Ficou para trás o ano letivo. Validei o Máster 1 na terça feira e isto foi o bastante para eu dizer a mim mesmo que não quero mais do que isso. Não vou fazer o segundo ano. Não me interessa me transformar em técnico de literatura, quero escrever e estava enlouquecendo por estar quase um ano engessado pela falta de tempo e obrigação de estudar. Foi bom? Oui, foi muito bom. Aprendi muito com alguns dos professores da Sorbonne, com outros me decepcionei, mas novamente aprendi muito mais sobre mim mesmo e meus limites do que qualquer outra coisa. Bastou acabar o curso para voltar a meus textos. Voltei a trabalhar num novo livro de contos que está pela metade e no romance que comecei a escrever aqui em Paris. É isso o que quero, o resto estava invadindo tudo. Ler e escrever. Contar minhas histórias e não analisar a literatura do ponto de vista disso ou daquilo, mas, capítulo encerrado. Estudar depois de ter saído da universidade há mais de vinte e cinco anos, freqüentar aulas ministradas em outra língua, escrever a monografia em outro idioma, sobre um tema difícil (novas tecnologias e o papel do escritor), imagine o quanto isso me estressou. Chega. Deu para voltar mais inteligente na próxima encadernação.
Ontem comprei o último livro da Siri Hustvedt que saiu por aqui. O título traduzido do francês para o português seria “Um verão sem homens” Como gosto do jeito que essa mulher escreve! Eu mergulho rapidinho nas suas histórias, Hustvedt é sempre delicada nas descrições e de uma sensibilidade que me toca profundamente. Dessa vez ela conta a história de Mia, uma poeta que cai em depressão e enlouquece quando o marido diz que eles precisam de uma pausa no casamento. Ele, um cientista que está tendo um romance com uma colega de trabalho vinte anos mais jovem. Ela faz a gente visitar a memória de seus personagens, compreender seus universos particulares, memórias de amores, de infâncias, o passado e o presente se misturam numa narrativa rica e emocionante. Um belíssimo livro novamente, mesmo que menos denso que “O que eu amava”, para mim seu melhor romance. Bom, fica aí uma dica de leitura para as férias de inverno (no Brasil, porque aqui quase torrei com o calor nos últimos três dias).
Numa cidade como Paris, onde o espaço público é usufruído na sua totalidade pelo cidadão o uso do celular pode se revelar uma das coisas mais invasivas e irritantes. É quase insuportável (digo quase porque ainda não peguei e joguei no chão o celular de ninguém, ainda, porque vontade não me falta). Você é incomodado com a conversa alheia no metrô, na rua, nas lojas, nos restaurantes, nos cinemas e também quando está caminhando. O que está acontecendo com as pessoas? Por que elas estão falando tão alto e contando suas vidas particulares publicamente? Agora com os foninhos de ouvido, a coisa piorou, as pessoas gesticulam, gritam e gargalham enquanto caminham parecendo um bando de gente louca. Você vai me perguntar, o que você tem a ver com isso, ignore. Não dá para ignorar quando você está almoçando e na mesa ao lado o casal, cada um com o seu celular, está falando ao mesmo tempo num tom de voz nada particular e contando suas histórias intimas entre um sushi e um sashimi. Pois é. Já contei de uma cena que presenciei no metrô, onde um dos passageiros começou a aplaudir o débil mental que falava ao celular e pediu para que todos aplaudissem. Hoje no restaurante japonês onde eu almoçava, um senhor levantou de sua mesa e reclamou com o casal de mesa ao lado. E não é que o casal se sentiu ofendido. Estupefatos eles olharam para mim como se dissessem “você viu que ele pediu para a gente desligar os nossos celulares?”, eu não titubeei, apoiei o senhor que reclamou, disse simplesmente que ele tinha razão. Pensei que eles fossem me matar, mas funcionou. Eles desligaram os celulares e o restaurante deixou de ser uma feira e voltou a ser um restaurante. Foi tão bom, uma sensação de paz inenarrável, depois da bronca só dava para ouvir os hashis se tocando. O casal exibicionista comeu e saiu olhando feio para todo mundo. Ora, não sou nem a Glorinha Kalil nem a Danuza Leão para ficar dizendo o que é chique e o que não é, mas tenha a santa paciência, falar alto já é de quinta, no celular então é o quinto dos infernos!
Ontem comprei o último livro da Siri Hustvedt que saiu por aqui. O título traduzido do francês para o português seria “Um verão sem homens” Como gosto do jeito que essa mulher escreve! Eu mergulho rapidinho nas suas histórias, Hustvedt é sempre delicada nas descrições e de uma sensibilidade que me toca profundamente. Dessa vez ela conta a história de Mia, uma poeta que cai em depressão e enlouquece quando o marido diz que eles precisam de uma pausa no casamento. Ele, um cientista que está tendo um romance com uma colega de trabalho vinte anos mais jovem. Ela faz a gente visitar a memória de seus personagens, compreender seus universos particulares, memórias de amores, de infâncias, o passado e o presente se misturam numa narrativa rica e emocionante. Um belíssimo livro novamente, mesmo que menos denso que “O que eu amava”, para mim seu melhor romance. Bom, fica aí uma dica de leitura para as férias de inverno (no Brasil, porque aqui quase torrei com o calor nos últimos três dias).
Numa cidade como Paris, onde o espaço público é usufruído na sua totalidade pelo cidadão o uso do celular pode se revelar uma das coisas mais invasivas e irritantes. É quase insuportável (digo quase porque ainda não peguei e joguei no chão o celular de ninguém, ainda, porque vontade não me falta). Você é incomodado com a conversa alheia no metrô, na rua, nas lojas, nos restaurantes, nos cinemas e também quando está caminhando. O que está acontecendo com as pessoas? Por que elas estão falando tão alto e contando suas vidas particulares publicamente? Agora com os foninhos de ouvido, a coisa piorou, as pessoas gesticulam, gritam e gargalham enquanto caminham parecendo um bando de gente louca. Você vai me perguntar, o que você tem a ver com isso, ignore. Não dá para ignorar quando você está almoçando e na mesa ao lado o casal, cada um com o seu celular, está falando ao mesmo tempo num tom de voz nada particular e contando suas histórias intimas entre um sushi e um sashimi. Pois é. Já contei de uma cena que presenciei no metrô, onde um dos passageiros começou a aplaudir o débil mental que falava ao celular e pediu para que todos aplaudissem. Hoje no restaurante japonês onde eu almoçava, um senhor levantou de sua mesa e reclamou com o casal de mesa ao lado. E não é que o casal se sentiu ofendido. Estupefatos eles olharam para mim como se dissessem “você viu que ele pediu para a gente desligar os nossos celulares?”, eu não titubeei, apoiei o senhor que reclamou, disse simplesmente que ele tinha razão. Pensei que eles fossem me matar, mas funcionou. Eles desligaram os celulares e o restaurante deixou de ser uma feira e voltou a ser um restaurante. Foi tão bom, uma sensação de paz inenarrável, depois da bronca só dava para ouvir os hashis se tocando. O casal exibicionista comeu e saiu olhando feio para todo mundo. Ora, não sou nem a Glorinha Kalil nem a Danuza Leão para ficar dizendo o que é chique e o que não é, mas tenha a santa paciência, falar alto já é de quinta, no celular então é o quinto dos infernos!