sou e aprendi a cultivar, e o que está aí e se autodenomina novo. A sensação é a de que tudo o que vem não chega para ficar. Ou que mal chega e já se vai, não fica, não permanece. O efêmero como revestimento de qualquer produto, idéia, e até pessoa. Eu disse: “não dá nem tempo de digerir”. Ela respondeu: “não há o que digerir, não tem substância, já vem sem nutrientes.”

Reflito sobre a questão da sintonia entre intuição e coerência (que muitas vezes pode ser confundida com teimosia). Quando algo novo nos é apresentado, imediatamente há uma confrontação com o que já está assimilado e para nós é certo e seguro. O próximo passo é meio automático, a gente tem uma tendência a descartar o novo, então é preciso ser curioso para não desistir rapidamente. Tem que haver vontade de conhecer. A partir desse ponto, experiência se mistura com discernimento e razão, e a coisa é ou não aceita, excluída a teimosia que pode ser importante protagonista na desenrolar da experimentação. O que me parece cada vez mais freqüente é a quantidade de bobagens sendo produzidas e muito bem divulgadas pela mídia e por gente que as assimila imediatamente por que têm a necessidade de se sentirem fazendo parte. Discordo do argumento daqueles que alegam falta de tempo para pensar e fazer escolhas. Falta de tempo na maioria das vezes é sinônimo de falta de organização, ou vontade de ficar na superfície, ciscando aqui e acolá. Falta de tempo pode ser não querer se envolver.

Uma vez visitando o Egito, fui levado a uma fábrica que diziam ser criadora das fórmulas das melhores marcas de perfumes vendidos na Europa. Estava viajando com outras pessoas e não pude escapar dessa aventura que não me interessava. Trouxeram-nos vários frasquinhos, todos muito bonitos e de cores diversas e nos faziam sentir o perfume de cada um. Diziam “esse é Armani, esse outro é Saint Laurent, e blábláblá”. Algumas das pessoas que estavam comigo compraram os pequenos frasquinhos por preços infinitamente menores do que teriam que pagar nas lojas achando que haviam feito um grande negócio. Visitamos Cairo e depois seguimos viagem para a costa do mar vermelho. Lá ficamos por mais quatro dias. Antes de partirmos para nossas casas os conteúdos dos frasquinhos já não exalavam perfume algum.

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