16.11.09

TIRANDO O CHAPÉU


Não posso provar o que vou afirmar agora, mas eu já tinha pensado no que o Moacyr Scliar escreveu em sua resenha na Folha sobre o livro do Amós Oz “Cenas da vida na aldeia”. Não me lembro agora exatamente de sua afirmativa, mas afirmou que para escrever um livro como esse o escritor tem que ser muito bom e ter anos de vida nas costas. Pois quando comecei a ler o terceiro conto intitulado “Os que cavam” pensei a mesma coisa. Puxa como esse cara sabe contar suas histórias! Porque o texto é muito bom. A maneira de narrar e descrever o personagem Pessach Kedem, velho ranheta e amargo, político que amaldiçoa Deus e o mundo e ainda tem tempo para encher o saco da filha, é excepcional. São necessários muitos anos de observação para poder construir com tanta maestria a personalidade desse velho e de outros personagens desse livro de contos. Enquanto lia os contos, eu podia vê-los, e podia também entender perfeitamente a geografia da aldeia, a paisagem por ele denominada toscana israelense, os ventos e os cheiros do lugar, como se eu estivesse lá vendo e ouvindo tudo. Você percebe que ele não tem pressa para terminar de contar suas histórias, os lugares são muito bem descritos e os personagens conversam não apenas entre eles, mas também com o leitor. Talvez também por se tratar de histórias narradas numa aldeia, um lugar que nos dá a impressão de ter ritmo próprio, longe do tipo de vida que vivemos em nossas cidades, onde velhos são realmente velhos, professores têm perfil de professores, tias e sobrinhos têm jeitão de tias e sobrinhos, sem nenhuma artificialidade desnecessária, tudo isso contribui para a qualidade do livro. Mas sem a experiência vivida, os ouvidos calejados, e os olhos desgastados, assim como Scliar, também acredito que não seria possível contar tão bem a história da vida dessas pessoas. Leiam, porque é bom.

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