7.5.10

SEGREDOS

Hoje bateu um cansaço daqueles que eu não tinha vontade de fazer nada. Quando morava na Áustria as pessoas diziam que conforme o Outono vai se aproximando do Inverno o corpo sente com mais intensidade as transformações climáticas. Aqui no Brasil meu corpo se ressente quando uma frente fria se aproxima. Gosto de acreditar que as reações perceptíveis do meu corpo são vestígios de uma outra época. Fico feliz por ainda guardar dentro dos códigos secretos do meu dna um pouco dos conhecimentos dos meus antepassados . Tempo em que não precisávamos de satélites e outros aparelhos de medições para perceber que ia chover ou fazer sol. A tecnologia trouxe inúmeras vantagens, mas por outro lado perdemos muito da sabedoria adquirida pela observação.

Vi um documentário na televisão francesa que mostrava uma ilha na escócia onde se fabrica o whisky de maneira artesanal. Não me lembro agora do nome da ilha, mas é um lugar lindo, com uma estrada única de apenas 600 km que a circunda. Um sujeito resolveu abandonar Londres com mulher e filho e reativar uma velha fábrica produtora da bebida. Todos os ingredientes para a feitura do whisky são fornecidos pelas terras da ilha, exceto o levedo. As pessoas são muito parecidas nesses lugares, gente campestre e simples, às vezes com uma aparência rude, mas orgulhosas por morarem na ilha. O documentário mostrou também uma senhora que dava aulas da antiga língua dos celtas para as crianças salvaguardando as tradições locais. Por último mostraram um
antigo cemitério, todo coberto de mato, onde o sujeito que abandonou Londres para fazer whisky procurava informações sobre uma família de sobrenome Montgomery que no século 19 chegou à ilha não se sabe de onde, a família viveu lá por 70 anos e desapareceu. Ninguém da ilha sabe dizer de onde vieram e para onde foram, e o sujeito com a voz embargada disse que seu retorno a ilha fechava um ciclo. Segredos dos celtas. Ou muito whisky nas veias.

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