2.6.10

VONTADES

Hoje no vagão do trem do metrô quando voltava para casa ouvi duas garotas discutindo. Não deviam ter mais do que 13 ou 14 anos. Uma acusava a outra de ser incoerente, de ter mudado de opinião, disse que se sentia traída pela amiga, que não poderia mais confiar na outra. Não sei qual foi o tema/motivo da discussão, mas gostei quando a acusada respondeu que por ela tudo bem, não se importava em ser incoerente e de mudar de opinião. “Tudo bem” ela disse, “melhor assim, mudo quase toda hora de opinião mesmo, não tenho tantas certezas como você, e quer saber? acho que sou muito mais feliz por ser assim do que você, que tem tanta certeza de tudo e está sempre com a cara amarrada.” Me deu uma vontade de me intrometer na briga das duas e apresentar Metamorfose Ambulante do Raul Seixas para elas.

Uma passagem do livro do Roth que mencionei no post anterior me fez voltar a ela todo o tempo e ainda ocupa os meus pensamentos. É a seguinte: “Faça um momento apenas. Estamos trabalhando só com um momento. Trabalhe com o momento, trabalhe com o que funcionar com você neste momento, e aí passe pro próximo. Aonde você está não importa. Não se preocupe com isso. É só ir trabalhando cada momento a cada momento. O negócio é estar naquele momento, sem pensar no resto e sem pensar aonde você vai depois. Porque se você conseguir fazer um momento funcionar, você vai pra onde quiser”. É isso. Você que é editor ou costuma fazer revisões de texto, teria deixado passar a repetição da palavra momento por oito vezes se não soubesse o nome do escritor? Aha, sim a repetição nesse caso é necessária para poder expressar melhor o pensamento. Está bem. Apesar dos excessos, vou fazer um exercício e tentar converter o que ele disse em mantra.

E para o feriado deixo um pensamento do Fernando Pessoa para reflexão:

“As coisas sonhadas só têm o lado de cá... Não se lhes pode ver o outro lado... Não se pode andar à roda delas... O mal das coisas da vida é que as podemos ir olhando por todos os lados... As coisas de sonho só tem o lado que vemos... Têm amores só puros, como as nossas almas.”

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