26.6.10

MOVIMENTOS

Hoje o dia estava ainda mais quente do que ontem. Sol e céu azul. Dia perfeito para quase um milhao de pessoas que participaram da parada gay parisiense. Exceto pelos carros de som bem menores, quase todo o resto é igual a do Brasil. Disse quase porque aqui a politizacao é evidente, a ponto do partido comunista francês se fazer presente. Imagine! Comunista e viado? Nossa, isso existe também? Ba oui, aqui existe assumidamente. E ainda carro da associação dos policiais gays, outro dos gays católicos logo seguido pelo dos gays judeus e outras associações como a dos enfermeiros gays. Pessoalmente acho uma grande bobagem. Sei da necessidade de se unir e se organizar para ganhar força e representação na sociedade, mas se a intencao é ser igual por que se diferenciar? Na verdade acho que todas essas manifestações hoje em dia não fazem o menor sentido. É evidente a ausência de envolvimento político, quero dizer, da consciência. O que se vê é um desfile de milhares de indivíduos interessados em expor, cada um a seu modo, seus egos esteriotipados. Isso que se vê em conjunto já vemos individualmente nas ruas, nos bares, nos shoppings freis canecas, a diferença é a concentração de variados tipos. Se o desfile da fauna provoca a compreensão da importância de se reconhecer as diferenças, isso é outra coisa. Você já assisitiu a um desfile de escola de samba? Então, é a mesma coisa, com uma variedade maior de exibicionistas, mas depois de ver a primeira escola passar, pode ir embora, porque as outras só mudam as cores das fantasias. A turba passou pelo Boulevard Saint German e se acabou na Bastille. Depois o Marais encheu, nao se podia caminhar pelas ruas entupidas de gente, festa por toda parte, bares e restaurantes lotados, sorveterias abertas, drags por todos os lados, enfim, um cirque de soleil a céu aberto.

A noitinha um jantarzinho babel aqui em casa para fazer valer a sociedade multiculti francesa. Um americano, um canadense, um brasileiro, um israelense e três franceses. Cinco garrafas de vinho rosé foram consumidas. Um brasileiro de origem armênia, um canadense de origem italiana, o israelense que pode assumir a nacionalidade que quiser, dois francesinhos com caras de alemães e o americano loirinho de cabelos longos, filho de pais cubanos e a cópia exata do Tazio (personagem do livro Morte em Veneza de Thomas Mann filmado por Visconti). Um único francês com cara de francês (não me pergunte como posso afirmar isso, mas com a quantidade de vinho rosé no sangue, posso afirmar qualquer coisa). Quem vê cara não vê coração. É isso? Mas todo mundo vê primeiro a cara para depois chegar ao coração. O Tazio que desminta essa história.

Outra coisa que aparentemente saiu de cena é a diferença entre culturas e modos vivendis desses rapazes urbanos que vivem em diferentes países. Esses garotos de quem falei acima, usam uma só lingua para se comunicar, se vestem igual, pensam igual, riem igual, ouvem a mesma música e seguem o mesmo padrão de comportamento. As diferenças se ainda existem, não são percebidas facilmente. Acho ruim. Perdemos todos com a globalização comportamental. Mas acho que desse mar de iguais, vai sair peixe grande. Como a personalidade também se horizontalizou, as chances de surgirem novas ovelhas negras aumentou. E para quem ainda não sabe, todos os movimentos que ajudaram o homem chegar até onde chegou, começaram com a inquietação dessas ovelhas desgarradas. Assim espero.

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