Não gosto do carnaval em nenhum formato. Nem da maneira como é festejado no Brasil, nem em outros países. Conheço a festa como é festejada na Áustria, um fiasco muito mais parecido com um desfile fúnebre, conheço o de Colônia na Alemanha, um pouco mais engraçado, mas nem por isso cheio de graça com seus festivais de piadas, e conheci o de Paris hoje, gatos pingados que se pintam ou colocam perucas coloridas e vão trabalhar ou saem nas ruas demonstrando que estão festejando. Hoje de manhã, no metrô, foi constrangedor ver alguns usuários vestidos de terno e usando um nariz de palhaço, ou moças de tailleur cinza escuro e óculos pink ou perucas vermelhas. Enfim, não consigo achar graça nem me motivar. Mas tenho muitos amigos que se divertem ou desfilam em escolas de samba. De qualquer forma não sinto a menor falta do Brasil nessa época. Não teria viajado porque todos os lugares estariam cheios, e ficar em São Paulo poderia ser um convite para o tédio, então... vamos falar de arte, música e cultura que é o melhor remédio para pessoas como você e eu que precisam de um pouco mais para se divertir. No sábado fui assistir uma avant-première do musical “A Little Night Music” no Châtelet. O que vou dizer não vai agradar muita gente, mas não nasci para agradar muita gente, então aí vai: musical para mim é como um pirulito vagabundo e sem gosto, você compra por causa das cores e quando começa a chupar se decepciona porque descobre que por trás das cores não tem gosto nenhum. Lógico tem exceções, que eu sinceramente não estou a fim de discorrer. “A Little Night Music” foi musicado por Stephen Sondheim, e estreou em 1973 em New York. A primeira parte do musical demora muuuuuuito até que você descubra quem é quem, e depois de uns vinte minutos a peça parece que não vai se desenvolver, mas depois ela se encaixa e vai. A principal canção está na segunda parte e até ela chegar você já sabe tudo o que vai acontecer porque tudo é muito óbvio. E caricato. E raso. E, ai que sono. Quando comparo com qualquer Ópera, por mais bufa e dramalhona, percebo quão profunda ela pode ser perto de um musical. A começar pela intensidade dramática, depois, o texto menos açucarado, que pode até ser fraco ou ingênuo, mas em razão da qualidade da composição, do conjunto de vozes e da orquestra, você é engolido e esquece o que é ruim e seus sentidos absorvem somente as coisas boas. “A Little Night Music” tem como “grande dame” Leslie Caron, lembram dela? (Sinfonia de Paris, Gigi, Lili, O homem que amava as mulheres do Truffaut) Pois é, está inteira e canta e dança (só um pouquinho) e valeu tê-la visto em cena. Mas para mim deu, antes de morrer vou ver outro musical de novo, lógico que ele terá muitas malas (você já reparou que em todos os musicais há muitas malas e gente indo ou vindo de viagem?, também não sei por que, mas repare), vou pegar uma e vou me embora para o paraíso.
E na segunda feira a noite fui a Salle Pleyel ouvir Chopin pelas mãos do Daniel Barenboin. Um diálogo com Deus é pouco para descrever a emoção. O homem está em plena forma e Chopin não precisa de malas, nem de gelo seco, nem de gente dançando, basta um piano e alguém que saiba interpretar suas musicas. E como Barenboin sabe fazer uso de suas mãos! É bom dirigindo e é bom tocando. Silêncio total, sala lotada, seis bis e a platéia não queria ir embora. Uma saia justa: entre um bis e outro alguém resolveu tirar uma foto, prontamente Barenboin parou de tocar e chamou atenção da pessoa dizendo em alto e bom som o seguinte: “pare com isso! primeiramente foi dito que é proibido fotografar e depois, eu acho isso um exagero.” Não sei onde a pessoa enfiou a máquina de fotografar, mas espero que nunca mais tire de onde a colocou. Que mania é essa fotografar tudo o que se vê! E para que? Aqui nos museus você vê pessoas se posicionando ao lado das telas para serem fotografadas. Ouvi toda a primeira parte de olhos fechados e agradeci a Deus por ter dado vida a Chopin, a Barenboin e por meu par de ouvidos.
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