22.2.05
QUERIDINHAS.
No caminho, entre o shopping e o apê,
Ela preferiu carregar Kika no colo.
Não queria que ela sujasse as patinhas.
Kika agradeceu lambendo-lhe o pescoço
e o rosto. As duas eram levinhas.
Kika, assim como Ela, comia muito pouco.
Exceto nas vezes em que Ela resolvia comer
chocolates. Aí sim Kika ultrapassava Ela na
quantidade. As duas se lambuzavam.
Dividiam bombons e, algumas horas depois,
também a dor de barriga. Ela corria ao banheiro.
Kika por sua vez, era obrigada a esperar.
Assim que Ela se sentia aliviada, era a vez de Kika.
As duas corriam para a rua e Kika se aliviava tão logo
botava as patinhas na calçada. Um ritual quase
catártico, no sentido psicanalítico da palavra.
Depois tanto uma como a outra
não queria ouvir falar de chocolates. Uma voltava
para suas folhas de alface, e a outra para sua ração.
Um horror dizia Ela para si mesma enquanto Kika
abanava o rabinho. Mantinham segredo sobre isso.
Ninguém deveria saber. Nem mesmo Janete, a cabeleireira.
Janete é boa profissional, mas fala demais, elas costumavam
comentar entre si. E hoje era dia dela vir no apê.
Cuidariam da aparência. E Janete era boa nisso.
Deixaria as duas prontas para a exposição pública.
Fariam cabelos e unhas. Uma esperaria pela outra.
Antes de começar o trabalho, serviriam biscoitos a Janete.
Ela os adorava. Dizia serem os mais crocantes que
já comera em toda a sua vida.
Kika abanava o rabinho de tão feliz.
Era verdade. Não havia no mundo
biscoitos tão saborosos como aqueles.
Ela, dizia serem importados. Um amigo trazia do
Duty Free. Janete ficava impressionada.
Mastigava-os ainda com mais prazer.
Kika por sua vez sabia que eles saíam de
dentro de seu saco de ração.
Mas tudo bem. Não se importava com pequenezas.
Afinal, Ela também dividia seus chocolates com ela.
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