29.6.09

EREMITA URBANO

Não raro passo os finais de semana inteirinhos dentro de casa. Minha mãe me telefona e pergunta se estou doente. “Mas vai almoçar sozinho?” Vou. Faço meus almoços deliciosos, cozinho, abro vinhos e os bebo com prazer, não tenho problemas do tipo, “ não vou cozinhar para mim sozinho”. Cozinho para mim sozinho. Confesso que às vezes penso que estou me transformando num eremita urbano. Entro na quinta ou sexta em casa e só saio na segunda. Não tenho vontade de sair. Prefiro ficar em casa lendo, escrevendo ou vendo filmes. No último sábado um amigo me convidou para ir ao teatro. Fui. Gostei (vide post abaixo). Depois saímos para jantar e como para ele somente jantar não era suficiente, eu o acompanhei até um bar porque ele queria tomar alguma coisa. Não o via há algum tempo e de tanto ouvir as pessoas falarem desses bares sempre muito interessantes e suuuuuuper freqüentados eu me animei. Enquanto entrávamos nos lugares barulhentos, pensava na minha casa silenciosa. A vontade de sair correndo foi crescendo a cada novo minuto. Acho que ainda tinha na lembrança outros bares e outras gentes. Uma visão geral do lugar: gente feia, bêbada, falando (gritando seria melhor para descrever) e gargalhando histéricas. Acho que desconectei. Não consigo, nem quero conseguir sociabilizar desse jeito. Conversamos sobre a razão das pessoas que conhecemos estarem todas encapsuladas em seus apartamentos, cada vez mais solitárias, não dispostas a conviver e etc... Falamos sobre as novas maneiras de se comunicar, e-mails, msns e etc, que dão a impressão de aproximar as pessoas, mas que na verdade acabam distanciando. Sou um deles. Também não encontro respostas concretas para o meu atual eremitismo. No meu caso não acho que tem a ver com a cidade, a violência urbana ou com a criminalidade, acho que é muito mais um cansaço com o perder tempo fazendo coisas ou conhecendo pessoas desinteressantes. Não agüento a aderência fácil aos modismos e a grupo de pessoas que desenvolvem perfis muito rápidos e semelhantes sobre como se deve pensar e agir para se sentir incluído. Não tenho necessidade de me sentir incluído a qualquer preço. Já era tarde quando voltei para casa. Antes de dormir li algumas páginas do “Indignação” do Philip Roth para compensar o tempo que havia ficado longe de casa. Feliz por ter visto meu amigo e assistido ao “Hilda Hilst”, e satisfeito com minha condição de eremita urbano.

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