15.7.11

PARTES DE UM TODO


Vamos começar por partes. Não. Não sei dividir em partes o que é um todo. Na minha cabeça um evento cotidiano aparentemente insignificante pode gerar tsunamis assassinos e botar abaixo anos de trabalhos dedicados a construção de uma mente saudável. A loucura. Ela está sempre presente. Mesmo que apenas como antônimo de sanidade. Instante. Ilusão. O que é real?

Vi duas exposições. As duas me atraíram pelo lado emocional. A primeira entrou por acaso no meu percurso de volta para casa. Descobri o Centro Cultural Gulbenkian aqui em Paris. Ele fica na casa em que a família morou antes de se mudar definitivamente para Portugal. Vê-se sua trajetória, o que fez, com quem casou, onde morou e pouquíssima coisa de sua coleção particular (hoje em Portugal). Mas logo na entrada, um Francesco Guardi que eu não conhecia já valeu a visita. Ninguém visitava o local no momento em que eu estava lá. Sentei, vi o documentário entrevista com o neto do Gulbenkian, descansei da longa caminhada e fui embora. Os armênios são bons anfitriões. Sempre. Faltou o café e alguma prima ou tia para ler a borra, mas a casa me acolheu. Ainda no caminho de volta entrei na galeria de arte Gagosian. Queria ver os retratos de escritores do fotógrafo Richard Avedon. Bons. Muito bons. Mas poucos. Queria ver mais. Sai de lá com a sensação de que não me mostraram tudo. Galerias de arte tem essa coisa compromissada com conceitos estéticos. Eu estou começando a ficar alérgico a esses conceitos. As fotos dos retratos não são acompanhadas com os respectivos nomes. A maioria dos escritores expostos é conhecida, outros não, não teria sido mais inteligente identificá-los. A assinatura Avedon é mais importante do que o reconhecimento da personalidade registrada?

Encontrei-me com uma amiga ontem a tarde para tomar um café. Escolhemos o Café Beaubourg ao lado do centro com o mesmo nome pela praticidade, já que no meio do caminho de nossas casas. Já falei dos garçons bonitinhos mas ordinários que trabalham lá. O Café não tem mais nada de chique, e agora no mês de Julho está tomado por turistas que são enxotados de lá quando querem comer seus sandwiches comprados em outra esquina e pedem um expresso para acompanhar. Não pode. Pas ici gentalha. Vai comer seu sandwiche barato em outras paradas, não aqui. Pois ontem dois dos garçons/modelos/boys/bundinhas arrebitadas trabalhavam no mesmo horário. Um deles, o da bundinha ainda mais arrebitada que o outro estava para lá de dispersivo. Equivocou-se por duas vezes ao trazer nossos pedidos. Minha amiga não perdeu tempo, disse, olho no olho: se errar na próxima, vou passar a mão na sua bunda. Os cafés vierem logo em seguida. Corretamente.

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