17.5.10

DESCULPA AÍ MOÇO...

Queria tanto querer menos de tudo. Para mim e para os outros. Desejar menos. Não precisar ser super-herói, não pensar que a razão desse querer menos seja fruto de qualquer tipo de medo, acovardamento ou insucesso. Viver uma vida mais na beiradinha do mar, mergulhar no rasinho e logo voltar para a superfície, colocar a cabeça para fora d’água e respirar feliz. Queria também não ter mais vontade de saber a razão de tudo, os por quês e senãos, não me sentir tão responsável por minha felicidade e a dos outros. Só existir e ser o que dá para ser, importar-me com o que sou e desinteressar-me pelo que gostaria de ser. Eu sei, ficar no nível volitivo da evolução pode não ser de todo tão... tão..., olha moço, não sei quando foi, mas em algum momento da minha vida me sugeriram que eu deveria ambicionar e eu aceitei a sugestão. Acreditei não na matéria, mas no impalpável, no que não dá para ver a olhos nus (existem olhos vestidos?), no que não se compra nos shoppingscenters, no que não tem etiqueta nem código de barras. Por isso muitas vezes me sinto muito só e no lugar errado, e como se isso não bastasse, também no século errado. Você sabe em qual dos depósitos da Universal Studio abandonaram a máquina do tempo do filme “De volta para o Futuro”? Se souber me diga, quero que ela me sugue, me leve de volta para o meu tempo, para um lugar onde o conhecimento e o reconhecimento são uma única coisa, a palavra, a moeda de troca e a contemplação, uma forma de oração. Eu sei, o tal do nível volitivo é pegajoso, mas olha moço, estou quase chegando a conclusão de que quase tudo e quase nada é quase a mesma coisa. Tudo é relativo, depende do ponto de vista de cada um, e esse cada um hoje vale tão pouco que se bobear daqui a pouco todo mundo vai passar a se chamar Zé. Viu Zé, tá doendo aqui dentro, e eu não sei o que é e tô nem querendo saber. Num quero me esforçá. Quero ficá véio. Bem véio. Num ligá pra mais nada. Pode dá uns tapa na minha cabeça, me chama de bobo, tô nem aí. Só quero ficar olhando. Nem virar a cabeça eu quero mais. E quando eu fechar os olhos, tomara que seja para sempre.

Um comentário:

Lícia. disse...

Uai! então, sofre não moço.
Tá lindo isso querido, Parabéns e obrigada pelo deleite.
mais beijo.