Cada vez mais acredito no acaso como um conjunto de causas com propósitos pré-determinados. Imprevisível sim, mas não sem propósitos. Não perceber a relação entre eles e o fim por eles determinado, faz parte do plano. Não sei de quem, mas tem que ter um plano inteligente por trás. Algo bem low profile, que não gosta de aparecer, mas que sente um prazer desgraçado enquanto os constrói.
A moradora do apartamento abaixo do meu é uma viúva já de idade bem avançada que vive só. Segundo o zelador, ela tem duas filhas, mas elas não vêm visitá-la. Tem uma irmã que também não vem visitá-la. Passa os dias praticamente sozinha dentro de seu bunker. Entra e sai do elevador sem sequer olhar para nosso rosto. Não fala. Não encara. Praticamente não respira. Passa por você sem dizer bom dia ou boa tarde. Tem cara de jiló seco. Hoje a tarde ela tropeçou na frente do prédio e eu instintivamente corri para socorrê-la. Quando conseguiu ficar de pé, não olhou para mim, não fez sequer um gesto de agradecimento, me deu as costas e entrou no prédio como se o espírito santo a tivesse ajudado a se levantar. Respirei fundo. Tudo bem, não me incomodo em fazer o papel de espírito santo. Não precisa agradecer. Teria me feito muito mal não tê-la socorrido. Mesmo porque não sei a razão de sua imensa amargura, mas reconheço em seu corpo e em sua face muitas fragilidades. Talvez tenha desaprendido a falar. Depois de alguns minutos me recompondo de sua queda, dei meia volta e subi para lavar as mãos.
A moradora do apartamento abaixo do meu é uma viúva já de idade bem avançada que vive só. Segundo o zelador, ela tem duas filhas, mas elas não vêm visitá-la. Tem uma irmã que também não vem visitá-la. Passa os dias praticamente sozinha dentro de seu bunker. Entra e sai do elevador sem sequer olhar para nosso rosto. Não fala. Não encara. Praticamente não respira. Passa por você sem dizer bom dia ou boa tarde. Tem cara de jiló seco. Hoje a tarde ela tropeçou na frente do prédio e eu instintivamente corri para socorrê-la. Quando conseguiu ficar de pé, não olhou para mim, não fez sequer um gesto de agradecimento, me deu as costas e entrou no prédio como se o espírito santo a tivesse ajudado a se levantar. Respirei fundo. Tudo bem, não me incomodo em fazer o papel de espírito santo. Não precisa agradecer. Teria me feito muito mal não tê-la socorrido. Mesmo porque não sei a razão de sua imensa amargura, mas reconheço em seu corpo e em sua face muitas fragilidades. Talvez tenha desaprendido a falar. Depois de alguns minutos me recompondo de sua queda, dei meia volta e subi para lavar as mãos.
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