12.2.05

EM EXTINÇÃO.









Vou começar devagar. Falo baixinho. Sussurro.
Sou uma porcelana. Uma peça raríssima. Biscuit.
Ao meu redor hipopótamos, rinocerontes, elefantes.
Eu. Solitária. Ilhada. E com medo. Muito medo.
Ciente da situação. Um esbarrão e pronto.
Deixo de existir.
Eles nem vão notar o estrago. Estrago? Que estrago?
Não represento nada. Nem sabem o que sou.
O que diriam de mim? E quem sou eu mesma?
Não sei. Estou perdida. No meio de tantos, ah tantos, tantos...
Animais pesados. Brutamontes enormes e barulhentos.
Perdi todas as minhas referências.
Sei que me consideravam sublime. Não faz muito tempo.
Elegantemente simples. Refinada.
Era admirada por todos. Tocada d-e-l-i-c-a-d-a-m-e-n-t-e.
Por todos. Mas isso é passado. E o que é o passado?
Para eles? O passado? O que é isso? Pode comer?
Sobrevivo. Pequenina. No meio deles. Ilhada.
Ouço o som de suas batucadas. Vejo o requebrado vulgar.
As risadas. Os arrotos e o ruído do palitar dos dentes.
Sou uma sobrevivente. Peça única. Exemplar.
Sobrevivo por um acaso. Por instinto.
E porquê são altos demais. Fortes demais. Grandes demais.
Não me notam. Não me vêem. Não me percebem.
Eu. Pequenina porcelana delicada quase nem respiro.
Paciente. Espero a manada passar. Vai passar.
Eu sei. Tudo passa. E a manada vai passar também.

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