Bem próximo de onde moro fica a Maison Europeenne de La Photographie. Sempre que estou aqui dou uma passada para ver o acervo permanente e se há alguma exposição interessante. Até 4 de abril a Maison está expondo fotos de três fotógrafos de abordagem e temática completamente distintas. Sarah Moon que fotografou o teatro real de Torino, Philip Bordas que além de fotógrafo é também escritor e que ocupa todo o segundo andar com suas fotos sobre os boxeadores africanos e também do encontro com o escritor autodidata africano Frédéric Bruly Bouabré, que ele registrou traduzindo toda a poética e misticismo do escritor, que se descobriu escritor através de uma anunciação divina e se pôs a inventar uma escritura africana inspirada na leitura de pedras ( o escritor era analfabeto até o momento que recebeu a mensagem divina, uma “viagem” difícil de compreender, mas muito instigante). E Elliot Erwitt, fotógrafo nascido em Paris em 1928, filho de russos que aos 10 anos se muda com os pais para os EUA e aos 16 é abandonado pelos dois que se separam. Três exposições completamente diferentes, que dialogam apenas pela qualidade dos fotógrafos, e por isso mesmo, cada uma está exposta em um andar diferente, e que não consigo imaginar outra forma de expô-las ao mesmo tempo. As fotos de Elliott Erwin se contrapõem as de Bordas pela riqueza de tipos urbanos, são incrivelmente bem editadas e em muitas delas você não consegue deixar de rir por causa das situações registradas. Por exemplo, num concurso do mais belo nudista (isso existe no interior dos EUA), ele fotografa um sujeito nu de costas para a lente e de frente para duas senhoras sobriamente vestidas que fazem parte do júri. O registro do sorriso constrangido e ao mesmo tempo interessado das duas é flagrante e demonstra o olhar sensível e rápido de Elliot. Em outras ele fotografa cães e seus donos, cortando a foto na altura dos pés do dono posicionados ao lado dos pequeninos cães. Há uma foto belíssima em preto e branco de sua primeira mulher com o recém nascido filho, ambos deitados sobre a cama, ela dormindo com apenas um peito de fora e o bebê fixando a mãe. A foto é dos anos 50, e nos transmite uma doçura que nenhuma palavra conseguiria transmitir. São muitas as fotos que registram uma dramaticidade que dispensa palavras, Jackie Kennedy no dia do enterro do marido, o registro da dor em seu rosto, Nixon quase que enfiando o dedo na cara de Kruchov que parece estar dizendo “vá se f....”, e etc... O moço está vivo, registrou a campanha de Obama.
Falando de fotógrafos e África, vale a pena conhecer a obra de Hans Silvester. Fotógrafo alemão radicado em Provence há quase três décadas. Pelo menos alguma foto dele qualquer um de nós já viu por aí. Em seu último livro ele documentou o povo que vive em torno do rio Omo na Etiópia. Um trabalho belíssimo, que foge a qualquer tipo de clichê e banalidade, registro de uma gente que pinta seus corpos e decora suas cabeças há milênios para ir a caça e para se esconder e não virar a própria caça. É difícil pensar em África sem fazer ligações com imagens que a gente pensa compreender do continente. Hans Silvester nos mostra o homem e sua cultura ainda intacta. Registra o povo com uma proximidade quase íntima, parece estar muito próximo mentalmente do que fotografa. Tive a oportunidade de conhecê-lo, e o privilégio de ver as fotos de seu novo livro que ainda está sendo preparado. O novo livro que será lançado até o final de setembro vai novamente abordar o tema África, só que dessa vez ele fez retratos com pessoas de todos as camadas sociais e as registrou enquadradas pelo batente de uma janela. Um documento da intimidade dessas pessoas. Hans trabalhou por muitos anos para National Geografic, na década de 60 registrou o norte do Brasil, Amazonas, Pará e etc... Na conversa ele me confidenciou que ainda guarda na lembrança uma cerimônia religiosa num terreiro de candomblé. Seus olhos brilhavam enquanto me descrevia as cenas do ritual. O homem é bom, sua vida está em seus olhos. Abaixo algumas fotos de seu último livro.
Falando de fotógrafos e África, vale a pena conhecer a obra de Hans Silvester. Fotógrafo alemão radicado em Provence há quase três décadas. Pelo menos alguma foto dele qualquer um de nós já viu por aí. Em seu último livro ele documentou o povo que vive em torno do rio Omo na Etiópia. Um trabalho belíssimo, que foge a qualquer tipo de clichê e banalidade, registro de uma gente que pinta seus corpos e decora suas cabeças há milênios para ir a caça e para se esconder e não virar a própria caça. É difícil pensar em África sem fazer ligações com imagens que a gente pensa compreender do continente. Hans Silvester nos mostra o homem e sua cultura ainda intacta. Registra o povo com uma proximidade quase íntima, parece estar muito próximo mentalmente do que fotografa. Tive a oportunidade de conhecê-lo, e o privilégio de ver as fotos de seu novo livro que ainda está sendo preparado. O novo livro que será lançado até o final de setembro vai novamente abordar o tema África, só que dessa vez ele fez retratos com pessoas de todos as camadas sociais e as registrou enquadradas pelo batente de uma janela. Um documento da intimidade dessas pessoas. Hans trabalhou por muitos anos para National Geografic, na década de 60 registrou o norte do Brasil, Amazonas, Pará e etc... Na conversa ele me confidenciou que ainda guarda na lembrança uma cerimônia religiosa num terreiro de candomblé. Seus olhos brilhavam enquanto me descrevia as cenas do ritual. O homem é bom, sua vida está em seus olhos. Abaixo algumas fotos de seu último livro.