4.7.11

AMIGO TEMPO

Nesse trecho, a única voz que escutamos é a nossa. O som dos nossos passos serve como marcador de ritmo e presença, a noção de direção fica prejudicada. Caminhamos. Na companhia do tempo. Corredores do labirinto. Procuramos saídas. O gps está nas mãos dele. Os dias são longos. As noites curtas. Não há senha de acesso.

A loucura é um estado de intensa absorção em si mesmo. Não há contornos, não há sombras, não há diferenças entre o interior e o exterior. É preciso todo o esforço do mundo para se reconhecer e saber onde se está. A cura, quando possível, se dá quando permitimos que uma parcela do mundo exterior, pessoas ou objetos, ultrapasse e nos transporte de um lado para o outro.

Eu senti uma distensão dentro da minha cabeça,
Como se meu cérebro tivesse rompido
Eu tentei repará-lo – uma borda à outra
Mas não consegui mais juntá-las
Emily Dickinson

Pode essa cisão. Não ser a loucura, mas a cura. Novos territórios, nova cartografia. Nova organização física, ajustamento da mente. Limites. O que não coube numa borda pode estar contida na outra. No tempo.

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