22.2.10

"ANDER" E TODOS NÓS

Semana passada duas ou três pessoas haviam me falado que eu deveria assistir um filme chamado “Ander”. Ontem no almoço o filme foi novamente o assunto, só que dessa vez quem fez críticas e dissertou sobre a história foi um amigo que vai quase que um dia sim e outro não ao cinema e que por isso mesmo tem uma visão mais crítica do assunto. Gostei de ouvi-lo. Outros dois presentes no almoço já haviam visto o filme, falaram tanto que o dono da casa acabou dizendo que até as cinco eles deveriam se mandar, porque ele também queria ver o filme. Apoiei sua decisão e disse que também iria na sessão das 19 horas. Lá fomos nós, Giusepe e sua boina basca, eu e minha casquette qualquer coisa. “Ander” que dá o título ao filme, é também o nome do personagem principal, um camponês que vive num vilarejo basco espanhol no final dos anos 90. Ander mora com a mãe viúva e a irmã que se casará em breve, está cercado de amigos broncos e de vez em quando se comporta como tal. Sua vida nada mais é do que previsível. A previsibilidade da vida daqueles que moram num vilarejo no meio do campo, onde nada acontece a não ser quando algo ou alguém de fora aparece para, querendo ou não, alterar o rítmo do lugar e das pessoas. É isso o que acontece quando Ander quebra a perna e precisa de alguém para substitui-lo nos trabalhos domésticos. Um trabalhador peruano é indicado por um amigo e passa a viver e conviver com a família. Não vou contar o resto do filme. Mas posso dizer que é um bom filme, que fala de uma maneira particular dos medos e angústias das pessoas solitárias (e das que se acreditam não solitárias e não angustiadas), de amor, desamor, de gente aparentemente rude. O filme foi feito por Robert Castón, um sujeito que organiza o festival internacional de filmes GLBTXYZ... ( x y z e pontinhos fica por minha conta, já que há mais diversidade entre o céu e a terra que a vã filosofia jamais conseguirá reduzi-la num único alfabeto) de Bilbao desde 2004. É seu primeiro longa, antes ele já fez alguns curtas. Na verdade a história do filme não me surpreendeu. Desde o começo a gente sabe que mudanças virão, mas a maneira como o filme foi feito é que o faz especial. A aridez do filme, suas cores frias amareladas, a câmara muitas vezes parada enquadrando a cena, silêncios entre os diálogos, olhares que dizem mais que palavras, tudo isso valoriza o filme, que no fundo é simples e sem riquezas de recursos, mas passional, mesmo que classicamente passional. Tudo isso faz o conjunto da obra e a qualifica como um bom filme, que nos faz lembrar de que dentro de nós a muitos sentimentos escondidos, outros esquecidos e outros que ainda nem foram descobertos, e que a qualquer momento podem nos assombrar. Bom filme.

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