Uma nuvem negra entrou no meu caminho. Não sei como, quando vi eu já estava dentro. E então alguma coisa me puxa sempre para dentro, como se o centro da força da gravidade se localizasse no interior do meu cérebro. Não há saída. Os anos de convivência com essa nuvem, que está sempre indo e vindo de algum lugar para onde ela vai quando sai do meu caminho, me ensinaram que o melhor é esperar ela resolver ir embora. Não quero mais medir forças com ela. Mesmo porque se eu começar a interrogá-la, ao invés de respostas encontrarei ainda mais perguntas, e esse monte de por quês se multiplica e a coisa fica ainda pior. Então fico quieto. Não falo. Penso em fogo baixo. Fico pequeno. Lambo uma ferida aqui e outra acolá. Olho para mim com desconfiança. Escrevo. Leio. Escrevo e leio. Ataco os farináceos. Depois os laticínios. Inspiro e solto o ar pela boca para ver se o ventinho que sai de dentro de mim acorda a dona nuvem e ela se toca de ir embora. Não há saída. Estou dentro dela. Vou esperar.
Fui ver outro filme da mostra. Desta vez um argentino/mexicano chamado “El Bosque”. Direção de dois guapos chamados Pablo Siciliano e Eugenio Lassere. Li naqueles livros que ficam sobre os balcões em frente as salas dos cinemas que eles foram premiados na Argentina. E são bons. O filme tem apenas três atores, que como sempre nos filmes argentinos dão conta do recado. Não conheço nada da escola Argentina de interpretação, mas acho eles muito bons. Me convencem sempre. Se vestem com a pele dos personagens e acreditam. O filme mantém o suspense do início ao fim. Sempre no limite. Alguma coisa vai acontecer, a gente sabe desde o início, mas somos conduzidos a esperar até o final para ter certeza de que aquilo que imaginamos que acontecerá (para mim aconteceu esse insight no meio do filme) realmente acontecerá. Certamente o filme foi feito com baixos custos, mas nem por isso ele se mostra pobre. Entramos no bosque, sentimos medo. Saímos do bosque e entramos na casa e sentimos medo. Trilha sonora muito boa. O final para mim foi previsível, porque no meio do filme imaginei que ele terminaria da maneira como terminou, mas isso não incomoda, não frustra e não tira o mérito dos diretores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário